Brasília - Grupo de voluntários se mobiliza para fazer um natal para a população em situação de rua na Rodoviária do Plano Piloto, com ceia, distribuição de presentes e brincadeiras para as crianças
O morador de rua Francisco Campos, de 58 anos, chegou pedindo um pedaço de panetone, depois ganhou um algodão doce. Ele não havia comido hoje (24). Ele foi à Rodoviária do Plano Piloto, área central de Brasília, no fim da tarde para participar do Natal da Rodoviária 2015, um evento organizado por um grupo de missionários que distribui comida para moradores de rua, na véspera do Natal.
A ação começou há 10 anos com quatro voluntários e, neste ano, contou cerca de 350 pessoas que foram ajudar na distribuição de refeições. O missionário Robert da Costa, coordenador-geral do evento, explica que este é um trabalho ecumênico, com pessoas de diferentes religiões ou que não têm religião, que tem como objetivo a ressocialização.
“Não incentivamos ninguém a ficar na rua. Deixamos bem claro para o voluntário que ele tem que interagir com o morador de rua e identificar quem quer sair da rua. São pessoas que já trabalham com pessoal de rua e vão identificar se ele quer se tratar. Se ele decidir sair da rua, nós levamos ele para a casa de recuperação ainda hoje”, explicou.
Apesar das várias exigências feitas pela administração da Rodoviária para que o evento ocorra, a mobilização já arrecadou quase 1 tonelada de alimentos não perecíveis que foram doados a quatro casas de recuperação de usuários de drogas. “Nosso objetivo é trazer visibilidade. Queremos que o morador de rua seja visto e ressocializado”, disse Costa.
A professora Ana Paula Marinho trabalhou como voluntária pela primeira vez este ano e integra a equipe de triagem para levar os moradores à recuperação. “É um cuidado com as vidas. A sociedade banaliza muito o Natal, fica muito no lado comercial. O Natal é a comemoração do aniversario de Cristo, e Cristo é amor. Estamos aqui para amar as vidas e se preocupar. As pessoas que moram na rua não têm oportunidade de ceiar, nós somos a famílias deles, vamos ceiar com eles”, disse Ana Paula.
Ao longo dos anos, cerca de 60 pessoas foram retiradas das ruas com a ação. Francisco Campos revelou que é usuário de crack e tem esquizofrenia, mas disse que tem vontade de sair da situação de rua e largar as drogas. “Tem lugares que são muito restritos, impõem muitas regras, mas, dependendo do lugar, se encontrar alguém para me ajudar, queria sair dessa vida”, confessou Francisco.
Rogério Soares de Araújo, de 44 anos, foi abandonado na rua, pela mãe, assim que nasceu. Cresceu em um orfanato e, aos 18 anos, começou a usar drogas. Morava na Rodoviária e participou da ceia por três anos, até que decidiu aceitar a ajuda e sair das ruas. “Na rua eu me drogava, eu roubava, comi muita comida do lixo, bebi muito álcool de posto, mas não ficou nenhuma sequela na minha saúde”, contou.
Hoje, Rogério é educador social e trabalhou como voluntário na ação deste ano. “Tenho muitos amigos na rua e, assim como eu saí, acredito que eles também podem sair. [Quando era morador de rua] Era uma oportunidade única [a ceia distribuída na ação voluntária] que eu tinha de estar reunido com alguém, de sentir que tinha uma família, era muito prazeroso. Mas a tristeza vinha no outro dia, quando a gente via a realidade. Foi através dessa conversa, depois de três anos, que eu pedi ajuda pra eles”, relatou Rogério.
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