sábado, 8 de agosto de 2015

O socialismo esperto da Grécia, por Rogério Mendelski

Já explico o “esperto”. O primeiro-ministro Alexis Tsipras “vendeu” aos gregos, para se eleger em janeiro deste ano, promessas que ele mesmo deveria saber das impossibilidades de cumpri-las, diante da consagrada dívida do país que alcançava 175% do seu PIB, ou 360 bilhões de euros. Se o Brasil estivesse com a mesma dívida grega e tomado como base o PIB de 2014 (R$ 5,52 trilhões) estaríamos devendo R$ 9,66 trilhões!
E mesmo devendo 360 bilhões de euros, Tsipras prometeu nos palanques gregos aumentar o salário mínimo de 580 para 751 euros, suprir certos impostos para os mais pobres e negociar a dívida externa. E ainda cantou de galo dizendo que não se contentaria com uma “simples renegociação da dívida externa”.
As primeiras medidas socializadoras de Alexis Tsipras deixavam antever que a Grécia não só não sairia da crise como a deixaria ainda mais atolada em dívidas. O apolíneo primeiro-ministro – um “gato” para o leitorado feminino – cancelou privatizações acertadas com a Comissão Europeia, o FMI e o Banco Central Europeu (grupo conhecido popularmente como “a troika”).
Um acordo firmado com o governo grego anterior e derrotado nas urnas foi revogado por Alexis Tsipras, que desautorizou as privatizações do Porto de Pireu, dos aeroportos e da Empresa Pública de Energia. Não satisfeito com a quebra de acordo, Tsipras baixou um decreto para o fornecimento grátis de energia elétrica para 300 mil famílias gregas inadimplentes com a empresa que seria privatizada.
Em menos de seis meses de socialismo, os credores da Grécia resolveram cobrar as medidas austeras prometidas pelos governo anterior e, mais uma vez, Alexis Tsipras foi buscar legitimidade para seus atos num referendo eleitoral pedindo que o povo votasse “não” contra as exigências da troika. E os gregos acreditaram que o “não” vitorioso seria suficiente para diminuir a pressão.
Nesta semana que terminou, o parlamento grego revogou por 228 votos a favor e 64 contra aquele pacote de reformas que tinha desautorizado as privatizações. Provavelmente, já em setembro ou outubro, a Grécia terá novas eleições para tentar acabar com as safadezas eleitorais de janeiro. O socialismo benevolente sempre termina quando acaba o dinheiro dos outros.

Dando o que não tem

Algumas nações podem quebrar quando insistem em prometer (e dar) o que jamais poderia ser entregue ao povo sem uma contrapartida que equilibre receita e despesa. Isso vale para qualquer atividade humana porque não existe almoço grátis como dizia o economista Milton Friedman.

Sem perda de identidade

A Grécia poderia ter feito os primeiros ajustes em sua economia se tivesse promovido as privatizações que lhe dariam bilhões de novos euros sem qualquer interferência em seus brios nacionalistas.

Porto de Pireu

O principal porto da Grécia, Pireu, será privatizado como ficara prometido ao grupo chinês cosco (China Ocean Shipping Company) por 500 milhões de euros. A privatização fora cancelada depois da eleição de Alexis Tsipras.

Aeroportos

Na mesma tendência irão os 14 aeroportos gregos e uma imensa área de milhares de hectares no entorno do antigo terminal aéreo de Atenas. Desde 2010 que Atenas assumiu junto dos credores internacionais – Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia – o compromisso de pôr em marca um programa alargado de privatizações abarcando equipamentos, propriedades e estruturas empresariais do Estado.

Escola de Chicago (1)

O pensamento do mercado livre nasceu na Universidade de Chicago e os seus defensores foram os professores George Stigler e Milton Friedman. É de Friedman o bordão “não existe almoço grátis”. Ou seja, é impossível de se conseguir algo sem nada em troca. Ou ainda: bons serviços públicos exigem impostos justos.

Escola de Chicago (2)

As teorias da “Escola de Chicago” inicialmente embasaram a administração econômica da ditadura de Pinochet no Chile, na década de 1970, com os “chicago boys”, e posteriormente foram adotadas, na década de 1980, por Margaret Thatcher na Inglaterra (thatcherismo) e por Ronald Reagan nos Estados Unidos (reaganomics). Todos esses países estão com suas economias ajustadas.


Fonte: Correio do Povo, página 6 de 19 de julho de 2015.

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