1. Na campanha eleitoral de 2002, a busca da vitória ao meio de uma crise econômica levou Lula, conduzido pela publicidade e por Duda Mendonça, a falar com o eleitor básico de FHC, que saía. A prioridade era "acalmar os mercados".
2. Deu certo e criou mais que um compromisso com "os mercados", um compromisso e convencimento a si mesmo. Na medida em que os primeiros movimentos da política econômica do governo Lula construíram a "calma" desejada, a partir daí o autoconvencimento da Carta aos Brasileiros construiu a política econômica do governo Lula.
3. O 'documento' básico desse processo foi uma reunião do ministro José Dirceu com o partido no auditório de sua sede. A razão era o susto de todos com a adoção de medidas "neoliberais" tão criticadas pelo partido. José Dirceu explicou -a uma câmera oculta da TV Globo que se encarregou de divulgar- que todos entendessem bem que a correlação de forças exigia essas medidas para se fazer a travessia. E que a política efetiva do partido estava sendo realizada no setor externo, entregue à Marco Aurélio Garcia.
4. Essa disjuntiva -interna/externa- serviu para acalmar o público interno e os resultados da política econômica agregados a medidas de inclusão social pela renda foram catapultados por uma conjuntura econômica externa favorável, impactando a popularidade de Lula.
5. A apropriação do Estado pelo Partido (e daí os escândalos posteriores) construiu o consenso partidário necessário e o interesse patrimonialista da base aliada. Tudo ia muito bem com a sinergia de uma política econômica adotada por pragmatismo, a política de renda mínima e a conjuntura externa favorável.
6. A crise internacional de 2008 começou a expor as dificuldades que esse trinômio teria para sua sustentabilidade. Um keynesianismo de consumo disfarçou a crise e sustentou o PIB. Mas começou a estilhaçar a política econômica adotada. O resultado era inevitável.
7. A política econômica -dita neoliberal- num quadro de crise tem um custo social elevado, como se vê na Europa. E o hibridismo petista -na tentativa de ganhar tempo- levou a economia e a política ao impasse e ao fundo do poço que vemos hoje.
8. A política econômica de Cristina Kirchner assumiu a sua natureza, abandonando qualquer expectativa em relação aos investidores e ao mercado internacional. Assumiu uma política econômica populista de intervenção direta nos mercados -especialmente o comércio exterior- e deixou a inflação subir à vontade, fixando-se na manipulação dos índices. Deu certo política e eleitoralmente, até na eleição recente que perdeu por uma diferença mínima.
9. Mas Dilma optou pelo hibridismo e trouxe para ministro da Fazenda Joaquim Levy. O consenso interno do PT se desintegrou. A mudança de ministro nada pode mudar. A única saída -pela esquerda- da política econômica do governo Dilma seria abandonar qualquer expectativa em relação ao controle da inflação, intensificar a intervenção nos mercados interno e externo e, assim, fazer uma nova opção política, importando o kircherismo.
10. Mas nem isso dá mais tempo, até porque -nesse caso- a espada de Damocles do impeachment baixaria inevitavelmente. Ou seja: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Abrir mão da política econômica por uma alternativa populista é jogar com o impeachment. Manter o discurso atual é afundar na crise com o hibridismo do governo e do PT e da CUT.
Ex-Blog do Cesar Maia
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