segunda-feira, 15 de junho de 2015

Outra vez a aftosa, por Fábio Luis Gomes

O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo e, mesmo com status sanitário de livre de aftosa com vacinação, é também o maior exportador. E o volume certamente aumentará com a abertura das portas chinesas. Entretanto, alguns parlamentares gaúchos voltaram a defender a ideia do status de livre de aftosa sem vacinação para o Rio Grande do Sul.
A aftosa é uma enfermidade que não afeta o ser humano nem impede o consumo de carne. Alguns poucos países proíbem a importação de zonas livres de aftosa com vacinação por razões políticas e alfandegárias, mas isso não está afetando as exportações do Brasil. Nem as da Argentina e do Uruguai, cujas lideranças afastam totalmente a hipótese de postular o status de zona livre sem vacinação. Mesmo vacinando, o Uruguai exporta in natura para os EUA 70% da carne que produz. Quando o Nafta aceitou a categoria “zona livre de aftosa com vacinação” criada pela OIE, operou-se na prática comercial o fim da distinção entre os chamados “Circuitos aftósicos e não aftósicos”. Assim, a conquista de mercados para a carne bovina não é pretexto e muito menos razão para proceder-se a inclusão do Rio Grande como área livre de aftosa sem vacinação, não sendo invocáveis os mercados do Japão e da Coreia, porquanto a logística jamais permitirá competirmos com a Austrália.
Como se vê, não há relevância comercial positiva na abolição da vacina. Seria inoportuna e tangenciaria a irresponsabilidade, pois deixaria nosso rebanho de 14 milhões de cabeças totalmente desprotegido dos riscos de acesso da doença pelas imensas fronteiras cada vez mais abandonadas em face dos cortes orçamentários dos governos. Basta lembrar o Norte da Argentina, por cuja fronteira se suspeita haver entrado o vírus na crise do foco da aftosa de Joia em 2001, e sua ligação com o Paraguai e deste com a Bolívia, países que sabidamente não mantêm um controle confiável da doença. Ademais, o vírus pode ser facilmente transmitido por animais silvestres, meios de transporte, vestimentas das pessoas e até pelo próprio ar. Outro foco seria desastroso para nossa economia.

Advogado e pecuarista


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 11 de junho de 2015.

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