domingo, 9 de agosto de 2015

Um símbolo lamentável, por Gilberto Jasper

A recente inauguração da ponte Anita Garibaldi, a ponte de Laguna, é notícia aguardada há 11 anos. É o fim do suplício e de uma pauta jornalística obrigatória nos meses do verão. E também acaba com os lucros de ambulantes que abasteciam as longas filas com água mineral, sucos e lanches. Ao ler a notícia descobri que vários indicadores – ganha de eficiência, custo do frete com impacto no preço final das mercadorias – trariam melhorias significativas com a obra.
Mais adiante, porém, constatei que como consumidores não teremos benefício financeiro algum. Descobri que “as transportadoras devem aproveitar para recuperar suas próprias margens”. Como assim? Afinal , os fretes, que têm peso direto no preço de tudo o que é adquirido neste país rodoviário, não foram fixados com base nos monumentais engarrafamentos da ponte?
Aos 55 anos, lembrei-me dos reajustes de combustíveis anunciados ao longo da crise do petróleo pelos noticiários de tevê que provocavam filas enormes nos postos de abastecimento. Quando a tão esperada baixa internacional dos preços chegou, jamais se observou redução nas bombas de gasolina.
O poderio das redes sociais, abarrotadas de assuntos irrelevantes, é incapaz de mobilizar a população diante dos abusos que ofendem o consumidor. A figura da “planilha de custos” - onipresente nas justificativas de majoração de preços evapora na hora de reduzir tarifas, preços, taxas e tributos em geral.
A ponte de Laguna é o símbolo dos desajustes que permeiam nosso país. O descumprimento de prazos, a crônica falta de fiscalização de órgãos oficiais, a ausência de controles públicos efetivos e a impunidade resultam em obras caras, infindáveis e geralmente fora de sintonia com a realidade.
Bilhões de prejuízos nos mantêm anestesiados pelo bombardeio diário de escândalos que um dia provocavam revolta. Os rombos serão cobertos com nosso dinheiro. O temperamento cordato de descomprometido nos impede de reclamar quando o garçom traz a conta com valores errados. Ou quando uma casa noturna perturba o sossego da vizinhança com música no volume máximo.
Além de ser um estímulo ao cometimento de crimes da administração pública, a passividade é um péssimo legado para os jovens, contribuintes do futuro. Ao invés de romper com o conformismo, eles continuarão pagando por serviços públicos caros, precários ineficientes.

Servidor público


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 1º de agosto de 2015.

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