segunda-feira, 3 de agosto de 2015

E a taxa de juros?, por Nelson Jobim

Houve aumento da taxa para 14,25%.
Afirmam uns que não havia justificativa para tal: a economia não está aquecida, não há pressões de demanda e o diferencial de juros com o exterior é enorme.
O PIB terá desempenho negativo da ordem de 2,5% neste ano, com chance zero de recuperação curto prazo.
O desemprego cresce e o rendimento médio das famílias cai.
A inflação é alimentada, basicamente, pelo aumento da energia, água, combustíveis e transportes urbanos.
Os juros são instrumento forte do controle da inflação, mas, se utilizados com imperícia, poderão terminar de quebrar o país.
Sobre isso, temos algumas premissas e várias perguntas.
Normalmente subimos os juros para conter uma inflação de demanda: todos com muito dinheiro e querendo comprar. Estamos em recessão. As pessoas com pouco dinheiro ou não dispostas a gastar.
Dependemos de poupança externa e precisamos atrair capital estrangeiro.
Taxas de juros alta atrai o capital estrangeiro.
Hoje há grande pressão inflacionária oriunda da correção nos preços das tarifas públicas – inflação de custos.
Não seria importante evitar que haja mais pressão nos custos dos produtos, vinda do aumento do dólar?
Se o investidor sair do país não haverá um aumento da demanda por dólares com sua valorização frente ao real – aumento do câmbio?
O Bacen tem puxado os juros olhando o dólar, para que o investidor estrangeiro não saia do país?
O objetivo não seria que a taxa de câmbio não suba tanto e pressione os preços de produtos importados e seus derivados? As expectativas são ruins.
Não teríamos que pagar mais para que o investidor compre nossos papéis (mais juros), dado que a situação política representa risco maior para eles?
Em termos reais, a taxa de juros, descontada a inflação, não está, este ano, próxima à lei de dezembro de 2014? Os juros não estavam em 11,75% contra uma inflação de 6,41%: uma diferença entre taxas de 5,34 pontos percentuais?
Hoje não estamos com a taxa em 14,25% contra uma inflação de 8,89% acumulada até junho, ou seja, uma diferença de 5,36 pontos percentuais?
Mas cada aumento dos juros não eleva as despesas do governo em pelo menos R$ 15 bilhões (anualizados) e deprime a atividade e as receitas tributárias.
O que fazer?


Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal



Fonte: Zero Hora, página 27 de 3 de agosto de 2015.

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