Diante da polêmica sobre o larvicida Pyriproxifen, a prefeitura do Recife afirmou hoje (15) que nunca usou a substância para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika. O uso do Pyriproxifen foi suspenso pelo governo do Rio Grande do Sul no último sábado (13), sob a alegação de que a substância pode estar relacionada à ocorrência de microcefalia em bebês.
O Ministério da Saúde e o fabricante do larvicida já se manifestaram em defesa do produto, que é distribuído pelo governo brasileiro para o controle de vetores de doenças, entre eles o Aedes aegypti.
A capital pernambucana tem o maior número de notificações de nascimentos de crianças com suspeita de microcefalia em todo o país. São 258 bebês residentes no Recife registrados pelo serviço de saúde. Desse total, 40 foram confirmados, em 26 casos a malformação foi descartada. O restante está em investigação.
Até 2001, o Recife usava o larvicida Temefós e, a partir de 2002, passou a empregar um substituto biológico a base do Bacillus thuringiensis israelensis (BTI).
De acordo com Secretário de Saúde do Recife, Jailson Correa, depois que passou a ser possível comprar larvicidas por meio de licitação, a partir de 2009, a prefeitura optou por usar recursos próprios e continuar comprando o produto biológico e não usar mais o fornecido pelo Ministério da Saúde, que atualmente é o Pyriproxifen.
“A gestão e a prefeitura do Recife na época avaliaram que, considerando que Recife é uma cidade banhada por rios, seria adequado manter um larvicida biológico que tivesse menor impacto ambiental”, explica.
Segundo Correa, a aplicação do BTI faz parte das ações rotineiras dos agentes da prefeitura. O produto é colocado nos reservatórios de água da população ou em possíveis focos de reprodução do Aedes aegypti que são difíceis de ser eliminados. Após a aplicação, a substância tem 40 dias de ação.
Saiba Mais
Ao contrário da capital, vários municípios de Pernambuco utilizam o Pyriproxifen, o que levou a Secretaria Estadual de Saúde a também se manifestar sobre o assunto. Em nota, o órgão disse que “há casos de microcefalia em locais que não usam o larvicida Pyriproxifen há anos, como também em muitos locais onde seu uso é frequente não há registros de casos”.
A secretaria argumenta que o uso do Pyriproxifen é aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que não existem estudos epidemiológicos que comprovem a associação do produto com a “a microcefalia ou com qualquer efeito mutagênico, genotóxico, carcinogênico, teratogênico ou neurotóxico”.
Hoje, os mais de 7,7 mil militares enviados a Pernambuco para reforçar o combate ao mosquitoAedes aegypti já estão na rua fazendo visitas a casas e comércios e aplicando larvicidas em possíveis focos de reprodução do inseto. Desde dezembro, o trabalho dos agentes de vigilância ambiental já vinha sendo reforçado por membros das Forças Armadas.
Mal-entendido
A suspensão do Pyriproxifen no Rio Grande do Sul foi decretada com base em uma nota técnica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que, na avaliação do governo gaúcho, relaciona o produto com a ocorrência de microcefalia. No entanto, a entidade diz que houve um mal-entendido e que nunca associou o uso do Pyriproxifen à malformação.
“Está havendo um mal entendido. Na nossa nota técnica não colocamos essa relação em questão, ou seja, não dissemos que o larvicida está associado à microcefalia”, explicou àAgência Brasil o coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Abrasco, Marcelo Firpo.
Segundo Firpo, o que a entidade critica é o uso de substâncias químicas como principal estratégia de combate ao Aedes aegypti. Para a Abrasco, o foco do problema é outro: “As populações mais atingidas são justamente as mais pobres, com problemas estruturais de saneamento básico, de acesso à água potável. Consideramos um contrassenso sanitário, um absurdo a colocação de veneno larvicida na água potável”.
Segundo Firpo, ampliar investimentos em saneamento básico e distribuir equipamentos seguros para armazenamento de água são algumas das soluções necessárias para evitar a proliferação de criadouros do Aedes aegypti e outros vetores de doenças.
Agência Brasil
Passageiro relata os momentos de tensão dentro de avião incendiado
Poucas pessoas podem comemorar o fato de terem saído com vida de um avião incendiado para contar, em detalhes, o que acontece nesse ambiente onde, em meio a passageiros desesperados, comissários de bordo e pilotos tentam ter o controle da situação. Passageiro do Voo 1415, da Gol Linhas Aéreas – aeronave que teve a turbina incendiada nesse domingo (14) quando ainda fazia o taxiamento no Aeroporto de Brasília – o músico e diretor de vídeo Paulo Marchetti diz que a frase que sempre ouviu de um amigo nunca fez tanto sentido: “o melhor da vida é viver”.
Às 15h03, Marchetti enviou uma mensagem à irmã, que o aguardava em São Paulo. “Já estou no avião”. Seis minutos depois, às 15h09, uma nova mensagem, em tom bem mais tenso: "Pânico. Agora, controlado. Tava dando ré e alguma coisa pegou fogo". Às 15h10, mais mensagens. "Não sabemos o que vai acontecer ainda. Cheiro de queimado no avião".
Segundo o músico, foram necessários "mais dez ou, no máximo, 12 minutos" para que os passageiros fossem retirados da aeronave. “É tempo demais para quem viu as chamas na turbina e sabe que as asas dos aviões estão cheias de combustível”, disse.
Renascimentos
A experiência permitiu ao músico, que foi diretor da MTV Brasil entre 1993 e 2000, observar o que acontece em uma situação extrema onde muitos dos 145 passageiros do voo chegaram a acreditar estar em seus últimos momentos de vida. Ao mesmo tempo, viu como a tripulação se comporta em meio à tensão, ao nervosismo e à responsabilidade pelo controle da situação.
