Eles
não sabem atear fogo, mas sempre que encontram uma brasinha, não se
aguentam, enchem o peito e sopram, abanam... fazem de tudo para que
dela se levante uma fogueira.
Já
faz algum tempo que perambulo pelos corredores da escola. O fato é
que, nessa jornada, acabei encontrando caminhos bonitos e que nem
sempre são compreendidos por pés jovens (como os meus). Para
entenderem e podermos compreender o que quero dizer é necessário
que falemos de mor – e você sabe qual é o contrário de amor?
Errou quem arriscou “ódio”. Não, não é. O contrário dele é
a indiferença o “tanto faz”. O oposto é isso, porque “desamar”
é deixar de ter mar. É quando nos tiram o mar. É ganhar um
deserto.
Hoje
– por conta (e através) desses nobres “educadores das antigas”
- sei bem ser professor é como estar em uma gangorra e sentir prazer
tanto no alto quanto no baixo. E amar todos os níveis. É nivelar-se
a cada tamanho e, às vezes, até negar-se um pouco para que todos
ganhem certa altitude no outro extremo do brinquedo. Fácil? Não é
mesmo. Se um piano só se afina com muita escuta, imaginem uma
orquestra inteira?!
Com
os “antigos” aprendi isso: só me demoro em lugares que não
ficam e que, só de olhar, me levam junto. Sou um teacher que
ainda usa fraldas, preciso ser levado. Sinto o mundo pela boca, como
uma criança desejando não ter, mas ser mundo. Por isso degusto as
vozes e os temperos da experiência de cada um desses mestres, seres
mapeados por estranhas mais longas do que as minhas. Volta e meia
para um, converso, “apreendido” (do verbo aprender, mesmo) e me
afino com eles. Muitos não se fizeram doutores por paéis,
fizeram-se fazendo fogueiras em lugares pouco favoráveis a
“queimações”. Alguns incendeiam até mesmo garotinho cheio de
“expertises” teóricas, feito eu, e, quando o fazem, os
educandários se iluminam...
Enfim,
escrevi bastante até aqui (perdoem-me!). Tudo que fiz foi tentar
desenhar uma coisa simples, e “é preciso ser muito bom para ser
simples, guri!” - já disse meu pai. Não sou como ele. Minhas
pernas ainda não tiveram tempo para ser. Então, para concluir, vou
arriscar um desabafo mais preciso do que quero dizer:
“Não
gosto quando professores se aposentam. Aposentando-se, menino que
sou, fico órfão dos bons ensinamentos, porque a docência é um
sacerdócio, e por ser uma missão tão sacra, preciso deles para me
acompanharem em orações que ainda não sei rezar sozinho”.
Mestre
em Letras
Fonte:
Correio do Povo, edição de 5 de julho de 2015, página 2.
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