segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Alta do dólar poderá adiar o recuo de juro

Analistas já passam a considerar hipótese de o BC segurar cortes na Selic

São Paulo – A alta do dólar está levando parte do mercado a revisar as projeções de inflação e da taxa básica de juros. Com a mudança no patamar do câmbio, os analistas passaram a esperar uma alta maior dos preços e possivelmente e um adiamento do início de queda da taxa Selic.
Nos últimos 30 dias, o real já perdeu 11,06% em relação ao dólar. No ano, a desvalorização é de 31,26%. Esse movimento de depreciação cambial pode ser explicado por duas grandes frentes. Internamente, houve uma piora na percepção de risco brasileiro por causa da crise política e pelo anúncio da revisão da meta fiscal. No exterior, há um movimento de fortalecimento da moeda norte-americana por causa da expectativa da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, além de a desvalorização do preço das matérias-primas (commodities) afetar moedas de países exportadores de produtos básicos como o Brasil.
Todo esse novo cenário fez com que o banco Itaú aumentasse as suas projeções para câmbio e inflação. A previsão para o dólar ao fim desta ano subiu de R$ 3,20 para R$ 3,55, e para o IPCA aumentou de 9,1% para 9,3%. A estimativa para a inflação de 2016 – ano em que o Banco Central promete alcançar a meta de 4,5% - também piorou. O cálculo do Itaú subiu de 5,3% para 5,8%. Para a consultoria MB Associados, a inflação deverá ficar em 5,6%. A projeção anterior era calculada em 5,4%. “A pressão cambial deverá ainda se manter ao longo do primeiro semestre do ano que vem”, reiterou Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria.
Parte dos analistas também passou a considerar a hipótese de o BC adiar a queda da Selic, hoje em 14,25% ao ano. “A inflação vai demorar um pouco mais para cair. Isso significa que o BC vai demorar mais para derrubar o juro”, disse Felipe Salles, economista do Itaú. Para o banco, a primeira queda da Selic passou do primeiro trimestre para o segundo semestre de 2016. Um outro fator que pode manter a Selic inalterada é a piora da política fiscal. “Como o ajuste fiscal não tem ajudado no controle da inflação, o BC terá de manter a Selic em 14,25% no começo de 2016”, concluiu Vale, da MB.



Fonte: Correio do Povo, página 6 de 17 de agosto de 2015.

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