Os
desmandos do sistema colonial – suas tributações, seus impostos,
sua própria natureza espoliadora – foram responsáveis pela
eclosão de uma série de revoltas contra a Metrópole.
Eventualmente, esses conflitos acabavam se tornando também lutas em
prol da autonomia, unidade e independência do Brasil e, com
frequência, se voltaram também contra os rivais ou “marinheiros”,
como os portugueses eram ironicamente chamado pelos nativos.
A
primeira dessas insurreições foi a chamada Revolta de Beckman,
ocorrida em 1684 no Maranhão. As causas do protesto armado que o
senhor de engenho Manuel Beckman, o Bequimão, liderou estão claras
num trecho do manifesto que ele mesmo leu para os seus companheiros:
“As duas coisas devemos pôr termo – aos jesuítas e ao monopólio
- , a fim de que tenhamos as mãos livres quanto ao comércio e
quanto aos índios”. O monopólio a que Beckman se referia era
exercido, então, pela Companhia do Comércio do Maranhão.
Fundada
em 1682, a Companhia detinha direitos de importação e exportação
na região. Ao mesmo tempo, estava obrigada a introduzir 500 escravos
negros por ano na província, já que os jesuítas tinham conseguido
proibir a escravização dos índios. Quando a companhia não só
aumentou os preços dos importados (trigo, vinho, azeite e bacalhau)
como deixou de trazer os africanos, a revolta eclodiu. Em fevereiro
de 1684, o grupo de Beckman formou um governo provisório, expulsou
os jesuítas, fechou a companhia e escravizou índios em massa.
Em março
de 1685, aproveitando-se de brigas internas entre os rebeldes, o
governador Gomes Freire de Andrade desferiu o ataque a São Luís.
Apesar de refugiar-se no mato, Beckman foi preso e enforcado. Mas a
companhia de comércio do Maranhão acabou sendo extinta um ano
depois e a própria Cia de Jesus seria expulsa do Brasil. Aos índios
restou a escravidão.
Outra
rebelião econômica, a chamada revolta de Vila Rica, estourou em
1720. Foi uma antecipação da Inconfidência Mineira, de 1789.
Na noite
de 27 de junho de 1720, sete homens, acompanhados por seus escravos
armados, saíram às ruas de Vila Rica conclamando o povo a
rebelar-se contra as medidas absurdas impostas pela Coroa. A criação
das casas de fundição, que facilitariam a cobrança do quinto sobre
o ouro, a proibição da circulação do ouro em pó, os desmandos do
ouvidor Martinho Vieira e do governador, conde de Assumar, eram
motivos mais do que suficientes para a revolta. E ela explodiu,
embora desorganizada demais para sobreviver. De início, o conde de
Assumar recebeu os rebeldes e até assinou um documento em que se
comprometia a cumprir os 18 tópicos propostos pelos revolucionários.
Era só uma manobra diversionista: assim que conseguiu reunir tropas
fiéis, Assumar prendeu os revoltosos. Apenas um, Felipe dos Santos –
foragido da justiça portuguesa por “abandono do lar” e figura
menor no levante - , foi condenado e, após um julgamento sumário
executado com requintes de crueldade. Não seria uma morte inútil:
em fins de 1720, Minas se tornou capitania independente, de São
Paulo.
Fonte:
História do Brasil (1996), página 82.
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