domingo, 4 de outubro de 2015

Tempo de troca-troca, por Rogério Mendelski

Se o Brasil tem hoje 34 partidos políticos registrados é porque ainda estamos de fraldas e engatinhando em busca de um sistema político-partidário que defina o que os políticos pensam a respeito de seu (nosso) país. Periodicamente, abre-se tal janela partidária e a revoada da classe política só não envergonha o eleitor porque este tem mais fé e mais conhecimento sobre o seu clube de futebol e sua escola de samba do que sua preferência política. Quantos eleitores brasileiros sabem os nomes dos candidatos escolhidos por eles na última eleição? No dia 3 de outubro do ano passado (sexta-feira – a eleição seria no domingo), uma pesquisa do Datafolha revelava que em cada três eleitores brasileiros, um deles não sabia o número de seu candidato para a Presidência da República.

Um mês depois, o mesmo instituto ouviu 2 mil pessoas em 136 municípios de 24 estados para saber a preferência dos eleitores e o nome dos candidatos escolhidos. O resultado não foi o esperado numa democracia participativa: 23% não lembravam em que tinham votado para deputado estadual; 21,7% não recordavam o nome do candidato a deputado federal; e 20,6% já tinham esquecido o nome de seu candidato ao Senado.

Conhecendo o eleitor melhor do que ele próprio, os políticos brasileiros não têm compromissos com doutrinas permanentes, pois sabem que, quando são votados, recebem essa identificação momentânea na urna por alguma promessa assumida, mas sem a garantia de repetição na próxima eleição.

Assim é que, quando se abre mais uma temporada de troca-troca de partidos, ninguém de se surpreender com tantos abandonos de doutrinas que até ontem eram defendidas como trincheiras ideológicas.

Trocar o PT pelo PMDB, o PCdoB pela Rede, o PROS pelo PDT ou o PSB pelo PSol não significa um aperfeiçoamento ideológico dos “mutantes”.

Trata-se apenas de uma nova camiseta para a próxima eleição.

Os políticos beijam o escudo do novo partido, fazem coraçãozinho com os , como Ronaldinho quando assina o seu mais recente contrato. Trinta e quatro partidos ou 20 clubes no Brasileirão, para o eleitor-torcedor não muda nada.

Marta Suplicy

Fundadora do PT, a senadora Marta Suplicy (SP) deixou o partido para assinar com o PMDB. Identidade ideológica? Não. Marta apenas quer disputar a prefeitura de São Paulo e a oferta veio do PMDB já que Fernando Haddad, atual prefeito petista, vai concorrer à reeleição.

Situação semelhante (1)

O deputado federal Danilo Forte (PMDB-CE) queria ser o prefeito de Caucaia (o segundo colégio eleitoral do Ceará), mas o PMDB não lhe daria esta chance. Então, aceitou a oferta do PSB e será o candidato do partido em 2016.

Situação semelhante (2)

Aqui no RS, o ex-deputado Fabiano Pereira saiu do PT porque foi preterido por Valdeci Oliveira na disputa pela Prefeitura de Santa Maria. Fabiano assinou ficha no PSB e vai à luta eleitoral contra seu antigo companheiro de partido.

Passo Fundo

O prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, deixou o PPS e ingressou no PSB. Com ele tornam-se socialistas outros cem militantes, entre eles cinco secretários municipais: João Antônio Bordin (Obras), Gilberto Bedin (Finanças), Adolfo de Freitas (procurador-geral), Marlise Lamaison Soares (Administração), Carlos Eduardo Lopes da Silva (Desenvolvimento Econômico); e o diretor do Hospital Municipal, Fabiano Bolner.

Perda importante

A mais comentada transferência partidária desta semana foi a do deputado federal João Derly, que trocou o PCdoB gaúcho pelo novo partido de Marina Silva, a Rede. Derly será um dos mais importantes nomes no RS para formação do novo partido. Os neocomunistas liderados pela deputada Manuela D'Ávila estão inconsoláveis.

Fonte: Correio do Povo, página 4 de 4 de outubro de 2015.

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