segunda-feira, 20 de julho de 2015

Brasileiro economiza no básico e mantém ′luxo′ nas compras

por CLAUDIA ROLLI

Maria das Graças trocou a marca tradicional da farinha de trigo, do óleo e do macarrão por uma mais em conta. Mas manteve no carrinho de compras o sabonete mais caro e "o melhor" presunto.
José Roberto Fernandes substituiu o creme dental, o papel-toalha e o azeite, antes escolhidos entre as marcas "mais famosas", por uma lançada pelo supermercado de que é cliente. Diz que a economia feita nesses itens possibilita manter a compra de uma sobremesa, por exemplo.
Nilza Lima optou pelo detergente, pela cândida e pelo leite mais baratos da prateleira para não ter de economizar na escolha da carne que servirá à família.
Maria, José Roberto e Nilza fazem parte dos 28% de brasileiros que escolhem poupar em produtos básicos para não abrir mão daqueles que entraram em sua cesta de consumo nos últimos anos.
São clientes chamados de "econômicos extravagantes", na tradução da expressão inglesa "slave & splurge", que marcou o comportamento do consumidor europeu durante a crise econômica mundial em 2009 e ganha força nos demais continentes.

"É uma tendência que vem sendo observada no mundo todo e agora, com a piora da economia, amplia-se entre os brasileiros, independentemente de sua faixa da renda e da região em que habitam", diz Adriano Araújo, diretor-geral da dunnhumby no Brasil, empresa especializada em ciência do consumidor.
"Ao contrário do que se pensa, o consumidor não corta os pequenos luxos nem os produtos especiais. Ele corta nos básicos", completa.
Para mapear esse comportamento, a empresa analisou durante os últimos três meses os hábitos de 22 milhões de brasileiros desde 2013: o que compraram, com que frequência e o que gastaram. Os dados são estudados e cruzados com indicadores do país, como renda per capita, desemprego e PIB do Brasil.
EM EXPANSÃO
Não é à toa que as redes de supermercado ampliam as ofertas de produtos de suas marcas próprias ou exclusivas. São mercadorias que hoje disputam espaço nas gôndolas com as marcas líderes dos principais fabricantes, saíram do cantinho de baixo da prateleira para ficar à altura dos olhos dos consumidores e ganharam espaços de destaque nos corredores.
Na rede Extra, por exemplo, os cem produtos mais vendidos (entre os 1.500 existentes) da Qualitá, marca de alimentos do grupo, tiveram crescimento de vendas acima de 10% entre janeiro e abril ante igual período de 2014.
"O consumidor está atrás do melhor custo-benefício. Se somadas todas as marcas exclusivas oferecidas no Extra e no Pão de Açúcar, elas já respondem por 11% das vendas", diz Eduardo Finelli, gerente de marcas exclusivas do GPA. Há cerca de cinco anos, esse percentual girava em torno de 5,5% a 6%. Em produtos como leite, café, salgadinhos e itens de higiene pessoal, o crescimento das marcas próprias passa dos 20%.
SÍMBOLO
A tendência de trocar a marca líder de um produto por outra que pertence a uma da rede varejista chegou até o principal símbolo da estabilização monetária do Real: o iogurte. No GPA, as marcas da rede já vendem 10% mais.
A variação de preço entre uma marca própria e a principal (5% a 30% mais barata dependendo do produto) é um dos atrativos que também pesam na escolha do consumidor, principalmente com o aumento da inflação, avalia Gerard Antonius Eysink, diretor de marca própria do Walmart Brasil.
É entre os consumidores do Nordeste que as marcas próprias da varejista avançam com mais força. Em seguida, estão clientes das regiões Sudeste e Sul do país.
Sem detalhar percentuais, o Carrefour informa também ter verificado aumento na venda de sua marca própria na comparação com 2014.
Fonte: Folha Online - 20/07/2015 e Endividado

 

Mercado financeiro prevê retração na economia de 1,7% este ano, diz BC

 

Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil

economia ilustração

No próximo ano, a expectativa é crescimento de 0,33% da economiaMarcello Casal Jr/Agência Brasil

A economia deve ter retração de 1,7%, este ano, de acordo com projeção de instituições financeiras consultadas semanalmente pelo Banco Central. Na semana passada, a projeção para a queda do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, estava em 1,5%. Essa projeção é do Boletim Focus, publicação semanal, feita pelo Banco Central, com base em pesquisa a instituições financeiras sobre os principais indicadores econômicos.

