A
passagem da primeira-ministra alemã Angela Merkel pelo Brasil foi
meteórica, mas suficiente para provocar várias indagações sobre o
relacionamento entre os dois países. Começo pelo fato de Merkel vir
acompanhada de sete ministros, o que dá uma importância para as
relações. Afinal, tratam-se da quarta e da sétima economias do
mundo. E aqui estão instaladas cerca de 1,4 mil empresas alemãs, do
porte de uma Volkswagen, Mercedes-Benz, Siemens, Basf, etc. Esse
relacionamento, em números, é marcado por 13,8 bilhões de dólares
em exportações da Alemanha para o Brasil e 6,6 bilhões de dólares
daqui para lá – dados são de 2014. A Alemanha é nosso quarto
parceiro comercial, porém, estamos com um grande desequilíbrio na
balança comercial. Hora, portanto, de aproveitar a alta do dólar e
exportar mais para o parceiro europeu.
Sem desprezar as relações
comerciais, a pauta de Merkel veio mais focada em três temas:
mudanças climáticas, cooperação em cibersegurança e reforma do
Conselho de Segurança da ONU. Quanto ao primeiro tema, a Alemanha
busca a formação de um consenso para a Conferência sobre o Clima,
que será realizada em dezembro, em Paris. Especialmente, porque o
país tem problemas de geração de energia, dependendo em boa parte
das usinas nucleares. A cibersegurança diz respeito diretamente às
duas mandatárias que se encontraram em Brasília. Merkel e Dilma
Rousseff foram objeto de espionagem da NSA, a Agência Nacional de
Segurança dos EUA. Daí o interesse na busca de um controle maior
das informações que dizem respeito à segurança nacional. Quanto
ao Conselho de Segurança, assim como o Brasil a Alemanha briga por
uma vaga naquele órgão – apesar de ser a maior potência
econômica da Europa.
Por último, quero ressaltar o que
disse o cientista político Peter Bürle, do Instituto
Ibero-Americano de Berlim. “Estou falando sob uma perspectiva
alemã. O Brasil é importante porque a Alemanha sabe perfeitamente
que no futuro a importância da Alemanha como atuante no sistema
internacional vai diminuir, em termo relativos. Então, se a Alemanha
quer seguir a ter influência no sistema internacional, isso não
pode ser de uma maneira unilateral, mas somente com sócios. E o
Brasil é um sócio interessante e muito importante para interesses
comuns:” Está explicada, portanto, a afirmação de Merkel de que
“os dois países devem se unir”.
Fonte: Correio do Povo, página 9 de
23 de agosto de 2015.
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