quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Intervenção federal? E daí? Por Rogério Mendelski

Sim, e daí? A quem interessa uma intervenção federal no RS? O assunto chegou a ser dominante desde a última segunda-feira e aumentou consideravelmente depois que o governador José Ivo Sartori foi a Brasília no final desta terça-feira se encontrar com os ministros Teori Zavascki, Celso de Mello e Luís Roberto Barroso.
Na volta de Brasília o governador Sartori afastou tal possibilidade que não estava em julgamento no STF, pois a nossa Corte Suprema votava apenas um recurso (agravo regimental) do governo gaúcho, que buscava derrubar uma decisão do TJRS que determinou o pagamento em dia dos vencimentos do funcionalismo.
Minudências jurídicas à parte, imaginemos a intervenção federal no RS porque Sartori não pagou parte da folha e ainda parcelou vencimentos. A intervenção dar-se-ia pela citada razão específica e o interventor teria de cumprir o que o governador afastado deixou de fazer.
A intervenção seria uma varinha mágica no caixa do Tesouro estadual? Estaria o interventor incorporado pelo espírito do rei Midas que, ao tocar (por exemplo) na papelada de nossas dívidas, estas se transformariam em barras de ouro?
Intervenção federal é coisa séria e o STF tem assuntos mais importantes a tratar. O governador Sartori atrasou o pagamento de parte do funcionalismo, não por ser relapso, mas pela falta de dinheiro. O diálogo tão lembrado nas últimas horas deveria ser constante desde que o governador assumiu.
Tivesse o governador aberto as contas e falado sobre a “herança” recebida, nos primeiros dias de seu governo, com o devido apoio de sua bancada na Asembleia, talvez o clima lhe fosse hoje o mais favorável.
Não é bem gaúcho o ditado “é do couro que saem as correias?” Mas de que couro estamos falando, se o que temos não pode ser curtido pelas marcas do ferro em brasa dos gastos acima das receitas, as quais o deixaram inutilizado?
Marca de ferro em brasa não desaparece do couro do rebanho com capataz novo na estância.

A lenda de Midas (1)

Midas, da Frígia (hoje área de Anatólia, na Turquia), encontrou um idoso chamado Sileno que estava perdido depois de um porre de vinho. Sileno era importante no Olimpo, pois criara como filho Baco, o deus do vinho. Baco, feliz com o reencontro proporcionado por Midas, disse ao rei da Frígia que faria real qualquer desejo que sonhasse. Midas, então, pediu que tudo que tocasse se transformasse em ouro.

A lenda de Midas (2)

Imediatamente, Baco deferiu o pedido e Midas não parou mais de ver ouro na sua frente. Tudo se transformava no precioso metal, inclusive seus alimentos e sua filha amada, depois de lhe dar um abraço. A vida de Midas mudou e estava ameaçada, pois nem mesmo comer ele podia. Implorou a Baco pela volta de sua vida normal, no que também foi atendido pela generosidade divina.

A lenda de Midas (3)

Midas tocou sua vida e, um dia, entrou em choque com Timolo, deus das montanhas. Timolo julgou um desafio musical entre Pã, o deus dos bosques, e Apolo, o deus da luz e da beleza. Pã na flauta e Apolo na lira. Apolo venceu, mas Midas discordou e criticou a decisão. Timolo castigou Midas dando-lhe orelhas de burro.

A lenda de Midas (4)

Midas escondeu suas orelhas com um turbante, mas seu cabeleireiro sabia e, não conseguindo esconder o segredo, cavou um buraco, gritou bem alto “o rei Midas tem orelhas de burro” e logo cobriu-se com areia. No local nasceram pés de junco e, toda vez que ventava, ouvia-se na plantação o segredo das orelhas de Midas.

Moral da lenda

É melhor confiar desconfiando do poder dos deuses olímpicos. Um deles lhe dará o poder de transformar tudo em ouro. Outro, se for contrariado, vai ornamentar sua cabeça com orelhas de burro.



Fonte: Correio do Povo, página 6 de 6 de agosto de 2015.


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