terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Recife diz que não utiliza o larvicida Pyriproxifen, suspenso no RS

Diante da polêmica sobre o larvicida Pyriproxifen, a prefeitura do Recife afirmou hoje (15) que nunca usou a substância para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika. O uso do Pyriproxifen foi suspenso pelo governo do Rio Grande do Sul no último sábado (13), sob a alegação de que a substância pode estar relacionada à ocorrência de microcefalia em bebês.
Ministério da Saúde e o fabricante do larvicida já se manifestaram em defesa do produto, que é distribuído pelo governo brasileiro para o controle de vetores de doenças, entre eles o Aedes aegypti.
Brasília - Exposição sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti, na cerimônia de troca da Bandeira Nacional, na Praça dos Três Poderes (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Larvas do Aedes aegyptiFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A capital pernambucana tem o maior número de notificações de nascimentos de crianças com suspeita de microcefalia em todo o país. São 258 bebês residentes no Recife registrados pelo serviço de saúde. Desse total, 40 foram confirmados, em 26 casos a malformação foi descartada. O restante está em investigação.
Até 2001, o Recife usava o larvicida Temefós e, a partir de 2002, passou a empregar um substituto biológico a base do Bacillus thuringiensis israelensis (BTI).
De acordo com Secretário de Saúde do Recife, Jailson Correa, depois que passou a ser possível comprar larvicidas por meio de licitação, a partir de 2009, a prefeitura optou por usar recursos próprios e continuar comprando o produto biológico e não usar mais o fornecido pelo Ministério da Saúde, que atualmente é o Pyriproxifen.
“A gestão e a prefeitura do Recife na época avaliaram que, considerando que Recife é uma cidade banhada por rios, seria adequado manter um larvicida biológico que tivesse menor impacto ambiental”, explica.
Segundo Correa, a aplicação do BTI faz parte das ações rotineiras dos agentes da prefeitura. O produto é colocado nos reservatórios de água da população ou em possíveis focos de reprodução do Aedes aegypti que são difíceis de ser eliminados. Após a aplicação, a substância tem 40 dias de ação.
Ao contrário da capital, vários municípios de Pernambuco utilizam o Pyriproxifen, o que levou a Secretaria Estadual de Saúde a também se manifestar sobre o assunto. Em nota, o órgão disse que  “há casos de microcefalia em locais que não usam o larvicida Pyriproxifen há anos, como também em muitos locais onde seu uso é frequente não há registros de casos”.
A secretaria argumenta que o uso do Pyriproxifen é aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que não existem estudos epidemiológicos que comprovem a associação do produto com a “a microcefalia ou com qualquer efeito mutagênico, genotóxico, carcinogênico, teratogênico ou neurotóxico”.
Hoje, os mais de 7,7 mil militares enviados a Pernambuco para reforçar o combate ao mosquitoAedes aegypti já estão na rua fazendo visitas a casas e comércios e aplicando larvicidas em possíveis focos de reprodução do inseto. Desde dezembro, o trabalho dos agentes de vigilância ambiental já vinha sendo reforçado por membros das Forças Armadas.
Mal-entendido
A suspensão do Pyriproxifen no Rio Grande do Sul foi decretada com base em uma nota técnica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que, na avaliação do governo gaúcho, relaciona o produto com a ocorrência de microcefalia. No entanto, a entidade diz que houve um mal-entendido e que nunca associou o uso do Pyriproxifen à malformação.
“Está havendo um mal entendido. Na nossa nota técnica não colocamos essa relação em questão, ou seja, não dissemos que o larvicida está associado à microcefalia”, explicou àAgência Brasil o coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Abrasco, Marcelo Firpo.
Segundo Firpo, o que a entidade critica é o uso de substâncias químicas como principal estratégia de combate ao Aedes aegypti. Para a Abrasco, o foco do problema é outro: “As populações mais atingidas são justamente as mais pobres, com problemas estruturais de saneamento básico, de acesso à água potável. Consideramos um contrassenso sanitário, um absurdo a colocação de veneno larvicida na água potável”.
Segundo Firpo, ampliar investimentos em saneamento básico e distribuir equipamentos seguros para armazenamento de água são algumas das soluções necessárias para evitar a proliferação de criadouros do Aedes aegypti e outros vetores de doenças.


