sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Poupança fecha 2015 com primeira captação negativa em dez anos

por EDUARDO CUCOLO


Os saques superaram os depósitos na caderneta de poupança em 2015, algo que não ocorria desde 2005. Segundo o Banco Central, a aplicação que ainda é a mais popular do país registrou captação negativa de R$ 53,6 bilhões no ano passado.

O resultado foi influenciado, principalmente, pela queda na renda e pelos aumentos da inflação e dos juros. Com uma rentabilidade de 8,07% no ano, o retorno da poupança ficará abaixo dos principais índices de preços ao consumidor, que vão superaram 10% em 2015.



Em dezembro, a captação foi positiva em R$ 4,8 bilhões, o que interrompeu uma sequencia de 11 meses seguidos de saídas de recursos, entre janeiro e novembro. Somente em 1999 e 2002 houve captação negativa em dezembro, mês sazonalmente positivo para a poupança, de acordo com as estatísticas do BC, que têm início em 1995.

O saldo total da poupança encolheu de R$ 662,7 bilhões no final de 2014 para R$ 656,6 bilhões no último dia útil de 2015. A variação inclui a captação negativa e os valores creditados como rendimentos.

A maior parte desse dinheiro se refere ao SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que encolheu cerca de 3% no ano, uma perda equivalente a R$ 13 bilhões (até novembro, estava em R$ 20 bilhões). É desse montante que saem os recursos destinados ao crédito imobiliário.

O restante do saldo corresponde à poupança rural, cujo estoque cresceu, pois a captação negativa de R$ 3,4 bilhões foi mais que compensada pelos rendimentos creditados no período.

PERSPECTIVAS PARA 2016

Especialistas ouvidos pela Folha estimam que a fuga de recursos da poupança deve se repetir em 2016, apesar da expectativa de melhora na rentabilidade.

No ano passado, a caderneta rendeu 8,07%, abaixo dos principais índices de preços ao consumidor, que superaram 10% em 2015. Para este ano, as previsões são de uma inflação abaixo de 7% e de uma correção da poupança mais próxima de 9%.

Restam, entretanto, dois entraves para a caderneta. O primeiro é o aumento do desemprego e a queda na renda, que somados à inflação ainda alta vão reduzir a disponibilidade de recursos que podem ser poupados pelos brasileiros, de acordo com Myrian Lund, planejadora financeira e professora da FGV.

Myrian cita ainda a concorrência de outros investimentos. Há aplicações de renda fixa que pagam hoje 16% ao ano (taxa do Tesouro Direto).

"A população vai ter uma menor capacidade de poupança neste ano, e quem tem condições de poupar está buscando alternativas", diz.

Segundo ela, a poupança não perdia da inflação desde 2002 e não deve perder em 2016, mas o resultado de 2015 vai afetar as decisões de investimento. "Todo dia recebo ligações de gente que quer tirar dinheiro da poupança e colocar em outra aplicação."

O especialista em finanças Rafael Seabra vê como melhor alternativa o Tesouro Direto, disponível em todos os grandes bancos e com aplicação a partir de R$ 30. Ele recomenda o título Tesouro IPCA para aplicações de pelo menos dois anos e, para o fundo de emergência, o Tesouro Selic, que acompanha a taxa básica de juros.

"Sair da poupança em 2016 é mais que uma obrigação para as pessoas que querem deixar de perder dinheiro", afirma Seabra.

CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Em maio, o governo anunciou a liberação de R$ 22,5 bilhões para crédito imobiliário, por meio de mudanças nas regras dos compulsórios (parcela do dinheiro depositado no banco que a instituição deve deixar retida no Banco Central).

Também foram direcionados R$ 5 bilhões do FGTS para a linha pró-cotista, que tem características semelhantes ao crédito da poupança para a habitação.

O dinheiro, no entanto, não foi suficiente para atender à demanda, o que levou a Caixa, principal banco no crédito habitacional, a reduzir o percentual de financiamento por imóvel e a priorizar a compra de imóveis novos.

O dado mais recente do BC mostra que, até novembro, as concessões de novos empréstimos imobiliários para pessoas físicas haviam recuado cerca de 20%.

BALANÇO FECHADO POUPANÇA EM 2015
O QUE FOI

Rentabilidade abaixo da inflação e crise econômica fizeram saques superarem depósitos na caderneta

O QUE É

Aplicação encerrou 2015 com perda de recursos de R$ 53,6 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 2005

O QUE SERÁ

> Aumento do desemprego, queda na renda e inflação ainda alta vão reduzir a disponibilidade de recursos para poupança

> Aplicações de renda fixa, como títulos do Tesouro Direto, devem continuar mais atraentes

> Rombo reduz recursos para financiamento imobiliário, mas crise reduz essa pressão
Fonte: Folha Online - 07/01/2016 e Endividado

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