domingo, 7 de junho de 2015

Personagens de Guerra Brasílica

Embora articulada e em parte conduzida por membros da alta burguesia luso-brasileira, a guerra contra os holandeses passou à história como o confronto que lançou as bases do nacionalismo brasileiro porque o exército que enfrentou o invasor era “ o amálgama das três raças”. De fato, além dos pelotões chefiados por Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros, a vitória brasileira só se tornou possível graças ao batalhão de índios comandado pelo potiguar Felipe Camarão e ao batalhão de negros chefiado por Henrique Dias. Os holandeses também tiveram aliados nativos: os índios potis, paraupabas e janduís mais o mulato trânsfuga Domingos Calabar. A seguir, a biografia sucinta de algumas figuras da Guerra do Açúcar:
Matias de Albuquerque: O principal opositor dos holandeses não participou das lutas decisivas – estava injustamente preso em Lisboa. Depois, foi anistiado.
João Fernandes Vieira: Negociante no Recife, foi preso em 1635. Logo se aliou aos holandeses e adquiriu “a maior fortuna da terra”. Em dívida com a WIC, liderou a revolta após a saída de Nassau.
André Vidal Negreiros: Rico senhor de engenho, virou chefe das guerrilhas. Tomou Recife em 1654 e foi governador de Pernambuco e de Angola até 1666.
Felipe Camarão: Potiguar, nascido em 1591, Antônio Poti (“camarão”, em tupi) se converteu ao cristianismo, tornou-se um dos mais fiéis aliados dos portugueses e o indígena mais respeitado do Brasil. Chefe de um batalhão com apenas 170 índios, obteve grandes vitórias. Em 1633, o rei Felipe III lhe deu brasão de armas e pensão de 40 mil-réis. Antônio Poti virou Dom Felipe Camarão. Em 1635 ganhou comenda da Ordem de Cristo. Combatia ao lado da mulher, Clara. Depois da primeira batalha dos Guararapes, Camarão adoeceu e morreu em 24/8/1648.
Henrique Dias: Filho de negros libertos, se apresentou a Matias de Albuquerque à frente de um batalhão de negros “de quatro nações: Minas, Ardas, Angolas e Crioulos”. Ferido na batalha de Camandituba, teve amputada metade do braço. Tornou-se governador dos Crioulos, Negros e Mulatos.
Domingos Calabar: Guerrilheiro mulato, lutou ao lado de Matias de Albuquerque, mas passou aos holandeses em abril de 1632. Deu muito trabalho aos brasileiros. Capturado em julho de 1634, foi torturado, enforcado e esquartejado. Destino similar aos dos caciques janduí, poti e paraupaba.


A maior contribuição nacional à história militar mundial foi dada nos quase 30 anos durante os quais os exércitos luso brasileiros combateram o invasor holandês: nas colinas e alagadiços, nas matas e nos areais de Pernambuco, o Brasil pode ter inventado a guerra de guerrilhas. Conhecedores profundos do terreno bem adaptados à natureza tropical, portugueses como Matias de Albuquerque, índios como Felipe Camarão e negros como Henrique Dias idealizaram uma tática de luta, que segundo o historiador Golsalves de Mello, foi “uma antecipação do estilo brasileiro de jogar futebol”. Para Gilberto Freyre, a guerra brasílica era “um conjunto de qualidades de surpresa, de manha, de astúcia, de ligeireza e ao mesmo tempo de brilho e de espontaneidade individual … alguma coisa de dança e de capoeira”. Os adversários, mesmo derrotados, souberam reconhecer a excelência das táticas nativas. Testemunha ocupar da segunda batalha dos Guararapes, o holandês Michiel van Goch escreveu que as tropas brasileiras eram “ligeiras e ágeis por natureza, de modo que cruzam matos e brejos, sobem morros aqui tão numerosos e descem-nos tudo com rapidez e agilidade notáveis”.


Fonte: História do Brasil (1996), página 63.

Nenhum comentário:

Postar um comentário