Agência Brasil



Passageiro relata os momentos de tensão dentro de avião incendiado


Poucas pessoas podem comemorar o fato de terem saído com vida de um avião incendiado para contar, em detalhes, o que acontece nesse ambiente onde, em meio a passageiros desesperados, comissários de bordo e pilotos tentam ter o controle da situação. Passageiro do Voo 1415, da Gol Linhas Aéreas – aeronave que teve a turbina incendiada nesse domingo (14) quando ainda fazia o taxiamento no Aeroporto de Brasília – o músico e diretor de vídeo Paulo Marchetti diz que a frase que sempre ouviu de um amigo nunca fez tanto sentido: “o melhor da vida é viver”.
Às 15h03, Marchetti enviou uma mensagem à irmã, que o aguardava em São Paulo. “Já estou no avião”. Seis minutos depois, às 15h09, uma nova mensagem, em tom bem mais tenso: "Pânico. Agora, controlado. Tava dando ré e alguma coisa pegou fogo". Às 15h10, mais mensagens. "Não sabemos o que vai acontecer ainda. Cheiro de queimado no avião".
Segundo o músico, foram necessários "mais dez ou, no máximo, 12 minutos" para que os passageiros fossem retirados da aeronave. “É tempo demais para quem viu as chamas na turbina e sabe que as asas dos aviões estão cheias de combustível”, disse.
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Mensagens de celular trocadas por Paulo Marchetti com a irmã durante incêndio no Voo 1415 da GolArquivo pessoal/Paulo Marchetti
Renascimentos
A experiência permitiu ao músico, que foi diretor da MTV Brasil entre 1993 e 2000, observar o que acontece em uma situação extrema onde muitos dos 145 passageiros do voo chegaram a acreditar estar em seus últimos momentos de vida. Ao mesmo tempo, viu como a tripulação se comporta em meio à tensão, ao nervosismo e à responsabilidade pelo controle da situação.
“Eu estava tranquilo, lendo a revista de bordo. As portas do avião já haviam sido fechadas e ele estava se deslocando para trás, taxiando. O piloto inclusive já tinha dito que a aeronave estava autorizada para fazer a decolagem. Andamos poucos metros; [durante] cerca de três segundos, quando o primeiro alerta foi dado por uma menina ruiva estrangeira que estava duas cadeiras à minha frente”, disse.
O músico estava no assento 27, retornando a São Paulo após lançar o disco de sua banda, chamada Filhos de Mengeli – banda de rock brasiliense dos anos 80 que está voltando à ativa após ter dado origem a um outro grupo bem mais famoso: os Raimundos. “Estou passando por uma sensação dupla de renascimento”, brinca, já recuperado do susto.
Gritos
O incêndio, segundo Marchetti, começou quando a aeronave estava dando ré. “De repente a ruiva e algumas pessoas disseram ter sentido um grande calor vindo de fora da aeronave e se afastaram da poltrona. O cheiro de queimado ficou bem forte. Olhei pela janela e vi a chama surgindo pertinho de onde estávamos. Como o avião é vedado, ninguém viu de imediato as chamas”.
No momento em que as chamas atingiram a altura da janela e ficou mais visível, o desespero foi geral. “Minha impressão foi de que o fogo começou devagar e, de repente, aumentou. Quando apareceu do lado de fora da janela, todos se assustaram e bateu o maior desespero. Todos que estavam do lado direito começaram a gritar e a correr em direção ao corredor. Deu até para perceber que a maioria dos gritos eram femininos e que não havia palavra de ordem. Apenas frases sem sentido e gritos”.
A primeira voz em que se ouvia alguém pedindo que as pessoas se acalmassem veio de um passageiro. “A gente então notou que, ao atingir a janela, o fogo começou a ser controlado, provavelmente pela equipe de terra. Isso foi bem rápido. Deve ter durado cerca de cinco segundos, após ter atingido seu ápice”.
Voo 1415 da Gol Linhas Aéreas, que teve sua turbina incendiada nesse domingo
Segundo a Gol Linhas Aéreas, o incêndio na turbina foi causado por uma falha técnicaArquivo pessoal/Paulo Marchetti
Controle da situação
Com a diminuição das chamas, mais pessoas começaram a reforçar os pedidos por calma. “Foi nesse momento que o comissário, de uma forma bastante nervosa, pediu a todos que se sentassem. O jeito dele falar parecia com o de um policial dando uma ordem. Sem ainda dizer se a situação estava sob controle, ele adotou uma estratégia que me parecia adequada para aquela situação: fez uso de um tom bastante agressivo, mas no sentido de ser assertivo, na busca pelo controle da situação”.
Os passageiros só foram informados de que a situação do lado de fora já estava sob controle quando o piloto se pronunciou pelo alto-falante, cerca de quatro minutos após os primeiros gritos. “Mas os passageiros nem esperaram ele terminar de falar para dizer que queriam sair do avião”, lembra Marchetti.
Segundo o músico, o procedimento de abertura da aeronave foi lento e, por sorte, ninguém pareceu ter se machucado. Ele criticou o fato de, em meio de toda aquela tensão e risco, as saídas de emergências do lado esquerdo, opostas ao incêndio, não terem sido abertas. “Demorou uns dez minutos entre percebemos o incêndio e sairmos da aeronave. Tive essa noção após checar as mensagens que enviei a minha irmã”, disse ele.
Falha técnica
Por meio de nota, a Gol informou que, durante a partida do motor da aeronave “foi identificada falha técnica no escapamento da turbina direita, danificando apenas externamente a fuselagem da aeronave próxima ao motor”. Segundo a empresa, a aeronave estava em processo de reboque para a pista, mas não chegou a iniciar o procedimento de decolagem, e que os 145 passageiros a bordo foram desembarcados “normalmente e em segurança para serem reacomodados em outros voos”.
Contatado pela Agência Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou já ter sido notificado da ocorrência e que está definindo os procedimentos e as medidas a serem adotados para investigar o caso.


Agência Brasil

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