sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Uber chega e divide opiniões em Porto Alegre

Na estreia em Porto Alegre, aplicativo dividiu opiniões.

Teste prático. O Metro Jornal comparou os dois serviços ontem à tarde. Em deslocamentos entre o Paço Municipal e o Parcão, a Uber provou ser mais barata que o táxi. O conforto também é maior: veículo novo, garrafinhas de água gelada de brinde e atendimento eficiente


Uber
Táxi
Como chamar – Usuários baixa o aplicativo, faz o cadastro no site e chama pelo celular.
Como chamar – Por telefone, aplicativos ou nas ruas.
Tarifa – R$ 3 na largada + R$ 1,45 por Km + R$ 0,25 por minuto
Tarifa – R$ 4,66 na largada + R$ 2,33 por Km na bandeira 1 ou R$ 3,03 na bandeira 2.
Forma de pagamento – Apenas pelo cartão de crédito cadastrado no app
Forma de pagamento – Todos aceitam dinheiro, maioria também cartão de crédito ou convênios, via aplicativos.
Uniforme – Motorista deve estar bem vestido.
Uniforme – Motoristas devem usar camisa, calçado fechado, calça ou bermuda na altura do joelho.
Veículo – Em Porto Alegre, a empresa opera com o modelo Uber X: carro compacto com ar-condicionado e, no máximo, sete anos. Cor preta não é obrigatória, mas algumas cores são vetadas.
Veículo – Padronizado na cor vermelho ibérico e branco (aeroporto), taxímetro, GPS, quatro portas e ar condicionado, com até 10 anos.
Atendimento – Motoristas oferecem água, balas ou chocolate.
Atendimento – Motoristas apenas conduzem os passageiros.
Operação – Motorista se cadastra no site e precisa cumprir alguns requisitos, como ter CNH que exerce atividade remunerada com veículos e ter bons antecedentes.
Operação – Licença é oferecida pela prefeitura. O motorista deve ter CNH de categoria B ou superior, autorização para exercer atividade remunerada e possuir identidade de Condutor de Transporte Público.


“Para de me chamar de senhor”, brincou o ex-bancário José Clovis Silveira dos Santos, 53 anos. Era porque ele estava de gravata. E você já viu um motorista de gravata? Se visse, também chamaria de senhor. Embarcar em um carro da Uber definitivamente não é como andar de táxi. Iniciado ontem em Porto Alegre, o serviço de transporte particular foi testado peoo Metro Jornal e comparado com o percurso feito por um táxi comum, ambos entre o Paço Municipal, no Cento, e o Parcão, no bairro Moinhos de Vento.
A entrada em operação do aplicativo da Uber havia sido anunciada pela empresa para as 15h, mas demorou meia hora para funcionar. Por volta das 15h30min, enfim piscou na tela do spartphone a informação de que o Hyundai i30 de José Clóvis chegaria em quatro minutos. Em 3min49seg, ele apareceu. Como boas-vindas, o ex-bancário buscou no porta-malas duas garrafinhas de água bem gelada – para mim e para o fotógrafo Tárlis Schneider -, bom para encarar o calor de 40°C. “Eles (empresa) incentivam a boa apresentação, o carro bom, mas o atendimento é fundamental”, afirmou José Clovis.
Era a primeira viagem de Jose Clovis pela Uber. Nascido em Espumoso, foi bancário por boa parte da vida, até entrar no bolo de uma demissão em massa, há dois anos. Morava em Capão da Canoa, até um ano atrás quando decidiu se mudar para Porto Alegre. Entrar para a Uber foi uma forma de garantir trabalho. Sobre a oposição de parte dos taxistas, admitiu certo medo. “A gente viu o que aconteceu nos outros Estados, a quebradeira. “É um risco. Nós, os primeiros, vamos pagar para ver.”
A viagem foi tranquila, com ar-condicionado e o conforto de um veículo limpo e novo. Ao chegarmos ao Parcão, José Clovis nem quis saber o preço. A tarifa não passa pelo motorista, é um acerto entre passageiro e Uber. Dei nota máxima para o ex-bancário. Avaliar quem dirige é obrigatório depois do final da viagem e antes da próxima. O trajeto de 23 minutos custou R$ 12,35, só que o aplicativo arrendondou para R$ 12.
Prestes a acelerar o automóvel, ele apontou para uma blitz da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) que ocorria na avenida Goethe e não a temeu. “A Uber cuida de tudo”, disse. A EPTC considera o que a Uber faz transporte clandestino. A companhia, que vale US$ 50 bilhões no mercado, garantiu que pagará a multa de R$ 5,8 mil caso algum de seus carros caia nas mãos EPTC.

