Houve
um tempo em Porto Alegre que pessoas que não conseguiam pagar suas
contas eram humilhadas publicamente pelo homem de vermelho. “Como
assim, humilhadas?”, deve estar perguntando o leitor mais jovem em
tempos do politicamente correto.
Explico.
Um homem trajando vermelho dos pés à cabeça – quepe, camisa e
calça – com a inscrição nas costas “cobrador”, causava
pânico por onde passava, já que sua presença era a certeza de
estar buscando um “caloteiro” no bairro.
Conheci
um deles como colega noturno de sala de aula. Era norma da empresa de
cobrança causar um terror cromático e ele me contou que tinha um
prazer sádico adicional.
Como
se não bastasse a sua ostensiva presença nas ruas de Porto Alegre –
chegava de lambreta -, Jorginho (assim era tratado na escola) fazia
questão de perguntar: “É aqui mesmo que mora o fulano?”.
Não
havia “direitos humanos” e muito menos “assédio moral” para
os maus pagadores e para quem caía no cadastro vermelho por alguns
atraso na prestação da geladeira, do fogão. Quem não pagava caía
na boca do povo.
Os
cobradores de vermelho não tiveram vida longa. A reação dos
devedores era bater neles o emprego já não era procurado. A
humilhação era respondida na porrada. De repente, eles assumiram,
pois a empresa de cobrança dos homens de vermelho foi despejada pelo
seu locador por falta de pagamento.
Cobrança
exagerada?
O
nosso Estado sofreu uma “cobrança de vermelho” por parte do
governo federal. Imediatamente, o RS foi manchete nacional pelo
crédito cortado por Brasília. Não somos caloteiros, mas entre
pagar o governo federal e pagar o funcionalismo, Sartori fez a opção
pelo social.
Volume
morto
As
finanças gaúchas já secaram até no “volume morto” e esses 264
milhões mensais cobrados por Brasília estão fazendo falta. Quem
sabe o “cobrador de vermelho” que insiste em bater na porta do
Piratini cortando nossos créditos federais mude seu comportamento
diante da situação miserável do governo gaúcho?
Saída
legal
A
solução pode estar na proposta do Ministério Público Estadual,
que quer o caso no STF. O procurador-geral de Justiça, Marcelo
Dornelles, disse ontem que “o nosso sentimento é de que a questão
salarial é obrigação alimentar e o governo não poderia ceder
perante outras dívidas. Agora, isso é uma decisão que é
política”.
A
boa tese
“Agora
minha opinião é que essa dívida já foi paga. São números! Nós
estamos pagando juros absurdos, exorbitantes. O que está faltando é
uma pressão no governo federal, não só do governo (do Estado), mas
da bancada federal e da sociedade gaúcha como um todo”, afirmou o
chefe do Ministério Público gaúcho.
Tudo
igual
A
tese do procurador Marcelo Dornelles não deixa de ser idêntica à
defendida pelo Brasil diante de alguns credores internacionais. Assim
como os juros pagos por nosso país já resgataram todas as nossas
dívidas, o RS já cansou de pagar a sua dívida com Brasília.
Fonte:
Correio do Povo, página 6 de 13 de agosto de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário