Pela
imprensa local soubemos da intenção do governo estadual de fechar o
Jardim Botânico de nossa cidade. Também estaria sob risco o
Zoológico de Sapucaia do Sul. Veio-nos à lembrança o ano de 1997,
mês de dezembro. Meu pai, então aos 90 anos, Paulo Annes Gonçalves,
engenheiro agrônomo graduado em 1927 pela Ufrgs, havia se internado
no Hospital São Lucas da PUC.
Da
janela do 9º andar visualizou a área do Jardim Botânico.
Contou-nos que em 1952, trabalhando como agrônomo no Irga, tendo
retornado havia alguns anos de viagem de estudos aos EUA, foi
indicado pelo major Cacildo Krebs, então presidente dessa autarquia,
a visitar o governador Ildo Menegheti, governador do nosso estado.
Pretendia Menegheti criar um Jardim Botânico, a exemplo de outras
cidades do país e do planeta. Seus objetivos seriam pesquisa de
fauna e flora do Rio Grande do Sul e visava a um complementação
educacional tanto em nível público como privado das escolas
gaúchas. Constituídas uma comissão, esta se mobilizou e foi criado
o Jardim Botânico. Contou-nos que de início foi sugerido área nos
limites de Viamão, ocasião em que meu pai argumentou a possível
dificuldade de uma professora e seus alunos se deslocarem até lá,
saindo, por exemplo, do Colégio Júlio de Castilhos ou do Instituto
de Educação.
Segundo
ele, na época os bondes iam até no máximo o final da avenida
Osvaldo Aranha. Seria muito difícil levar os alunos ao seu objetivo.
Teria sido um fator decisório na escolha da área, hoje dentro da
cidade. Também nos comentou que a área inicial era maior, tendo
sido invadida ou tomada em parte, durante as décadas que se
seguiram. Algo parecido com o que ocorrera na área da “escola”,
como chamava a Faculdade de Agronomia onde estudara. Imaginamos a
repercussão que teria a extinção ou fechamento do Jardim Botânico
do Rio de Janeiro ou de São Paulo ou quem sabe do Kew Gardens,
secular jardim botânico de Londres às margens do rio Tâmisa.
Parece-nos que cabe às atuais gerações e governantes preservar ao
máximo o que nossos antepassados criaram e desenvolveram com
dificuldades que só nos cabe imaginar. São instituições que
cumprem seus objetivos científicos, educacionais e recreativos da
coletividade. Fica este registro histórico a fim de estimular um
maior debate sobre o assunto.
Médico
Fonte:
Correio do Povo, edição de 22 de agosto de 2015, página 2.
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