domingo, 16 de agosto de 2015

Estados Unidos e Cuba, por Jurandir Soares

Nesta sexta-feira, a bandeira dos Estados Unidos voltou a tremular junto à embaixada em Havana. Num ato simbólico, ela foi hasteada pelos mesmos três marinheiros que arriaram em 1961, quando as relações entre os dois países foram rompidas. O secretário de Estado americano, John Kerry, esteve presente e destacou a vontade do governo norte-americano de incrementar as relações com a ilha. Seguramente, vai haver a partir de agora uma invasão norte-americana a Cuba – não só de turistas, mas também de empreendedores. Afinal, há a informação de que já foi feito um levantamento aerofotográfico da ilha.
Para muita gente há o temor de que essa invasão americana irá destruir o “museu a céu aberto” que é Havana. Não acredito, por um detalhe: a cidade antiga é tombada pela Unesco e, como tal, deve ser preservada. Aliás, a Unesco tem feito um intenso trabalho na recuperação de prédios, porém sua ação tem alcançado cerca de 20% dos edifícios que necessitam de restauração. A maior parte se constituiu em grandes cortiços, abrigando famílias pobres que ali se aglomeram. A filosofia norte-americana, como se sabe, não é de recuperar prédios, mas de derrubá-los e fazer novas edificações. Não podrão fazer isto. Quando muito, irão recuperar alguns prédios para abrigar uma lanchonete do McDonald's, um café do Starbucks ou outra franquia do gênero. Os grandes empreendimentos serão erguidos nos arredores de Havana. Provavelmente, ião criar uma área de negócios, com grandes prédios, como há um exemplo dentro do próprio território americano: New Orleans. Ali, o centro histórico, construído pelos franceses, está preservado, sendo local de bares, lojas, restaurantes e de exibição dos múltiplos executores de jazz e blues. Um lugar que tem história e tem charme. O mesmo pode ser feito em Havana.
Ao mesmo tempo em que as relações estão sendo restabelecidas, Fidel Castro está apresentando uma conta aos EUA. Diz que devem milhões de dólares por danos causados a Cuba. Quanto a uma indenização desse tipo, Fidel pode esperar sentado. No entanto, seguramente os norte-americanos irão colocar na ilha, em investimentos, muito mais que os milhões de dólares que Fidel está cobrando.





Fonte: Correio do Povo, página 7 de 16 de agosto de 2015.

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