sábado, 8 de agosto de 2015

Liberdade de expressão em baixa

Jornalistas perseguidos e ameaçados são um retrato da situação vivida por milhares de pessoas após a Primavera Árabe

Damasco – Os protestos da Primavera Árabe abalaram países do Norte da África e da Península Arábica no início da década, mas quatro anos mais tarde os gritos por liberdade – especialmente a liberdade de expressão e de imprensa – parecem perdidos em um cenário de repressão cada vez maior, e que tem se tornado um pesadelo para jornalistas, constantemente ameaçados pelas forças dos regimes. “Por toda a região do mundo árabe, líderes cada vez mais autoritários descobriram que a liberdade de imprensa e das mídias digitais traz atenção para problemas como violações dos direitos humanos e corrupção”, diz Adrian Shabaz, analista de pesquisas do Oriente Médio da ONG Freedom House. “Nas nações em que a Primavera Árabe trouxe breves ganhos à sociedade após os protestos, os líderes do movimento e ativistas foram presos, e para garantir que revoluções não voltem a acontecer, os governos endureceram o combate à imprensa livre.”
A situação ganha tons mais sérios nos países do Golfo Pérsico. O Barein – comandado pelo rei sunita Hamad bin Isa Al Khalifa, e palco de protestos no início de 2011 – teve a ajuda de mil soldados enviados da Arábia Saudita para conter as multidões que exigiam liberdade política e um fim da discriminação contra os xiitas – que formam cerca de três quartos da população. Centenas e ativistas e manifestantes foram presos, gerando críticas até mesmo do presidente americano, Barack Obama, um tradicional aliado país e da Arábia Saudita, pelo uso de força excessiva na repressão aos protestos.
Nomes omo Abdul Karim Fakhrawi, fundador do al-Wasat, principal jornal de oposição do país, e Zakariya al-Ashiri, editor do blog al-Dair, foram detidos, torturados e assassinados por forças do regime. Um pequeno grupo de fotógrafos ligados à agência britânica Demotix se tornou o único elo do país com um mundo exterior. Um a um eles foram presos, acusados de participar de encontros ilegais e incitar o ódio contra a monarquia. Quatro anos mais tarde, oito seguem atrás das grades. Além disso, repórteres despedidos de seus empregos ficam impedidos de trabalhar em qualquer outro país do Golfo, graças a um pacto de segurança regional adotado em 2012.
O pacto entre as nações da Península Arábica foi assinado para “combater o terrorismo e a instabilidade na região”, e o mesmo motivo têm sido apresentado para perseguir e prender jornalistas críticos aos regimes. Na Arábia Saudita, um endurecimento da lei contra o terrorismo, definido como “qualquer ato com a intenção de perturbar a ordem pública ou insultar o país”, vem sendo usado para justificar a prisão de blogueiros. Se durante a Primavera Árabe o ciberespaço funcionou como a principal ferramenta da nova geração para combater as forças do regime, agora as monarquias locais, com o apoio do Ocidente, apertaram o cerco contra a dissidência na Internet. “É errado imaginar o Oriente Médio como uma sociedade fechada. A Arábia Saudita tem o maior número de usuários do Facebook e YouTube per capta”, diz Dhahbaz.


Fonte: Correio do Povo, página 6 de 2 de agosto de 2015.

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