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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Alemanha e Brasil, por Jurandir Soares

A passagem da primeira-ministra alemã Angela Merkel pelo Brasil foi meteórica, mas suficiente para provocar várias indagações sobre o relacionamento entre os dois países. Começo pelo fato de Merkel vir acompanhada de sete ministros, o que dá uma importância para as relações. Afinal, tratam-se da quarta e da sétima economias do mundo. E aqui estão instaladas cerca de 1,4 mil empresas alemãs, do porte de uma Volkswagen, Mercedes-Benz, Siemens, Basf, etc. Esse relacionamento, em números, é marcado por 13,8 bilhões de dólares em exportações da Alemanha para o Brasil e 6,6 bilhões de dólares daqui para lá – dados são de 2014. A Alemanha é nosso quarto parceiro comercial, porém, estamos com um grande desequilíbrio na balança comercial. Hora, portanto, de aproveitar a alta do dólar e exportar mais para o parceiro europeu.
Sem desprezar as relações comerciais, a pauta de Merkel veio mais focada em três temas: mudanças climáticas, cooperação em cibersegurança e reforma do Conselho de Segurança da ONU. Quanto ao primeiro tema, a Alemanha busca a formação de um consenso para a Conferência sobre o Clima, que será realizada em dezembro, em Paris. Especialmente, porque o país tem problemas de geração de energia, dependendo em boa parte das usinas nucleares. A cibersegurança diz respeito diretamente às duas mandatárias que se encontraram em Brasília. Merkel e Dilma Rousseff foram objeto de espionagem da NSA, a Agência Nacional de Segurança dos EUA. Daí o interesse na busca de um controle maior das informações que dizem respeito à segurança nacional. Quanto ao Conselho de Segurança, assim como o Brasil a Alemanha briga por uma vaga naquele órgão – apesar de ser a maior potência econômica da Europa.
Por último, quero ressaltar o que disse o cientista político Peter Bürle, do Instituto Ibero-Americano de Berlim. “Estou falando sob uma perspectiva alemã. O Brasil é importante porque a Alemanha sabe perfeitamente que no futuro a importância da Alemanha como atuante no sistema internacional vai diminuir, em termo relativos. Então, se a Alemanha quer seguir a ter influência no sistema internacional, isso não pode ser de uma maneira unilateral, mas somente com sócios. E o Brasil é um sócio interessante e muito importante para interesses comuns:” Está explicada, portanto, a afirmação de Merkel de que “os dois países devem se unir”.


Fonte: Correio do Povo, página 9 de 23 de agosto de 2015.

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