A experiência permitiu ao músico, que foi diretor da MTV Brasil entre 1993 e 2000, observar o que acontece em uma situação extrema onde muitos dos 145 passageiros do voo chegaram a acreditar estar em seus últimos momentos de vida. Ao mesmo tempo, viu como a tripulação se comporta em meio à tensão, ao nervosismo e à responsabilidade pelo controle da situação.
“Eu estava tranquilo, lendo a revista de bordo. As portas do avião já haviam sido fechadas e ele estava se deslocando para trás, taxiando. O piloto inclusive já tinha dito que a aeronave estava autorizada para fazer a decolagem. Andamos poucos metros; [durante] cerca de três segundos, quando o primeiro alerta foi dado por uma menina ruiva estrangeira que estava duas cadeiras à minha frente”, disse.
O músico estava no assento 27, retornando a São Paulo após lançar o disco de sua banda, chamada Filhos de Mengeli – banda de rock brasiliense dos anos 80 que está voltando à ativa após ter dado origem a um outro grupo bem mais famoso: os Raimundos. “Estou passando por uma sensação dupla de renascimento”, brinca, já recuperado do susto.
Gritos
O incêndio, segundo Marchetti, começou quando a aeronave estava dando ré. “De repente a ruiva e algumas pessoas disseram ter sentido um grande calor vindo de fora da aeronave e se afastaram da poltrona. O cheiro de queimado ficou bem forte. Olhei pela janela e vi a chama surgindo pertinho de onde estávamos. Como o avião é vedado, ninguém viu de imediato as chamas”.
O incêndio, segundo Marchetti, começou quando a aeronave estava dando ré. “De repente a ruiva e algumas pessoas disseram ter sentido um grande calor vindo de fora da aeronave e se afastaram da poltrona. O cheiro de queimado ficou bem forte. Olhei pela janela e vi a chama surgindo pertinho de onde estávamos. Como o avião é vedado, ninguém viu de imediato as chamas”.
No momento em que as chamas atingiram a altura da janela e ficou mais visível, o desespero foi geral. “Minha impressão foi de que o fogo começou devagar e, de repente, aumentou. Quando apareceu do lado de fora da janela, todos se assustaram e bateu o maior desespero. Todos que estavam do lado direito começaram a gritar e a correr em direção ao corredor. Deu até para perceber que a maioria dos gritos eram femininos e que não havia palavra de ordem. Apenas frases sem sentido e gritos”.
A primeira voz em que se ouvia alguém pedindo que as pessoas se acalmassem veio de um passageiro. “A gente então notou que, ao atingir a janela, o fogo começou a ser controlado, provavelmente pela equipe de terra. Isso foi bem rápido. Deve ter durado cerca de cinco segundos, após ter atingido seu ápice”.
Controle da situação
Com a diminuição das chamas, mais pessoas começaram a reforçar os pedidos por calma. “Foi nesse momento que o comissário, de uma forma bastante nervosa, pediu a todos que se sentassem. O jeito dele falar parecia com o de um policial dando uma ordem. Sem ainda dizer se a situação estava sob controle, ele adotou uma estratégia que me parecia adequada para aquela situação: fez uso de um tom bastante agressivo, mas no sentido de ser assertivo, na busca pelo controle da situação”.
Com a diminuição das chamas, mais pessoas começaram a reforçar os pedidos por calma. “Foi nesse momento que o comissário, de uma forma bastante nervosa, pediu a todos que se sentassem. O jeito dele falar parecia com o de um policial dando uma ordem. Sem ainda dizer se a situação estava sob controle, ele adotou uma estratégia que me parecia adequada para aquela situação: fez uso de um tom bastante agressivo, mas no sentido de ser assertivo, na busca pelo controle da situação”.
Os passageiros só foram informados de que a situação do lado de fora já estava sob controle quando o piloto se pronunciou pelo alto-falante, cerca de quatro minutos após os primeiros gritos. “Mas os passageiros nem esperaram ele terminar de falar para dizer que queriam sair do avião”, lembra Marchetti.
Segundo o músico, o procedimento de abertura da aeronave foi lento e, por sorte, ninguém pareceu ter se machucado. Ele criticou o fato de, em meio de toda aquela tensão e risco, as saídas de emergências do lado esquerdo, opostas ao incêndio, não terem sido abertas. “Demorou uns dez minutos entre percebemos o incêndio e sairmos da aeronave. Tive essa noção após checar as mensagens que enviei a minha irmã”, disse ele.
Falha técnica
Por meio de nota, a Gol informou que, durante a partida do motor da aeronave “foi identificada falha técnica no escapamento da turbina direita, danificando apenas externamente a fuselagem da aeronave próxima ao motor”. Segundo a empresa, a aeronave estava em processo de reboque para a pista, mas não chegou a iniciar o procedimento de decolagem, e que os 145 passageiros a bordo foram desembarcados “normalmente e em segurança para serem reacomodados em outros voos”.
Por meio de nota, a Gol informou que, durante a partida do motor da aeronave “foi identificada falha técnica no escapamento da turbina direita, danificando apenas externamente a fuselagem da aeronave próxima ao motor”. Segundo a empresa, a aeronave estava em processo de reboque para a pista, mas não chegou a iniciar o procedimento de decolagem, e que os 145 passageiros a bordo foram desembarcados “normalmente e em segurança para serem reacomodados em outros voos”.
Contatado pela Agência Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou já ter sido notificado da ocorrência e que está definindo os procedimentos e as medidas a serem adotados para investigar o caso.
Agência Brasil
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