sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A fase pré-colonial do Brasil

Durante os primeiros trinta anos da dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos elementos que, segundo foi visto, fazem parte da estrutura colonialista. É fato que existia uma riqueza da qual os portugueses se apropriavam. Mas inexistia um sistema montado em função dessa apropriação, um sistema político social e cultural. A apropriação da referida riqueza o pau-brasil – dava-se dentro dos moldes muito primitivos e a sociedade indígena que aqui existia não era afetada pelo relacionamento econômico imposto pelas necessidades de enriquecimento de Portugal. Em resumo, este dado nos mostra que se a simples dominação política não configura a situação colonial, da mesma forma não a configura a apropriação pura e simples das riquezas de uma terra pela população de outra. No caso, Portugal se apropriava do pau-brasil encontrado nas matas do litoral, mas não havia todo um sistema social e ideológico montado em cima desse fato. Considerando o binômio dominação-dependência que caracteriza o colonialismo, no Brasil daqueles anos não se pode falar em dominação, pois não havia propriamente o que dominar, e muito menos em dependência, uma vez que a sociedade local existente, a indígena, era autossuficiente no trato com a terra e certamente não necessitava do português para nada, apesar de apreciar as bugigangas que ele lhe trazia.
A inexistência de uma fixação regular do português aqui estimulou os corsários franceses, os quais tinham o apoio do rei Francisco I (1515/1547), que não reconhecia o direito de Espanha e Portugal dividirem só entre eles o Novo Mundo (Tratado de Tordesilhas, 1494). Pois, segundo dizia, “não constava nenhuma cláusula dessas no testamento de Adão”.
Tal como os portugueses, os franceses mantiveram bom relacionamento com os indígenas, os quais extraíam o pau-brasil na floresta para os forasteiros em troca de bugigangas e quinquilharias (escambo: troca de uma mercadoria por outra). É interessante observar que esse tipo de relacionamento de trabalho, que deixava o índio livre, com seu próprio ritmo de vida, de caráter bastante assistemático e feito de acasos e circunstâncias, acabou determinando que ele se habituasse à remuneração, qualquer que fosse ela, pelo serviço realizado. Esse fato, entre outros, ajuda a entender sua posterior resistência à escravidão.
Por volta de 1530, Portugal passou a se interessar mais pelo Brasil: o comércio da Índia já estava começando a dar prejuízo, uma vez terminada a era da pilhagem. Além disto, o Brasil estava sendo sistematicamente “visitado” pelo franceses. Assim, para assegurar a efetiva posse da nova terra – de onde poderiam provir, quem sabe, futura riquezas – Portugal viu-se obrigado a criar nela núcleos fixos de povoamento, isto é, colocou em prática a colonização regular. Outro não foi o objetivo da conhecida expedição de Martim Afonso de Souza, que em 1532, tendo percorrido o litoral brasileiro e averiguado as condições para um povoamento estável, fundou, em São Paulo, as primeiras Vilas do Brasil: S. Vicente, Santo André da Borda do Campo e Santo Amaro. Começava, na História do Brasil, a era dos latifundiários e dos administradores. Ao contrário da América Espanhola, que teve uma fase preliminar de conquista e rapina para depois entrar na fase dos administradores, o Brasil não passou por esse estágio, pois não mostrara possuir riquezas capazes de forjar um Cortez ou um Pizarro. A rapinagem e o aventureirismo lusitanos foram exercidos, naquela época, no outro extremo do mundo, a Índia. O contato mais profundo do Brasil com a civilização ocidental começa diretamente sob o signo do colonialismo mercantilista.



Fonte: História do Brasil Colonial, Luiz Roberto Lopez, 7ª ed. Mercado Aberto, 1993, páginas 17 e 18. 

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