segunda-feira, 13 de julho de 2015

O homem de vermelho voltou?, por Rogério Mendelski

Houve um tempo em Porto Alegre que pessoas que não conseguiam pagar suas contas eram humilhadas publicamente pelo homem de vermelho. “Como assim, humilhadas?”, deve estar perguntando o leitor mais jovem em tempos do politicamente correto.
Explico. Um homem trajando vermelho dos pés à cabeça – quepe, camisa e calça – com a inscrição nas costas “cobrador”, causava pânico por onde passava, já que sua presença era a certeza de estar buscando um “caloteiro” no bairro.
Conheci um deles como colega noturno de sala de aula. Era norma da empresa de cobrança causar um terror cromático e ele me contou que tinha um prazer sádico adicional.
Como se não bastasse a sua ostensiva presença nas ruas de Porto Alegre – chegava de lambreta -, Jorginho (assim era tratado na escola) fazia questão de perguntar: “É aqui mesmo que mora o fulano?”.
Não havia “direitos humanos” e muito menos “assédio moral” para os maus pagadores e para quem caía no cadastro vermelho por alguns atraso na prestação da geladeira, do fogão. Quem não pagava caía na boca do povo.
Os cobradores de vermelho não tiveram vida longa. A reação dos devedores era bater neles o emprego já não era procurado. A humilhação era respondida na porrada. De repente, eles assumiram, pois a empresa de cobrança dos homens de vermelho foi despejada pelo seu locador por falta de pagamento.

Cobrança exagerada?

O nosso Estado sofreu uma “cobrança de vermelho” por parte do governo federal. Imediatamente, o RS foi manchete nacional pelo crédito cortado por Brasília. Não somos caloteiros, mas entre pagar o governo federal e pagar o funcionalismo, Sartori fez a opção pelo social.

Volume morto

As finanças gaúchas já secaram até no “volume morto” e esses 264 milhões mensais cobrados por Brasília estão fazendo falta. Quem sabe o “cobrador de vermelho” que insiste em bater na porta do Piratini cortando nossos créditos federais mude seu comportamento diante da situação miserável do governo gaúcho?

Saída legal

A solução pode estar na proposta do Ministério Público Estadual, que quer o caso no STF. O procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, disse ontem que “o nosso sentimento é de que a questão salarial é obrigação alimentar e o governo não poderia ceder perante outras dívidas. Agora, isso é uma decisão que é política”.

A boa tese

Agora minha opinião é que essa dívida já foi paga. São números! Nós estamos pagando juros absurdos, exorbitantes. O que está faltando é uma pressão no governo federal, não só do governo (do Estado), mas da bancada federal e da sociedade gaúcha como um todo”, afirmou o chefe do Ministério Público gaúcho.

Tudo igual

A tese do procurador Marcelo Dornelles não deixa de ser idêntica à defendida pelo Brasil diante de alguns credores internacionais. Assim como os juros pagos por nosso país já resgataram todas as nossas dívidas, o RS já cansou de pagar a sua dívida com Brasília.



Fonte: Correio do Povo, página 6 de 13 de agosto de 2015.

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