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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Carvão em rota de ascensão no RS

Após ápice no século passado, o mineral volta a ser destaque e poderá auxiliar no crescimento da economia gaúcha

Mauren Xavier

O Rio Grande do Sul tem quase 90% das reservas de carvão mineral do Brasil. O 'ouro negro' no passado foi o responsável por impulsionar a economia e desenvolver regiões, em especial a Carbonífera. Porém, passou as últimas décadas tendo sua produção reduzida e sendo praticamente ignorado aos olhos dos grandes investidores. Depois de tanto tempo quase inerte, uma nova corrente tendo dado visibilidade às potencialidades do carvão mineral.

Com apoio de tecnologias, tornou-se possível reduzir os impactos ambientais, tão combatidos no passado, e ampliar as possibilidades de uso desse mineral, como na produção de fertilizantes, apesar de a maior parte do carvão servir para processos de geração de energia. Segundo o presidente da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), Edivilson Brum, é preciso desmitificar conceitos antigos e mostrar as diversas possibilidades.

“Devemos investir agora e aproveitar as potencialidades do carvão mineral para não nos arrependermos no futuro, como ocorreu com o desmonte de hidrovias e ferrovias”, ressalta. Na sua avaliação, os benefícios econômicos são grandes com a valorização do carvão, impulsionando a geração de empregos e a arrecadação de impostos e atraindo investimentos.

Mesma opinião tem o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Luiz Zancan. Segundo ele, é o momento de abrir a discussão sobre o carvão e elaborar uma política industrial específica no Brasil. “É preciso ter investimento em tecnologia, haver mais massa crítica (profissionais especializados) e recursos. Somente desta forma poderemos mostrar a importância e o potencial dessa riqueza chamada carvão mineral”, enfatiza

3,5 milhões de toneladas/ano

No Estado, a CRM tem duas áreas em mineração, em Minas do Leão e Candiota, com capacidade para 3,5 milhões de toneladas/ano. A produção de Candiota se destina à Usina Termelétrica Presidente Médici, da Eletrobras, e a de Minas do Leão a mineradoras de Santa Catarina. Atualmente, a Companhia conta com 476 funcionários, sendo que a maior parte atua em Candiota.

Prefeita quer política própria

Para que o carvão ganhe mais espaço, a prefeita de Minas do Leão, Sílvia Maria Lasek Nunes, acredita ser necessária uma política de investimentos. Com isso, os custos das operações com o carvão, principalmente por conta da questão energética, podem ser reduzidos, tornando o produto mais competitivo. “Caso contrário, seremos sempre o plano B”, ressalta.

Minério presente na vida de diversas gerações

Não é difícil ouvir comentários de que “a cidade cresceu em torno do carvão” nas ruas de Minas do Leão na região Carbonífera. E é verdade. A importância está presente inclusive no nome do município. E o impacto social é imensurável. Muitas famílias se mudaram para a cidade em busca de trabalho e construíram as suas vidas em torno do ciclo do carvão. A mineração faz parte da história de gerações passadas e do presente dos atuais moradores.

O funcionário da CRM Paulo Custódio é um exemplo. Com quase 36 anos de serviços prestados à empresa, ele passou por vários setores – oficina de manutenção, almoxarifado e mineração. Mas recorda com saudades e nostalgia da mineração subterrânea. Por sete anos, atuou na extração a120 metros de profundidade do solo. “Era uma adrenalina muito boa de trabalhar, que superava o medo”, recorda.

O interesse pela mineração veio em parte, do exemplo dos tios, que atuavam na mina. Hoje, trabalha no maquinário a poucos metros de distância do filho Charles, que cursa Engenharia Automotiva e Mecânica e faz estágio. A ligação similar se repete com outros trabalhadores, unidos pela força do carvão.

Fonte: Correio do Povo, página 8 de 8 de setembro de 2015.

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