sábado, 11 de julho de 2015

Gestante que escolher cesárea assinará termo

As gestantes que optarem por cesariana sem justificativa médica terão de assinar termo se responsabilizando pelos riscos e consequências do procedimento. O documento é necessário a quem fizer a cirurgia por convênio. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)editou a resolução que passou a valer ontem com normas para estimular parto normal.
Conforme a entidade, a realização da cirurgia sem indicação ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê. O nascimento prematuro aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de vida da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados à prematuridade.
A taxa de cesarianas em hospitais privados é muito maior do que nos públicos: 86%, enquanto que pelo SUS é de 29%. “Essa medida é parte de uma estratégia da ANS, que busca incentivar o setor – beneficiárias de planos de saúde, operadoras, hospitais e médicos – a mudar o modelo de assistência ao parto e nascimento, promovendo uma crescente melhoria nos cuidados à gestante e à criança”, afirmou o diretor-presidente da ANS, José Carlos Abrahão.
Pela resolução, as operadoras de planos deverão divulgar os percentuais de cesáreas e de partos normais por estabelecimentos de saúde e por médico, sempre que forem solicitadas. O Cartão da Gestante e a Carta de Informação à Gestante deverão constar no registro de todo o pré-natal. Os obstetras terão de usar o Partograma, documento gráfico para colocar tudo o que acontece no trabalho de parto.
Esse documento passa a ser considerado parte do processo para pagamento do procedimento. Nos casos em que houver justificativa clínica para a não utilização do documento, deverá ser apresentado relatório médico detalhado. Se a cirurgia for eletiva, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pela gestante deve ser anexado ao relatório. Isso substituirá o Partograma no pagamento do procedimento. Apesar da obrigatoriedade do termo, se a cesariana ocorrer a pedido da gestante, a operadora deve dar a cobertura.
Muitas mães preferem o parto normal até mesmo porque a recuperação é mais rápida. A autônoma Michele Baum, 35 anos que pariu duas vezes, orienta a filha a preferir a forma natural. Mas a menina de 17 anos tem medo. Em outro caso, Bárbara Pereira, 15, fez questão de ganhar o bebê de parto normal. Deve tentar até o último momento para evitar a cesariana.

Repercussão

O Cremers avalia juridicamente a validade das normas Para o coordenador das Câmaras Técnicas da entidade, Jeferson Piva, a obrigatoriedade de divulgação dos tipos de parto feitos por um médico ou outro é um juízo de valor. “Se não é antiético, causa constrangimento”. Segundo ele, a decisão sobre o nascimento depende do contexto clínico. Disse que exstem ferramentas para apurar a suspeita de má prática, como o conselho de ética. O médico conclui que a resolução inibe a decisão de mães e profissionais.
Para a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS (Sogirgs), as taxas de cesarianas são muito altas e é necessário o Partograma. Mas a presidente Mirela Jiménez avalia que as normas interferem na autonomia. “Encaramos o aumento da cesariana como problema, mas a solução é inadequada”, disse o diretor de Exercício Profissional da Sogirgs, Gustavo Steidel. O número elevado na rede privada se deve a um sistema inadequado. “Há maternidades sem anestesistas e pediatra de plantão, causando medo nas pacientes”.


Fonte: Correio do Povo, página 15 de 7 de julho de 2015.

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