Taxistas estão divididos

De volta a prefeitura, acionei o aplicativo para chamar um táxi e repetir o itinerário. Ainda faltavam uns 20 minutos para às 17h, quando o primeiro taxista aceitou a corrida. Ele desistiu logo depois por concluir que não conseguiria chegar rapidamente. A seguir, outros três taxistas aceitaram e na sequência desistiram, até que Itamar Oliveira Soares, 48 anos (há 11 como taxista), chegou às 17h08 com seu Voyage, sem atraso e sem ar-condicionado ligado.
Existem três tipos de taxistas hoje na capital: os que viraram a casaca e passaram para a Uber, os que são simpáticos (velada ou abertamente) à Uber e os que odeiam o aplicativo. Soares estava mais próximo do último grupo.
“Oferecer água e balinha? Aí o cara já começa perdendo. E essa crise hídrica?”, falou. “Daqui a pouco o passageiros chega no carro e já sai perguntando: cadê a água? Cadê a bala?” Soares acha que a Uber chegou “chutando a porta” e “sem obedecer regra nenhuma”.
Há taxistas tratando a Uber como uma chance de alforria de patrões que detêm várias placas de táxis e pagam misérias aos motoristas – sequer carteira assinada ou um carro com mínimo conforto para o motorista não acabar o dia estressado. Não é o caso de Soares. Ele gosta do seu chefe. “Meu patr~~ao é adventista. Eu sou evangélico. Ele é um cara bom. Tenho dois domingos de folga por mês, me paga INSS.”
Eram 17h31. A corrida custou R$ 17 pelos mesmos 23 minutos de deslocamento.

André Mags
Metro Porto Alegre


EPTC trata aplicativo como transporte ilegal e vai intensificar fiscalização


Se depender do poder público, a euforia dos porto-alegrenses pela chegada da Uber deve durar pouco. Os agentes da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) já foram orientados a tratar os veículos que trabalham com o aplicativo como transporte ilegal. A fiscalização foi intensificada desde ontem. O início das atividades do app sem o consentimento da EPTC foi visto como um ato de desrespeito por parte da Uber.
“Tínhamos uma reunião marcada para dialogar sobre o assunto nesta sexta-feira. Graças à attude desrespeitosa dos responsáveis pelo aplicativo, o encontro foi desmarcado”, afirmou o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.

Eles simplesmente não estão respeitando a lei. Vamos autuar como transporte clandestino de passageiros, com muita e recolhimento de veículo.”

Vanderlei Cappellari, Diretor-presidente da EPTC


Em nota oficial, a Prefeitura de Porto Alegre também de manifestou contrária à chegada do serviço. “Compete ao poder público garantir o cumprimento das legislações existentes. Hoje, os serviços da natureza propostos pelo Uber, especialmente pelo fato de serem muito recentes, não se encontram abrigados por nenhuma lei, configurando assim o transporte irregular ou clandestino”, dizia a nota.
Por não estar regulamentado, o serviço prestado pela Uber pode render multa de R$ 5.860 – valor que dobra em caso de reincidência – e recolhimento do veículo.

Sintáxi também é contra

O presidente do Sintáxi (Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre), Luiz Nozari, entende que a Uber concorre de forma desleal com o sistema que é regulamentado na capital. “É necessário que a lei vigente seja respeitada e cabe à EPTC fiscalizar e aplicar as penalidades previstas para quem descumpri-la”, comenta Nozari.

Projeto contra a Uber

Está prevista para segunda-feira a votação do projeto de lei que proíbe o funcionamento do Uber na capital. O autor do PL, vereador Claudio Janta (SD), acredita que o aplicativo não garante a segurança do passageiro e exerce concorrência desleal aos táxis de Porto Alegre.
A ideia do vereador era de aprovar o projeto antes da chegada da Uber na cidade, o que não foi possível.

Uber diz que não é ilegal

A assessoria de imprensa da Uber voltou a afirmar ontem que o uso do aplicativo não pode ser considerado ilegal. Em nota, a empresa declarou que seu funcionamento não infringe nenhuma lei. Faltaria regulamentação, apenas.
“É importante deixar claro que Uber não é táxi. O serviço que os motoristas parceiros da Uber oferecem é transporte individual privado, previsto na lei federal 12.587/2012”.



Fonte: Metro, páginas 6 e 7 de 20 de novembro de 2015.

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