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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Jango ainda luta!, por Henrique Matthiesen

Único presidente da República que morreu no exílio vítima de uma conspiração das elites antipátrida e das aves de rapina internacionais, João Belchior Marques Goulart, o Jango, sofre, mesmo depois de sua morte, mais uma perseguição daqueles que se utilizam do ódio como referência de memória.
O atual governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, cassou a cessão de um terreno que seria utilizado para a construção do Memorial da Liberdade e Democrática do Presidente João Goulart, contrariando o ato do governo anterior e agredindo, novamente, a história, brindando assim mais uma vez a mais degradada face no Brasil, que apontou Jango do poder. O grande crime que Jango cometeu em sua existência foi ser um líder trabalhista com um ideário de soberania nacional e emancipação de seu povo.
Esse seu ideário é o que as elites deste país jamais aceitaram. Desde Vargas, o ódio nutrido por esses privilegiados atingiu seu cerne com a derrubada de Jango e o rompimento da ordem constitucional. Síntese das melhores cepas do ideário de um Brasil moderno, genuinamente edificado para os brasileiros, herdeiro inconteste de Vargas, Jango queria reformar o Estado brasileiro.
Os interesses espúrios de uma casta elitista que sempre viveu de privilégios seculares não concebiam as reformas de base. Acusaram Jango de tudo. Vítima dos maiores vitupérios que um chefe de Estado pode sofrer, nada, absolutamente nada, se provou contra ele, armaram o golpe e ceifaram do povo brasileiro a democracia. As reformas, como a agrária, a eleitoral, a bancária e a educacional, entre outras jamais foram feitas e, desta forma, mergulhamos na noite mais escura em 20 anos de ditadura, nos quais os direitos individuais foram desprezados e o arbítrio se tornou regra. E assim se foi a democracia, como Jango violentado em seu mais denso cerne.
Um dos mais dramáticos períodos de nossa história está sendo mais uma vez violentado e escondido para os porões. A construção do Memorial de Jango, na capital federal, é mais do que um espaço de reflexão, pois é um ato de negação, reprovação e repúdio ao golpe de Estado e de defesa dos direitos individuais e a celebração dos principais republicanos.
Negar esse espaço é privar gerações vindouras da memória de uma pátria e, de forma indireta, perpetuar a perseguição a Jango. Não é mais aceitável a contínua odiosidade a Jango, que já sofreu incontáveis iniquidades ao longo da vida.
Esse Memorial é um dos símbolos mais indeléveis de que esse país não pode mais ser dirigido pelo arbítrio e é um resgate incontestável de nossa história. Um país sem memória é um povo acéfalo d suas raízes, de suas lutas. E a história de Jango é uma celebração à democracia, à soberania nacional e ao amor ao seu povo.

Bacharel em Direito

Fonte: Correio do Povo, edição de 7 de setembro de 2015, página 2


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