Na estreia em Porto
Alegre, aplicativo dividiu opiniões.
Teste prático. O Metro
Jornal comparou os dois serviços ontem à tarde. Em deslocamentos
entre o Paço Municipal e o Parcão, a Uber provou ser mais barata
que o táxi. O conforto também é maior: veículo novo, garrafinhas
de água gelada de brinde e atendimento eficiente
Uber
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Táxi
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Como chamar – Usuários baixa o aplicativo,
faz o cadastro no site e chama pelo celular.
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Como chamar – Por telefone, aplicativos ou
nas ruas.
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Tarifa – R$ 3 na largada + R$ 1,45 por Km +
R$ 0,25 por minuto
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Tarifa – R$ 4,66 na largada + R$ 2,33 por Km
na bandeira 1 ou R$ 3,03 na bandeira 2.
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Forma de pagamento – Apenas pelo cartão de
crédito cadastrado no app
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Forma de pagamento – Todos aceitam dinheiro,
maioria também cartão de crédito ou convênios, via
aplicativos.
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Uniforme – Motorista deve estar bem vestido.
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Uniforme – Motoristas devem usar camisa,
calçado fechado, calça ou bermuda na altura do joelho.
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Veículo – Em Porto Alegre, a empresa opera
com o modelo Uber X: carro compacto com ar-condicionado e, no
máximo, sete anos. Cor preta não é obrigatória, mas algumas
cores são vetadas.
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Veículo – Padronizado na cor vermelho
ibérico e branco (aeroporto), taxímetro, GPS, quatro portas e ar
condicionado, com até 10 anos.
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Atendimento – Motoristas oferecem água,
balas ou chocolate.
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Atendimento – Motoristas apenas conduzem os
passageiros.
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Operação – Motorista se cadastra no site e
precisa cumprir alguns requisitos, como ter CNH que exerce
atividade remunerada com veículos e ter bons antecedentes.
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Operação – Licença é oferecida pela
prefeitura. O motorista deve ter CNH de categoria B ou superior,
autorização para exercer atividade remunerada e possuir
identidade de Condutor de Transporte Público.
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“Para
de me chamar de senhor”, brincou o ex-bancário José Clovis
Silveira dos Santos, 53 anos. Era porque ele estava de gravata. E
você já viu um motorista de gravata? Se visse, também chamaria de
senhor. Embarcar em um carro da Uber definitivamente não é como
andar de táxi. Iniciado ontem em Porto Alegre, o serviço de
transporte particular foi testado peoo Metro Jornal e
comparado com o percurso feito por um táxi comum, ambos entre o Paço
Municipal, no Cento, e o Parcão, no bairro Moinhos de Vento.
A entrada em operação do aplicativo da Uber havia sido anunciada
pela empresa para as 15h, mas demorou meia hora para funcionar. Por
volta das 15h30min, enfim piscou na tela do spartphone a informação
de que o Hyundai i30 de José Clóvis chegaria em quatro minutos. Em
3min49seg, ele apareceu. Como boas-vindas, o ex-bancário buscou no
porta-malas duas garrafinhas de água bem gelada – para mim e para
o fotógrafo Tárlis Schneider -, bom para encarar o calor de 40°C.
“Eles (empresa) incentivam a boa apresentação, o carro bom, mas o
atendimento é fundamental”, afirmou José Clovis.
Era
a primeira viagem de Jose Clovis pela Uber. Nascido em Espumoso, foi
bancário por boa parte da vida, até entrar no bolo de uma demissão
em massa, há dois anos. Morava em Capão da Canoa, até um ano atrás
quando decidiu se mudar para Porto Alegre. Entrar para a Uber foi uma
forma de garantir trabalho. Sobre a oposição de parte dos taxistas,
admitiu certo medo. “A gente viu o que aconteceu nos outros
Estados, a quebradeira. “É um risco. Nós, os primeiros, vamos
pagar para ver.”
A viagem foi tranquila, com ar-condicionado e o conforto de um
veículo limpo e novo. Ao chegarmos ao Parcão, José Clovis nem quis
saber o preço. A tarifa não passa pelo motorista, é um acerto
entre passageiro e Uber. Dei nota máxima para o ex-bancário.
Avaliar quem dirige é obrigatório depois do final da viagem e antes
da próxima. O trajeto de 23 minutos custou R$ 12,35, só que o
aplicativo arrendondou para R$ 12.
Prestes a acelerar o automóvel, ele apontou para uma blitz da EPTC
(Empresa Pública de Transporte e Circulação) que ocorria na
avenida Goethe e não a temeu. “A Uber cuida de tudo”, disse. A
EPTC considera o que a Uber faz transporte clandestino. A companhia,
que vale US$ 50 bilhões no mercado, garantiu que pagará a multa de
R$ 5,8 mil caso algum de seus carros caia nas mãos EPTC.
