O
desconceito da política e dos políticos desafia todos os limites,
do absurdo ao inacreditável. As práticas provocam perplexidade.
Graças ao desprezo dos políticos que prometem o impossível planos
inexequíveis não têm respeito pela justiça, pelas leis, esta é a
tônica. Tudo é possível! Outra não era a visão do caudilho
cubano quando em 1961, no discurso de adesão aos postulados
comunistas: “Não somos políticos. Fizemos a redução justamente
para afastá-los. Esta é uma revolução social”. Igualmente, o
general De Gaule, quando atendeu ao chamamento do povo francês, em
1958, afirmou que “estava salvando a França dos políticos e do
regime odioso dos partidos políticos”. A Constituição lhe dava
poderes, artigo 16, que o jurista Osvaldo Trigueiro comparou aos
césares romanos. Os golpes de Estado, nos seus manifestos, a mesma
linguagem, “chegam para salvar o povo dos políticos e da
corrupção”.
O parlamento é um caleidoscópio,
fauna forte e colorida, tem de tudo, bons e maus, em perigosa
proporção. Somam-se os indiferentes. Os bons se diluem nas ações
dos maus, e no silêncio dos indiferentes, segundo Gramsci. A
imprensa é brava, minuciosa. Os profissionais da Justiça, do
Ministério Público, da Polícia cumprem com dignidade tocante seus
deveres, sem se abaterem com a incompreensão e a má-fé. A farta e
robusta prova disponibilizada cala a boca dos cegos por conveniência.
E agora, o que vai acontecer? Temos
confissões, delações, provas escritas, gravadas, condenados,
presos, contas bloqueadas, milhões devolvidos, empresas falidas,
relatórios minuciosos, pareceres irrefutáveis! É possível
ignorar! O povo sabe, o povo sofre. Nossa democracia é
representativa. Os representantes terão a coragem de negar o que a
consciência do povo já assimilou. Lugar de ladrão é na cadeia e
não no poder. O sistema é presidencialista. O presidente é chefe
de Estado e de governo. Não há suspeita, há crimes comprovados.
Mensalão, petrolão não são fantasias, são bilhões de reais. Não
é hora de solidariedade macabra. Só há lugar para vergonha.
Vergonha do povo, dos pobres, dos enganados, dos traídos. Silenciar
é consentir.
Professor de Direito
Fonte: Correio do Povo, página 2 da
edição de 18 de outubro de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário