terça-feira, 11 de agosto de 2015

Venda tudo, Sartori, por Rogério Mendelski

Em 1975, o então jovem deputado de primeiro mandato Aldo Pinto (MDB) já se preocupava com a quantidade excessiva de empresas de economia mista e fundações públicas criadas pelo governo anterior de Euclides Triches (março de 1971 a março de 1975). Numa extensa reportagem no jornal Folha da Manhã, editado aqui mesmo pela Caldas Júnior, Aldo Pinto Relacionava 40 entidades para este colunista que era repórter e autor da matéria.
Já naquela época havia uma projeção do que seria o futuro das finanças de nosso Estado se essas empresas e fundações não fossem bem administradas e servissem apenas de gazuas para um empreguismo sem a necessidade de concursos públicos.
Passados 40 anos, a previsão de Aldo Pinto estava certa. Houve endividamento e muito empreguismo e nenhum outro governador conseguiu controlar um leviatã que foi mimado, alimentado com milhares de novos empregos e reduzidos reais postos de trabalho.
O RS chegou a ter empresas de economia mista (depois extintas) como a Prograsa (para desidratar cebolas) e a Cintea (construção de estradas alimentadoras), entre outras. Eram empresas que tinham presidência, diretorias e alguns funcionários, todos nomeados sem concurso.
Foi ali, na década de 1970, que o RS se habilitou a tornar-se no futuro um estado destinado a ostentar um desairoso título de devedor irreversível e que se não tomasse medidas corajosas de saneamento das despesas e dos empréstimos contraídos chegaria a um dead line irreversível.
Apenas um governador, Antonio Britto, tentou tirar das costas do Executivo aquele fardo que a cada troca de comando no Piratini se mostrava pesado e difícil de ser carregado. Ele queria privatizar tudo o que fosse possível, pois o RS estava se desviando de suas funções constitucionais de investir em educação, segurança pública, saúde e infraestrutura.
José Ivo Sartori é o décimo governador desde Euclides Triches, tendo exatos 40 anos desde que o deputado Aldo Pinto levantou suas dúvidas sobre a transformação do RS num “estado-empresa” com suas investidas em áreas que a iniciativa privada saberia cuidar com mais talento.
Hoje, o governador Sartori só tem uma bala na agulha para acertar o leviatã e deixar de ser apenas um chefe de departamento de pessoal proecupado com a folha de servidores no fim de cada mês – vender tudo o que for possível, a começar pelo imóveis ociosos. Não há plano B.

A máquina estatal (1)

O RS tem hoje nove autarquias, de acordo com o portal do governo gaúcho. São as seguintes: Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), BRDE, Daer, Detran, IPE, Irga, Junta Comercial do RS, Superintendência de Portos e Hidrovias, Superintendência do Porto de Rio Grande.

A máquina estatal (2)

São 11 fundações: Cientec, Fadergs, Fapergs, FDRH, FEE, Fepagro, Fepam, FGTAS, Metroplan e TVE. Todas, a exemplo das autarquias, fazendo parte do acordo político de governabilidade, sendo distribuídas para os partidos que compõem a bsee parlamentar na Assembleia.

A máquina estatal (3)

As empresas públicas ou de economia mista são as mais disputadas a cada troca de governo. A lista: Procergs, Banrisul, Badesul Desenvolvimento, Ceasa, CEEE, Cesa, Corag, Corsan, CRM, Sulgás.

Banrisul

Como empresa de economia mista, o Banrisul cumpre com seus propósitos por ser um banco tradicional, identificado com os gaúchos e rentável como qualquer organização bancária de nosso país. Será uma honrosa exceção num plano de privatização e venda de ativos públicos.

Prograsa

A Prograsa foi uma empresa criada pelo governador Euclides Triches. Objetivo: desidratar cebola, um importante produto agrícola gaúcho que apodrecia nas lavouras dos então quase inacessíveis municípios de São José do Norte e Mostardas. Foi extinta sem ter desidratado um pé de cebola.

Cintea

Empresa de economia mista do governo gaúcho – Companhia Intermunicipal de Estradas Alimentadoras – criada para construir estradas que fossem ligadas à malha rodoviária estadual e federal. Estava se intrometendo em atividades do Daer e acabou extinta com muito equipamento abandonado.


Fonte: Correio do Povo, página 6 de 26 de julho de 2015.

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