A
recente inauguração da ponte Anita Garibaldi, a ponte de Laguna, é
notícia aguardada há 11 anos. É o fim do suplício e de uma pauta
jornalística obrigatória nos meses do verão. E também acaba com
os lucros de ambulantes que abasteciam as longas filas com água
mineral, sucos e lanches. Ao ler a notícia descobri que vários
indicadores – ganha de eficiência, custo do frete com impacto no
preço final das mercadorias – trariam melhorias significativas com
a obra.
Mais
adiante, porém, constatei que como consumidores não teremos
benefício financeiro algum. Descobri que “as transportadoras devem
aproveitar para recuperar suas próprias margens”. Como assim?
Afinal , os fretes, que têm peso direto no preço de tudo o que é
adquirido neste país rodoviário, não foram fixados com base nos
monumentais engarrafamentos da ponte?
Aos
55 anos, lembrei-me dos reajustes de combustíveis anunciados ao
longo da crise do petróleo pelos noticiários de tevê que
provocavam filas enormes nos postos de abastecimento. Quando a tão
esperada baixa internacional dos preços chegou, jamais se observou
redução nas bombas de gasolina.
O
poderio das redes sociais, abarrotadas de assuntos irrelevantes, é
incapaz de mobilizar a população diante dos abusos que ofendem o
consumidor. A figura da “planilha de custos” - onipresente nas
justificativas de majoração de preços evapora na hora de reduzir
tarifas, preços, taxas e tributos em geral.
A
ponte de Laguna é o símbolo dos desajustes que permeiam nosso país.
O descumprimento de prazos, a crônica falta de fiscalização de
órgãos oficiais, a ausência de controles públicos efetivos e a
impunidade resultam em obras caras, infindáveis e geralmente fora de
sintonia com a realidade.
Bilhões
de prejuízos nos mantêm anestesiados pelo bombardeio diário de
escândalos que um dia provocavam revolta. Os rombos serão cobertos
com nosso dinheiro. O temperamento cordato de descomprometido nos
impede de reclamar quando o garçom traz a conta com valores errados.
Ou quando uma casa noturna perturba o sossego da vizinhança com
música no volume máximo.
Além
de ser um estímulo ao cometimento de crimes da administração
pública, a passividade é um péssimo legado para os jovens,
contribuintes do futuro. Ao invés de romper com o conformismo, eles
continuarão pagando por serviços públicos caros, precários
ineficientes.
Servidor
público
Fonte:
Correio do Povo, página 2 de 1º de agosto de 2015.
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