A
“senhora vergonha” era uma dama que bem qualificava os seus
usuários. Vergonha era prejudicado que fazia parte dos
pré-requisitos dos relacionamentos, dos negócios e da atuação das
pessoas públicas. O que possuíam a exerciam como suporte das
atitudes e dos pensamentos, privam-na como se fosse um santuário de
respeito, a si e aos outros, e a preservavam. A qualidade
comportamental que emanava da vergonha era cultivada, respeitada e
utilizada como exemplo nas falas e nas citações e, também, como
componente nos preconceitos da educação dos jovens.
Vergonha era atributo de crédito no
convívio social, no qual a taxativa dos que dela não se
beneficiavam era designada pelo rótulo “aquele é um
sem-vergonha”. Essa referência colava como um estigma depreciativo
que excluía – os assim rotulados – do convívio das pessoas de
“respeito”, ou seja, daquelas que primavam pela honestidade do
ser, do ser, do ter e do fazer, observado no componente vergonha.
A seara do cenário constituído pela
ação do ser, pelo efeito do ter pela forma do fazer circundada a
muralha da vergonha, que se assentava nos princípios da honestidade,
do respeito e do verdadeiro como pré-requisitos dessas ações,
compreendidas e resultantes desses três verbos, resguardava os
possíveis desgastes do desprezo da falta da vergonha.
A vergonha sempre fez parte da
privacidade como elemento reforçador da sua extensão e aplicação
no compartilhar a vida pessoal, no público e com o público.
Vergonha se tem ou não se tem. Ela está incorporada, ou não, no
modo como agimos no todo e não só em alguns casos especiais. A
vergonha se garante pela permanência, isto é, por não ser volátil.
Vergonha, no Dicionário Aurélio, é definida como “sentimento
penoso de desonra, humilhação ou rebaixamento diante de outrem” e
como “ato, atitude, palavras (…) obscenos, indecorosos e/ou
vexatórios”. O dicionário também define a vergonha como um
“sentimento da própria dignidade, brio, honra”, sendo o popular
“vergonha na cara” a expressão que traduz esses preceitos.
A vergonha também é a sensação e
o sentimento que nos fazem orgulhosos de sermos pessoas, de sermos
humanos, pois, analisando-a, percebe-se a extensão do seu conteúdo,
assim como os reflexos e as implicações que dela advêm ou lhe
cabem, tanto no agir íntimo quanto no público.
Sabedoria de que muitos como nós
valorizam o significado da vergonha e a preservamos como dote de
herança que vem de nossos país, neste texto utilizei o verbo no
passado, por vê-la distante, diante do sentimento que começamos a
ter, em consequência dos exemplos que nos chegam de que ela está
fragilizada e em desusos ou talvez, agonizando.
Diretora do Instituto MC Educação
Social e vice-presidente da Federasul
Fonte: Correio do Povo, página 2 da
edição de 17 de outubro de 2015.
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