A balança comercial, cujo saldo representa as trocas de produtos entre o Brasil e o resto do mundo, começou 2015 negativa. Logo em janeiro, houve déficit de US$ 3,174 bilhões. Isso significa que as importações no mês, ou seja, as compras do país no exterior, superaram as exportações, que são as vendas para outros países.
O saldo ainda refletia o quadro de 2014. A balança terminou aquele ano negativa em R$ 3,93 bilhões, o primeiro déficit anual desde 2000.
A situação da balança em 2015 começou a se reconfigurar a partir de março, quando foi registrado o primeiro saldo positivo do ano. Houve superávit, ainda modesto, de US$ 458 milhões.
Na ocasião, o governo informou que a virada já era esperada, devido ao início dos embarques de soja, um dos principais produtos brasileiros de exportação. O saldo positivo, entretanto, tinha ainda outro motivo: as importações estavam caindo em ritmo acelerado.
Queda
As exportações também estavam em processo de queda, em razão do recuo nos preços dascommodities (produtos básicos com cotação internacional) e da diminuição nas vendas de industrializados brasileiros, principalmente para a Argentina.
No entanto, as importações caíam mais intensamente e as quantidades embarcadas de soja e petróleo ajudavam a compensar a queda nos preços dos produtos básicos exportados. Com esse quadro, a balança ampliou o saldo positivo.
Ao fim de junho, reverteu o déficit acumulado, obtendo superávit de US$ 2,2 bilhões em seis meses. O resultado foi o melhor para o período desde 2012. Mais saldos positivos se seguiram e, na segunda semana de dezembro, o saldo acumulado da balança ficou positivo em US$ 15,8 bilhões, superando a expectativa do governo, que era encerrar 2015 com superávit de US$ 15 bilhões.
No entanto, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), considera que o resultado pode ser considerado um “superávit negativo”, por se dever, em parte, à queda de importações. “As importações despencaram. Caíram 23,3%, até a segunda semana de dezembro, enquanto as exportações caíram 14,6%. O mais pessimista não imaginaria que chegaríamos a essa queda das importações”, comenta.
Segundo ele, as compras de importados caíram em razão do recuo na atividade econômica e alta do dólar, que bateu recordes de crescimento em relação ao real em 2015.
Contratos
A moeda norte-americana reagiu à turbulência econômica e política no país ao longo do ano. O dólar baliza os contratos de exportação e importação e, portanto, influencia as operações. Quando está valorizado ante o real, os produtos brasileiros têm preços mais atraentes no exterior. Com as importações, é o contrário: o dólar alto aumenta o preço final dos importados no mercado brasileiro.
Se a aquisição de importados foi desestimulada pelo dólar em alta, José Augusto destaca que as exportações, que poderiam ter se beneficiado do movimento, não ganharam impulso suficiente.
“[A alta do dólar] não foi o suficiente para tornar nossos produtos competitivos. O impacto do câmbio sobre os manufaturados [industrializados] praticamente foi nulo. Alguns insumos da indústria são importados e a taxa de câmbio muito elevada não nos ajuda. Cada vez que sobe o dólar, os compradores pedem desconto”, comenta ele, que defende um câmbio equilibrado.
Para 2016, a AEB projeta comportamento da balança semelhante ao deste ano. A entidade prevê superávit de US$ 29,228 bilhões. Estima, ainda, que as exportações cairão 1% em relação a 2015 e as importações, 9,5%. Segundo José Augusto de Castro, a queda no valor exportado será menor que a deste ano porque, após um recuo acentuado, os preços das commodities tendem a se estabilizar.
“O cenário econômico continuará difícil. Temos perda do grau de investimento, elevação da taxa de juros dos Estados Unidos. O câmbio vai ficar em piso de R$ 4 e teto de R$ 4,50. As importações devem cair, bem como as exportações. Mas as exportações cairão de forma mais suave”, prevê.
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