As evidências de que o
conde João Maurício de Nassau era um príncipe renascentista que se
materializou no Brasil do século 17 estão preservadas no amplo
legado artístico e cultural produzido ao longo de sua permanência
de sete anos no país. Ao desembarcar em Recife, Nassau trouxe em sua
comitiva 46 artistas, cientistas, artífices e sábios. Deslumbrado
com o viço e o vigor da natureza tropical, encarregou seus
protegidos a catalogar, pintar, estudar e preservar plantas e animais
do Brasil. Transformou o abacaxi e o caju em símbolos desse “belo
país do Brasil, que não tem igual sob o céu”. Tanto quanto a
obra artística feita sob seu mecenato, destaca-se também o trabalho
científico realizado em menos de uma década. Entre os letrados
ilustres da corte tropical de Nassau incluíam-se Joham Benning,
professor de ética e física da Universidade de Leiden; Elias
Heckman, botânico; Constantin L'Empereur, especialista no Talmud; e
o médico Servaes Carpetier. Nassau queria fundar em Recife uma
universidade aberta. Partiu antes de consegui-lo.
Ainda assim, a obra de
dois cientistas trazidos por Nassau não encontra, até hoje,
paralelo nos anais da erudição brasileira. Em 1648, Georg Marcgraf
e Willern Piso publicaram, em Leiden, na Alemanha, sua soberba
História Naturalis Brasiliae. Piso, médico de Nassau
realizou estudos sobre doenças tropicais e ervas medicianais
brasileiras. Marcgraf, nascido em Liebstad, na Alemanha, em 1610, e
morto em Angola em 1644, estudou o clima e classificou centenas de
espécies da fauna e da flora brasileiras. Naturalista, astrônomo,
matemático, agrimensor e cartógrafo, Marcgraf deixou muitos
trabalhos inacabados. Cientistas modernos acreditam que, se tivesse
vivido o suficiente, teria sido um dos maiores naturalistas de todos
os tempos – talvez o maior desde Aristóteles. Na casa em que morou
em Recife, de 1637 a 1642, Marcgraf dispunha de um observatório
astronômico que o próprio Nassau mandou vir da Holanda. Ao ver a
obra de Marcgraf, o padre Antônio Vieira deixou-se tomar pela inveja
e observou que ela despertaria cobiça sobre “as terras que tão
pouco sabemos estimar”.
Frans Post
Primeiro europeu a
pintar os esplendores naturais do trópico, Frans Post (1608-1669)
foi um paisagista brilhante, cuja obra, requintada e minuciosa,
ilustra as páginas 57,59 e 60 deste capítulo. As três pinturas
mostradas aqui fazem parte das 18 únicas que Post produziu a partir
da observação direta da paisagem do Novo Mundo. Todas foram doadas
por Nassau ao rei Luís XIV, da França, em 1678. Onze estão
desaparecidas. Mas a obra de Post, que permaneceu no Brasil de 1637 a
1644, soma duas centenas de quadros: são paisagens imaginárias
feitas na Holanda a partir do que ele vislumbrara no Brasil.
Fonte: História do
Brasil, página 60.
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