No próximo ano, a expectativa é que haja crescimento da economia, mas apenas de 0,33%. Na semana passada, a estimativa de crescimento era 0,50%.

Na avaliação do mercado financeiro, a produção industrial deve ter queda de 5%, este ano. Em 2016, o setor deve se recuperar, com crescimento de 1,50%, contra 1,40% previsto anteriormente.

Enquanto a economia encolhe, a inflação sobe. Para as instituições financeiras, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 9,15%, contra 9,12% na projeção anterior. Essa foi a 14ª elevação seguida na estimativa. Para 2016, houve leve redução de 5,44% para 5,40%.

As estimativas para a inflação estão distantes do centro da meta que é 4,5%. Neste ano, a expectativa é que o teto da meta, de 6,5%, seja ultrapassado. O próprio BC projeta inflação em 9%. Ao passar da meta, o BC tem que enviar carta ao Ministério da Fazenda, explicando os motivos que levaram à alta da inflação.

Para tentar frear a alta dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tem elevado a taxa básica de juros, a Selic. A taxa já foi elevada por seis vezes seguidas e o BC tem sinalizado que o ciclo de alta continua. A próxima reunião do comitê está marcada para os dias 28 e 29 deste mês. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano e as instituições financeiras esperam que a taxa chegue a 14,5% ao final deste ano. No final de 2016, a Selic deve ficar em 12,25% ao ano.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

A pesquisa do BC também traz a projeção para a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), que subiu de 7,51% para 7,64%, este ano. Para o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), a estimativa passou de 7,42% para 7,46%, em 2015. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) subiu de 8,60% para 8,72%, este ano.

A projeção para a cotação do dólar segue em R$ 3,23, ao final de 2015, e em R$ 3,40, no fim de 2016.

 

Agência Brasil

 

 

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Av. Nações Unidas com a Rua Caxias do Sul, em Novo Hamburgo. Fotos da leitora Thaís Camiran

 

 

Movimento negro pede regulamentação de cotas em concursos públicos

 

Mariana Branco - Repórter da Agência Brasil

Negros em concurso público

Estatuto da Igualdade Racial completa 5 anos em meio a discussões sobre a regulamentação da lei que reserva vagas para negros em concursos públicosArquivo/Agência Brasil

Em vigor desde 9 de junho do ano passado, a Lei 12.990, que reserva 20% das vagas em concursos da administração pública federal para candidatos negros, completou um ano e um mês em meio a dificuldades na aplicação. Alguns concursos feitos sob as novas regras têm sido alvo de ações judiciais. Por isso, representantes do movimento negro defendem a regulamentação da lei. A política de cotas é uma das ações afirmativas previstas no Estatuto da Igualdade Racial, que completa cinco anos nesta segunda-feira (20).

Este ano, pelo menos três concursos da administração federal foram questionados judicialmente por questões relacionadas à nova lei. O motivo da discórdia, nesses casos, foi a forma de cálculo das vagas que devem ser destinadas ao sistema de cotas. Os editais dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) e de São Paulo (IFSP) fracionaram as vagas segundo a área e a lotação. Como a maioria das áreas de conhecimento oferecia uma ou duas vagas, e a legislação prevê as cotas quando há três ou mais vagas, na prática, não houve reserva para negros.

Os dois concursos foram contestados, respectivamente pela Defensoria Pública da União (DPU) e pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP). Na seleção do IFMA, uma decisão liminar da 3ª Vara Federal do Maranhão determinou que, do total de 210 vagas para professor, 42 fossem destinadas a negros. No concurso do IFSP, a ação ainda tramita na 7ª Vara Cível de São Paulo. As ações da DPU e do MPF-SP defenderam também a reserva de vagas para deficientes.

No caso do concurso prestado pela professora Viviane Gomes Marçal, de 34 anos, a situação foi inversa. O edital do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) aplicou o percentual de 20% sobre o total das 14 vagas ofertadas. Viviane se candidatou ao cargo de professora de design de interiores, para o qual havia duas vagas. Foi aprovada em primeiro lugar pelas cotas, e em quinto pela ampla concorrência. Como só havia duas oportunidades em sua área, tomou posse como cotista. No entanto, outros dois candidatos pediram na Justiça a exoneração dela.

