quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Brasil gaúcho, por Aldo Rebelo

A comemoração dos 95 anos do Instituto Histórico Rio-Grandense, de que tive a hora de participar neste 6 fr agosto, assinala a documentação e continuidade da epopeia gaúcha, regada com audácia e valentia desde que os consolidadores do nosso território, a destacar o bandeirante Raposo Tavares, ignoraram o Tratado de Tordesilhas que nos tirava estas terras e muito lutaram para integrá-las ao mapa e à identidade nacionais. É um rapto geopolítico imaginar um Brasil que começava em Belém e terminava em Lages (SC).
A refundação do Instituto em 1920 serviu ao propósito de produzir uma historiografia da unidade nacional. Se o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), fundado em 1938 surgiu para produzir uma história do Brasil baseada na centralização política, o sul-rio-grandense cuidou de deslindar a polêmica do separatismo. É tema fascinante a quem estuda a história do Brasil.
O historiador Sousa Docca foi taxativo no discurso de posse no IHGB, no Rio: “Sinto-me feliz de poder principiar, afirmando-vos que Bento Gonçalves, Bento Manuel, Canabarro e Netto nunca foram separatistas de coração”. A independência da província jamais foi unanimidade entre os farrapos.
O general Antônio Neto, se nunca abdicou da bandeira do Piratini, iria defender o Império na Guerra do Paraguai. Sabedores, antes da expressão de um estadista, que “a paz só se faz entre inimigos”, Bento Gonçalves e o barão de Caxias trataram-se com vinhos da mesma pipa. O próprio Bento, após o Tratado de Ponche Verde, reconheceu a generosidade “deste homem verdadeiramente amigo dos rio-grandenses” (Luís Ernani Caminha Giorgis, em “O Duque de Caxias”).
A boa-nova é que o chefe farrapo continua a ser símbolo da fibra gaúcha, Bento Gonçalves foi apontado como principal figura histórica do Rio Grande. Supera o “inventor” do Brasil, Getúlio Vargas. O reconhecimento deve-se à permanência e exaltação farroupilha como elemento de formação da identidade gaúcha e vetor do ufanismo regional. Muitos, ontem e hoje, não entenderam as razões da guerra. Mas todos entendemos que valeu a pena forjar um Brasil gaúcho.

Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

Fonte: Correio do Povo, edição de 7 de agosto de 2015.

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