Taxistas
estão divididos
De volta a prefeitura, acionei o aplicativo para chamar um táxi e
repetir o itinerário. Ainda faltavam uns 20 minutos para às 17h,
quando o primeiro taxista aceitou a corrida. Ele desistiu logo depois
por concluir que não conseguiria chegar rapidamente. A seguir,
outros três taxistas aceitaram e na sequência desistiram, até que
Itamar Oliveira Soares, 48 anos (há 11 como taxista), chegou às
17h08 com seu Voyage, sem atraso e sem ar-condicionado ligado.
Existem três tipos de taxistas hoje na capital: os que viraram a
casaca e passaram para a Uber, os que são simpáticos (velada ou
abertamente) à Uber e os que odeiam o aplicativo. Soares estava mais
próximo do último grupo.
“Oferecer água e balinha? Aí o cara já começa perdendo. E essa
crise hídrica?”, falou. “Daqui a pouco o passageiros chega no
carro e já sai perguntando: cadê a água? Cadê a bala?” Soares
acha que a Uber chegou “chutando a porta” e “sem obedecer regra
nenhuma”.
Há taxistas tratando a Uber como uma chance de alforria de patrões
que detêm várias placas de táxis e pagam misérias aos motoristas
– sequer carteira assinada ou um carro com mínimo conforto para o
motorista não acabar o dia estressado. Não é o caso de Soares. Ele
gosta do seu chefe. “Meu patr~~ao é adventista. Eu sou evangélico.
Ele é um cara bom. Tenho dois domingos de folga por mês, me paga
INSS.”
Eram 17h31. A corrida custou R$ 17 pelos mesmos 23 minutos de
deslocamento.
André
Mags
Metro Porto Alegre
EPTC
trata aplicativo como transporte ilegal e vai intensificar
fiscalização
Se
depender do poder público, a euforia dos porto-alegrenses pela
chegada da Uber deve durar pouco. Os agentes da EPTC (Empresa Pública
de Transporte e Circulação) já foram orientados a tratar os
veículos que trabalham com o aplicativo como transporte ilegal. A
fiscalização foi intensificada desde ontem. O início das
atividades do app sem o consentimento da EPTC foi visto como um ato
de desrespeito por parte da Uber.
“Tínhamos uma reunião marcada para dialogar sobre o assunto
nesta sexta-feira. Graças à attude desrespeitosa dos responsáveis
pelo aplicativo, o encontro foi desmarcado”, afirmou o
diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.
“Eles
simplesmente não estão respeitando a lei. Vamos autuar como
transporte clandestino de passageiros, com muita e recolhimento de
veículo.”
Vanderlei Cappellari, Diretor-presidente da EPTC
Em nota oficial, a Prefeitura de Porto Alegre também de manifestou
contrária à chegada do serviço. “Compete ao poder público
garantir o cumprimento das legislações existentes. Hoje, os
serviços da natureza propostos pelo Uber, especialmente pelo fato de
serem muito recentes, não se encontram abrigados por nenhuma lei,
configurando assim o transporte irregular ou clandestino”, dizia a
nota.
Por não estar regulamentado, o serviço prestado pela Uber pode
render multa de R$ 5.860 – valor que dobra em caso de reincidência
– e recolhimento do veículo.
Sintáxi
também é contra
O
presidente do Sintáxi (Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre), Luiz
Nozari, entende que a Uber concorre de forma desleal com o sistema
que é regulamentado na capital. “É necessário que a lei vigente
seja respeitada e cabe à EPTC fiscalizar e aplicar as penalidades
previstas para quem descumpri-la”, comenta Nozari.
Projeto
contra a Uber
Está
prevista para segunda-feira a votação do projeto de lei que proíbe
o funcionamento do Uber na capital. O autor do PL, vereador Claudio
Janta (SD), acredita que o aplicativo não garante a segurança do
passageiro e exerce concorrência desleal aos táxis de Porto Alegre.
A ideia do vereador era de aprovar o projeto antes da chegada da
Uber na cidade, o que não foi possível.
Uber
diz que não é ilegal
A
assessoria de imprensa da Uber voltou a afirmar ontem que o uso do
aplicativo não pode ser considerado ilegal. Em nota, a empresa
declarou que seu funcionamento não infringe nenhuma lei. Faltaria
regulamentação, apenas.
“É importante deixar claro que Uber não é táxi. O serviço que
os motoristas parceiros da Uber oferecem é transporte individual
privado, previsto na lei federal 12.587/2012”.
Fonte: Metro, páginas
6 e 7 de 20 de novembro de 2015.
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