Jornalistas
perseguidos e ameaçados são um retrato da situação vivida por
milhares de pessoas após a Primavera Árabe
Damasco
– Os protestos da Primavera Árabe abalaram países do Norte da
África e da Península Arábica no início da década, mas quatro
anos mais tarde os gritos por liberdade – especialmente a liberdade
de expressão e de imprensa – parecem perdidos em um cenário de
repressão cada vez maior, e que tem se tornado um pesadelo para
jornalistas, constantemente ameaçados pelas forças dos regimes.
“Por toda a região do mundo árabe, líderes cada vez mais
autoritários descobriram que a liberdade de imprensa e das mídias
digitais traz atenção para problemas como violações dos direitos
humanos e corrupção”, diz Adrian Shabaz, analista de pesquisas do
Oriente Médio da ONG Freedom House. “Nas nações em que a
Primavera Árabe trouxe breves ganhos à sociedade após os
protestos, os líderes do movimento e ativistas foram presos, e para
garantir que revoluções não voltem a acontecer, os governos
endureceram o combate à imprensa livre.”
A
situação ganha tons mais sérios nos países do Golfo Pérsico. O
Barein – comandado pelo rei sunita Hamad bin Isa Al Khalifa, e
palco de protestos no início de 2011 – teve a ajuda de mil
soldados enviados da Arábia Saudita para conter as multidões que
exigiam liberdade política e um fim da discriminação contra os
xiitas – que formam cerca de três quartos da população. Centenas
e ativistas e manifestantes foram presos, gerando críticas até
mesmo do presidente americano, Barack Obama, um tradicional aliado
país e da Arábia Saudita, pelo uso de força excessiva na repressão
aos protestos.
Nomes
omo Abdul Karim Fakhrawi, fundador do al-Wasat, principal jornal de
oposição do país, e Zakariya al-Ashiri, editor do blog al-Dair,
foram detidos, torturados e assassinados por forças do regime. Um
pequeno grupo de fotógrafos ligados à agência britânica Demotix
se tornou o único elo do país com um mundo exterior. Um a um eles
foram presos, acusados de participar de encontros ilegais e incitar o
ódio contra a monarquia. Quatro anos mais tarde, oito seguem atrás
das grades. Além disso, repórteres despedidos de seus empregos
ficam impedidos de trabalhar em qualquer outro país do Golfo, graças
a um pacto de segurança regional adotado em 2012.
O
pacto entre as nações da Península Arábica foi assinado para
“combater o terrorismo e a instabilidade na região”, e o mesmo
motivo têm sido apresentado para perseguir e prender jornalistas
críticos aos regimes. Na Arábia Saudita, um endurecimento da lei
contra o terrorismo, definido como “qualquer ato com a intenção
de perturbar a ordem pública ou insultar o país”, vem sendo usado
para justificar a prisão de blogueiros. Se durante a Primavera Árabe
o ciberespaço funcionou como a principal ferramenta da nova geração
para combater as forças do regime, agora as monarquias locais, com o
apoio do Ocidente, apertaram o cerco contra a dissidência na
Internet. “É errado imaginar o Oriente Médio como uma sociedade
fechada. A Arábia Saudita tem o maior número de usuários do
Facebook e YouTube per capta”, diz Dhahbaz.
Fonte:
Correio do Povo, página 6 de 2 de agosto de 2015.
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