quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Pan-Arabismo de Nasser

Em meio aos interesses expansionistas das potências que ao longo dos séculos exploraram o Oriente Médio surgiu a figura do líder Egípcio Gamal Abdel Nasserr, desfraldando a bandeira do pan-arabismo. Procurou alicerçar sua atração na Liga Árabe, organismo criado em 1945, contando com 22 membros. Em seu livro “Filosofia da Revolução”, Nasser expressou o seu objetivo de liderar não só os 150 milhões de árabes que se espalham desde o Golfo Pérsico até a Mauritânia como também 0s 420 milhões de muçulmanos da época, espalhados pelas mais diversas partes do mundo.
Embora sua ação se voltasse para os muçulmanos, procurou afastar a influência da religião islamita sobre a legislação e os costumes egípcios. Nasser governou o Egito de 1956 a 1970 e seu grande sonho era tornar o mundo árabe uma só nação, laica e unificada.
Chegou a fazer algumas tentativas práticas nesse sentido, a República Árabe Unida, integrada pelo Egito e pela Síria e que chegou a existir de 1958 a 1961, logicamente sob a presidência de Nasser. Todavia, alguns fatores foram determinantes para acabar com a efêmera república. Pesaram, sobremaneira, as dificuldades para integrar as duas economias, a nacionalização da indústria síria e a presença de altos postos do exército sírio de oficiais egípcios. Esses fatos acabaram por causar descontentamento generalizado entre os sírios, que culminou com um golpe militar, restabelecendo a independência síria.
O fato é que o mundo árabe, assim como é marcado por laços que unem sua população, com a mesma origem histórica, tradições, língua, religião muçulmana e o petróleo, de outra parte, apresenta profundas rivalidades políticas, territoriais e econômicas que, periodicamente, suscitam violentas explosões.
Acrescentem-se a isto alguns fatores de tensão como a luta de classes entre a riqueza feudal e a pobreza, aa continuidade das antigas lealdades tribais, agora disfarçadas em lealdade a partidos políticos, a existência de algumas fronteiras artificiais herdadas da época do colonialismo, divergências sobre o modo de resolver a questão palestina bem como sobre o posicionamento a assumir no conflito Leste-Oeste, que por longos anos teve no Oriente Médio o seu principal cenário.
Essas divergências, levadas ao extremo pelas posições de alguns líderes, fizeram com que o Iraque e Síria permanecessem em constante estado de beligerância e levaram o Egito e a Líbia, a uma confrontação bélica em 1977.
O Iraque e o Kuwait também chegaram a ter choques fronteiriços em 1973. Marrocos e Argélia chegaram a romper relações, em 1976, em virtude da anexação marroquina da faixa norte do Saara Ocidental.
Essas e outras múltiplas disputas e divergências, no entanto, sempre foram postas de lado quando se tratou de enfrentar o inimigo maior, no caso Israel. Na guerra de 1973, por exemplo, esquecendo todas as divergências, a Líbia enviou quarenta caças Mirage para a frente egípcia, o Iraque mandou tropas para ajudar a Síria, e o Marrocos enviou uma brigada à Síria.
É aquela velha frase: “... eu e o meu irmão lutamos contra o nosso primo...”.
Mas, tirando esta vontade para lutar contra Israel, é muito difícil manter o mundo árabe unido. Damasco e Bagdá, por exemplo, mantém uma rivalidade histórica, que data do século 18, quando a dinastia Ommayad governava o que é hoje a capital da Síria, enquanto que os Abassid dirigiam a atual capital iraquiana. Na esteira da influência soviética do pós-Segunda Guerra, o Partido Baath – de tendência laica e socialista – assumiu o poder nos dois países e passou a preconizar a restauração da harmonia na área. Mas a antiga rivalidade tribal prevaleceu, envolvendo mesmo a direção dos dois partidos. Houve sucessivas tentativas de cada um das partes para submeter o regime da outra.
Apesar das divergências internas, os dois países se tornaram aliados da União Soviética, com quem fizeram “tratados e amizade” - expediente comumente usado pelos soviéticos em sua época expansionista. Esses tratados possibilitaram o recebimento permanente de armamentos. Era uma nova aliança que os árabes buscavam como o contraponto ao colonialismo exercido pelo Ocidente. Até mesmo o nacionalismo e o pan-arabismo de Nasser foram arrastados para o lado de Moscou, que forneceu os armamentos de que ele precisava para os confrontos com Israel. Propiciou, igualmente, o financiamento para a construção da hidrelétrica de Assuã, financiamento este que fora negado pelo Ocidente.

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