domingo, 7 de junho de 2015

Os Pintores de Nassau

Não foi exatamente como se Rambrandt ou Rubens tivessem desembarcado nos trópicos. Mas foi quase. Seis pintores faziam parte da comitiva que Maurício de Nassau trouxe para Recife. Todos tinham casa e comida, salário fixo e muito trabalho pela frente: seriam os primeiros pintores a registrar a exuberante natureza do Novo Mundo. A obra e mesmo o nome de um deles se perderam na história. Pierre de Gondreville produziu pouco e Cornelis Golijath era mais cartógrafo do que propriamente um artista. Zacharias Wagener, meio soldado raso a serviço da Cia. Das Índias Ocidentais, não constava da lista oficial. Mas, desde sua chegada no Brasil, em 1634, esse alemão de Dresden demonstrou muita habilidade e um interesse permanente pela natureza do país.
Promovido a “dispenseiro escrevente” e a escrivão particular de Nassau, Wagener, simples “pintor de domingo”, acabou produzindo centenas de aquarelas e litogravuras dos animais brasileiros. Ao retornar para a Europa, em 1643, levava consigo os originais do “Thierbuch”, ou Livro dos Animais, uma espécie de versão popular da História Naturalis Brasiliae, de Macgraf. Mais do que isso: a obra de Wagener teve grande influência sobre Albert Eckhout. E, junto com Frans Post, Eckhout foi um gênio da arte no Brasil.
Albert Eckhout nasceu em Groningen, na Holanda, em 1610. Viveu no Brasil dos 27 aos 34 anos de idad. Sentava-se à mesa do jovem conde, que chegou ao país com 33 anos, em companhia de Frans Post, dois anos mais moço do que Nassau. Eckhout foi um pintor naturalista com excepcional domínio do desenho de modelos vivos, dono de um estilo altamente individual e detalhista, disposto a documentar tipos humanos, plantas e animais que os europeus jamais haviam visto – e, portanto, nunca havia retratado. Eckhout, era fascinado pelo exótico. Seus retratos em tamanho natural de índios, mamelucos e negros, porém, lhes concedem, além de rigor antropológico e etnográfico, uma grande dose de altivez e dignidade: Eckhout pintou indivíduos, não meros exotismos tropicais. Sua obra foi magnificamente complementada pela de Franz Jansz Post, cultos das paisagens brasileiras que se deixou fascinar pela luminosidade e pelo viço dos trópicos – elementos que tão bem soube capturar em suas telas. Ao retornar para a Europa, Nassau doou os quadros de Post ao rei Luís XIV, da França e os de Eckhout para Frederico III, da Dinamarca. O encanto que lhes despertaram então permanece inalterado mais de 350 anos depois.


Fonte: História do Brasil (1996), página 61.

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