Não foi exatamente
como se Rambrandt ou Rubens tivessem desembarcado nos trópicos. Mas
foi quase. Seis pintores faziam parte da comitiva que Maurício de
Nassau trouxe para Recife. Todos tinham casa e comida, salário fixo
e muito trabalho pela frente: seriam os primeiros pintores a
registrar a exuberante natureza do Novo Mundo. A obra e mesmo o nome
de um deles se perderam na história. Pierre de Gondreville produziu
pouco e Cornelis Golijath era mais cartógrafo do que propriamente um
artista. Zacharias Wagener, meio soldado raso a serviço da Cia. Das
Índias Ocidentais, não constava da lista oficial. Mas, desde sua
chegada no Brasil, em 1634, esse alemão de Dresden demonstrou muita
habilidade e um interesse permanente pela natureza do país.
Promovido a
“dispenseiro escrevente” e a escrivão particular de Nassau,
Wagener, simples “pintor de domingo”, acabou produzindo centenas
de aquarelas e litogravuras dos animais brasileiros. Ao retornar para
a Europa, em 1643, levava consigo os originais do “Thierbuch”,
ou Livro dos Animais, uma espécie de versão popular da
História Naturalis Brasiliae, de Macgraf. Mais do que isso: a
obra de Wagener teve grande influência sobre Albert Eckhout. E,
junto com Frans Post, Eckhout foi um gênio da arte no Brasil.
Albert Eckhout nasceu
em Groningen, na Holanda, em 1610. Viveu no Brasil dos 27 aos 34 anos
de idad. Sentava-se à mesa do jovem conde, que chegou ao país com
33 anos, em companhia de Frans Post, dois anos mais moço do que
Nassau. Eckhout foi um pintor naturalista com excepcional domínio do
desenho de modelos vivos, dono de um estilo altamente individual e
detalhista, disposto a documentar tipos humanos, plantas e animais
que os europeus jamais haviam visto – e, portanto, nunca havia
retratado. Eckhout, era fascinado pelo exótico. Seus retratos em
tamanho natural de índios, mamelucos e negros, porém, lhes
concedem, além de rigor antropológico e etnográfico, uma grande
dose de altivez e dignidade: Eckhout pintou indivíduos, não meros
exotismos tropicais. Sua obra foi magnificamente complementada pela
de Franz Jansz Post, cultos das paisagens brasileiras que se deixou
fascinar pela luminosidade e pelo viço dos trópicos – elementos
que tão bem soube capturar em suas telas. Ao retornar para a Europa,
Nassau doou os quadros de Post ao rei Luís XIV, da França e os de
Eckhout para Frederico III, da Dinamarca. O encanto que lhes
despertaram então permanece inalterado mais de 350 anos depois.
Fonte: História do
Brasil (1996), página 61.
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