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domingo, 5 de julho de 2015

A Guerra dos Mascates

Um dos mais violentos conflitos internos do Brasil eclodiu dez anos antes da Revolta de Vila Rica e 79 anos antes da Inconfidência Mineira. Foi a Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco, entre Olinda e Recife. Encarapitada no topo duma colina em frente ao mar, Olinda era uma cidade de origem portuguesa. Durante a ocupação holandesa, porém, os invasores ergueram, nos baixios da colina, a cidade de Recife – construída num local que lembrava os alagadiços da Holanda. Depois da Insurreição Pernambucana, em 1645, Recife se manteve mais ativa do que Olinda. Porto movimentado, local de grandes transações comerciais, Recife, no entanto, era tido como mero bairro comercial de Olinda, onde a aristocracia rural- constituída basicamente por senhores de engenho endividados – continuava vivendo em suas mansões. Os comerciantes e burgueses recifenses pejorativamente chamado de “mascates” pelo olindenses, queriam se livrar da tutela de Olinda e ver seu “bairro” elevado à condição de vila. Os falidos olindenses, em meio à crescente crise das exportações de açúcar, lutaram pela manutenção de seus privilégios, cargos civis e eclesiásticos e não abriam mão de sua supremacia sobre Recife. No dia 19 de novembro de 1709, porém, o governador Sebastião de Castro e Caldas decidiu apoiar as reivindicações dos “mascates” e transformou Recife em vila. Na noite de 14 de fevereiro de 1710, ergueu o pelourinho na praça central.
Menos de um ano depois, em 10 de outubro, quando caminhava pela rua das Águas Verdes, Castro e Caldas foi baleado por um grupo de encapuzados que nunca chegou a ser identificado. Mesmo sem provas, o governador ordenou a prisão de vários senhores de engenho e do próprio ouvidor de Olinda. Indignada, a elite olindense se insurgiu, atacou Recife, destruiu o pelourinho e rasgou o foral da criação da vila. A ação foi feita por homens vestidos de penas e plumas, para insinuar que se tratava de um “ataque de índios”. O governador fugiu, mas os recifenses, reagiram e os combates se prolongaram por três meses. Na tentativa de apaziguar o conflito, o rei de Portugal, D. João V, nomeou um novo governador para Pernambuco, Félix José Machado, em outubro de 1711.
A “nobreza de Pernambuco” (Como se autointitulavam os olindenses) desarmou-se, fatigada; os “mascates” depuseram as armas, confiantes. Feitas as pazes, porém, Machado relevou-se partidário da causa de Recife e, alegando nova conspiração dos olindenses, prendeu 150 supostos implicados, inclusive Bernardo Vieira de Mello, ex-governador do Rio Grande do Norte e líder do movimento, favorável à independência de Pernambuco e à proclamação da república. Muitos acusados foram executados em Lisboa. Em Pernambuco, vários nobres fugiram para o sertão. Em 7 de abril de 1714, D. João V assinou ato régio anistiando os envolvidos. Recife e Olinda passaram a dividir a honra de sediar a casa do governador.


Fonte: História do Brasil (1996), página 83.  

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