Único
presidente da República que morreu no exílio vítima de uma
conspiração das elites antipátrida e das aves de rapina
internacionais, João Belchior Marques Goulart, o Jango, sofre, mesmo
depois de sua morte, mais uma perseguição daqueles que se utilizam
do ódio como referência de memória.
O atual governador de Brasília,
Rodrigo Rollemberg, cassou a cessão de um terreno que seria
utilizado para a construção do Memorial da Liberdade e Democrática
do Presidente João Goulart, contrariando o ato do governo anterior e
agredindo, novamente, a história, brindando assim mais uma vez a
mais degradada face no Brasil, que apontou Jango do poder. O grande
crime que Jango cometeu em sua existência foi ser um líder
trabalhista com um ideário de soberania nacional e emancipação de
seu povo.
Esse seu ideário é o que as elites
deste país jamais aceitaram. Desde Vargas, o ódio nutrido por esses
privilegiados atingiu seu cerne com a derrubada de Jango e o
rompimento da ordem constitucional. Síntese das melhores cepas do
ideário de um Brasil moderno, genuinamente edificado para os
brasileiros, herdeiro inconteste de Vargas, Jango queria reformar o
Estado brasileiro.
Os interesses espúrios de uma casta
elitista que sempre viveu de privilégios seculares não concebiam as
reformas de base. Acusaram Jango de tudo. Vítima dos maiores
vitupérios que um chefe de Estado pode sofrer, nada, absolutamente
nada, se provou contra ele, armaram o golpe e ceifaram do povo
brasileiro a democracia. As reformas, como a agrária, a eleitoral, a
bancária e a educacional, entre outras jamais foram feitas e, desta
forma, mergulhamos na noite mais escura em 20 anos de ditadura, nos
quais os direitos individuais foram desprezados e o arbítrio se
tornou regra. E assim se foi a democracia, como Jango violentado em
seu mais denso cerne.
Um dos mais dramáticos períodos de
nossa história está sendo mais uma vez violentado e escondido para
os porões. A construção do Memorial de Jango, na capital federal,
é mais do que um espaço de reflexão, pois é um ato de negação,
reprovação e repúdio ao golpe de Estado e de defesa dos direitos
individuais e a celebração dos principais republicanos.
Negar esse espaço é privar gerações
vindouras da memória de uma pátria e, de forma indireta, perpetuar
a perseguição a Jango. Não é mais aceitável a contínua
odiosidade a Jango, que já sofreu incontáveis iniquidades ao longo
da vida.
Esse Memorial é um dos símbolos
mais indeléveis de que esse país não pode mais ser dirigido pelo
arbítrio e é um resgate incontestável de nossa história. Um país
sem memória é um povo acéfalo d suas raízes, de suas lutas. E a
história de Jango é uma celebração à democracia, à soberania
nacional e ao amor ao seu povo.
Bacharel em Direito
Fonte: Correio do Povo, edição de 7
de setembro de 2015, página 2
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