“Os outros candidatos não concordaram, pois, para eles, seria melhor se [o cálculo] fosse aplicado por área. Tive uma decisão favorável, mas ainda cabe recurso”, conta a professora, que mora em Belo Horizonte. No último dia 3 de julho, o juiz federal Marcelo Dolzany da Costa indeferiu o pedido de liminar dos candidatos que contestaram a posse. O juiz citou decisões do Supremo Tribunal Federal favoráveis à constitucionalidade das cotas e ao cálculo sobre o total geral de vagas.

Insegurança

Viviane comemorou a primeira vitória, mas acha que a situação não oferece segurança. “Tenho um colega que fez o concurso pelo sistema de cotas de outro edital do IFMG e o juiz que analisou mandou exonerá-lo. Ele tinha largado um emprego onde ganhava melhor, já estava trabalhando”, relata. Na avaliação dela, uma regulamentação da lei ajudaria. “Eu considero que sim [seria positivo], de forma que ficasse bem claro para qualquer juiz como deve ser a aplicação”, afirmou.

Frei David Santos (Pedro França/Agência Senado)

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Frei David defende mais rigor no acesso à política de cotasDivulgação/Pedro França/Agência Senado

É essa também a opinião de Frei David de Castro, presidente da Organização Governamental (ONG) Educafro. “Acontece que, em cada local, estão aplicando a lei de um jeito”, acredita. De acordo com ele, além da questão do fracionamento de vagas, há registros de uso abusivo da autodeclaração, critério para que o candidato tenha acesso às cotas. A Lei 12.990 prevê que, se for provado posteriormente que o candidato mentiu, ele está sujeito a ser exonerado do cargo público.

Para Frei David, não é o bastante. Ele defende mais rigor no acesso, além de fiscalização. “Uma proposta nossa é que a pessoa, para ter acesso às cotas, prove que o pai ou a mãe é negra, mesmo sendo pardo. Assim, sai do subjetivo. O grande problema das políticas públicas governamentais está na falta de monitoramento, fiscalização e punição. Que, ao regulamentar [a lei], o Poder Público defina isso. A missão de regulamentar é do Executivo e ele está sendo excessivamente omisso”, diz.

Esclarecimento

Por enquanto, o governo federal não tem planos de editar um decreto regulamentando a Lei 12.990 e reconhece que tem havido dúvidas na aplicação. De acordo com Ronaldo Barros, secretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), já foi divulgada uma nota técnica relativa à lei, prevendo a possibilidade de constituir comissão de verificação com relação à autodeclaração. Outra nota sairá entre o fim deste mês e início do próximo, com respostas para diversas questões.

“A gente encontra alguma dificuldade [na aplicação da lei] e há um nível de solicitação de informações na Seppir. Dúvidas sobre onde se aplica, por exemplo, se nos níveis estadual e municipal. Aí esclarecemos que é só no âmbito federal. Tem o modus operandi das universidades, onde acaba havendo um fracionamento de vagas que impede que o espírito da lei seja preservado. A gente está fazendo um diálogo como o segmento universitário, com os institutos federais”, afirma. Segundo Ronaldo, há, ainda, a possibilidade de uma portaria ou instrução normativa a respeito.

O secretário de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Genildo Lins, acredita que a Lei 12.990 “é bem clara em relação aos limites da sua aplicação”. Mesmo assim, ele disse que o órgão trabalha em uma orientação normativa para resolver as principais dúvidas das organizadoras de concursos públicos. “Mas, primeiro, estamos apurando quais as dúvidas. [Ficará pronta] este ano, com certeza, em mais uns dois ou três meses”, diz.

No entanto, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, é a favor de uma solução com força de lei. “Me parece, pelos relatos, que temos uma deficiência ou forma inadequada de fazer as regras para esses concursos. Acho que nós temos que ter o cuidado de criar um critério unificador, que impeça interpretações particulares. Não sei se uma portaria é suficiente. Eu gostaria que tivesse um decreto regulamentando. O decreto é a extensão da lei, passa a ser a lei”, defende.

A Lei 12.990 expira em dez anos a partir da data da sanção pela presidente da República. Seu objetivo é tornar o ambiente da administração pública federal mais igualitário, nesse período.

Estatuto da Igualdade Racial

Edição: Talita Cavalcante

 

 

Agência Brasil

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