sábado, 8 de agosto de 2015

Falta pão, falta razão?, por Rogério Mendelski

O ditado português “em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão” está sendo desmentido pela crise financeira atual do governo gaúcho. Os servidores públicos têm razão quando exigem salários em dia e o governo tem razão quando diz que não pode honrar a folha de pagamento pela obviedade da falta de dinheiro.
Se o salário atrasar ou chegar parcelado vai faltar pão, haverá briga, mas a razão estará presente nos argumentos dos dois lados. E, já que estamos falando de um ditado português, vale lembrar um mais antigo, do filósofo grego Sócrates - “a verdade não está com os homens, mas entre os homens” - , que poderia ser aplicado ao tema desta coluna.
E se a razão que os servidores e o governo disputam estiver apenas entre eles? Por quais razões o RS chegou a tal ponto de insolvência financeira que nem sequer consegue arrecadar o suficiente para pagar seus servidores?
Acredito que a maldição que assombra e ainda assombrará mais a questão “servidores pagamento em dia” identifica-se na figura do servidor comissionado, o tal cecê. O serviço prestado pelo Estado deveria ter uma regra inquebrantável – quem quisesse entrar para essa carreira, o acesso só daria pela porta da frente, que se chama concurso público.
No entanto, sabemos que jamais foi assim nos últimos 40 anos, quando os concursos públicos ficaram restritos aos cargos impossíveis de serem preenchidos pela nomeação política – magistratura, Ministério Público, segurança pública, Receita Estadual, entre os principais.
Se essas atividades essenciais ao funcionamento da máquina pública também estivessem liberadas do concurso público, alguém duvidaria da nomeação política, do apadrinhamento e do nepotismo?
Agravando o quadro funcional com o inchaço dos servidores comissionados, as Constituições federais de 1967 e 1968 efetivaram dezenas de milhares de servidores que entraram na função pública pela porta da amizade com algum político.
Qualquer analista de finanças públicas que projetasse o custo de uma folha funcional com tantas “portas de entrada” saberia que um dia não haveria receita suficiente para cobrir tanta despesa irresponsável com o empreguismo que hoje é uma metástase que contaminou a administração estadual. Esse dia chegou.

Dados oficiais (1)

Tomando como fonte a Secretaria da Fazenda, a coluna foi procurar alguns dados sobre a despesa com servidores apenas da administração direta, isto é, secretarias e órgãos do primeiro escalão.

Dados oficiais (2)

em 27 órgãos há um total de 144.788 servidores ativos (incluindo-se até o governador) com um custo mensal de R$ 573 milhões. Desse total de servidores, 1.387 são comissionados e custam R$ 5,23 milhões.

Dados oficiais (3)

O que surpreende é o número de servidores aposentados: 143.710, apenas 1.078 a menos que no quadro de servidores ativos, mas com um custo de mensal maior: R$ 631 milhões.

Dados oficiais (4)

Na administração direta estadual (fora fundações, autarquias e economias mistas) há 288.498 servidores (ativos e aposentados) que custam R$ 1,20 bilhão.

Fundações e autarquias

O RS tem fundações com 5.934 servidores (ativos e aposentados) a um custo mensal de R$ 36 milhões. São oito autarquias com um total de 55.449 servidores (ativos e aposentados) com uma folha mensal de R$ 227 milhões.

O total parcial

A coluna não pôde acessar o custo mensal das empresas de economia mista, mas há um total parcial da administração direta, fundações e autarquias, a saber: servidores (ativos e inativos): 349.881, com um custo mensal de R$ 1,46 bilhão. Na administração indireta (fundações, economias mistas e autarquias) há milhares de cargos comissionados não computados nos lados apresentados aos leitores.


Fonte: Correio do Povo, página 5 de 2 de agosto de 2015.

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