domingo, 18 de outubro de 2015

O povo sabe, o povo sofre, por Jarbas Lima

O desconceito da política e dos políticos desafia todos os limites, do absurdo ao inacreditável. As práticas provocam perplexidade. Graças ao desprezo dos políticos que prometem o impossível planos inexequíveis não têm respeito pela justiça, pelas leis, esta é a tônica. Tudo é possível! Outra não era a visão do caudilho cubano quando em 1961, no discurso de adesão aos postulados comunistas: “Não somos políticos. Fizemos a redução justamente para afastá-los. Esta é uma revolução social”. Igualmente, o general De Gaule, quando atendeu ao chamamento do povo francês, em 1958, afirmou que “estava salvando a França dos políticos e do regime odioso dos partidos políticos”. A Constituição lhe dava poderes, artigo 16, que o jurista Osvaldo Trigueiro comparou aos césares romanos. Os golpes de Estado, nos seus manifestos, a mesma linguagem, “chegam para salvar o povo dos políticos e da corrupção”.
O parlamento é um caleidoscópio, fauna forte e colorida, tem de tudo, bons e maus, em perigosa proporção. Somam-se os indiferentes. Os bons se diluem nas ações dos maus, e no silêncio dos indiferentes, segundo Gramsci. A imprensa é brava, minuciosa. Os profissionais da Justiça, do Ministério Público, da Polícia cumprem com dignidade tocante seus deveres, sem se abaterem com a incompreensão e a má-fé. A farta e robusta prova disponibilizada cala a boca dos cegos por conveniência.
E agora, o que vai acontecer? Temos confissões, delações, provas escritas, gravadas, condenados, presos, contas bloqueadas, milhões devolvidos, empresas falidas, relatórios minuciosos, pareceres irrefutáveis! É possível ignorar! O povo sabe, o povo sofre. Nossa democracia é representativa. Os representantes terão a coragem de negar o que a consciência do povo já assimilou. Lugar de ladrão é na cadeia e não no poder. O sistema é presidencialista. O presidente é chefe de Estado e de governo. Não há suspeita, há crimes comprovados. Mensalão, petrolão não são fantasias, são bilhões de reais. Não é hora de solidariedade macabra. Só há lugar para vergonha. Vergonha do povo, dos pobres, dos enganados, dos traídos. Silenciar é consentir.


Professor de Direito



Fonte: Correio do Povo, página 2 da edição de 18 de outubro de 2015.

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