segunda-feira, 15 de junho de 2015

Os negros e o espelho, por Antônio Carlos Côrtes

A África, de onde todos os ancestrais negros vieram, teve passado glorioso. Superior, em fases, às civilizações bárbaras europeias contemporâneas.”

(José Luiz Pereira da Costa)

Se me permitem a imodéstia na condição de um dos fundadores do Grupo Palmares, que em 1971 foi o precursor dos eventos culturais da consciência negra, lembro-me desde lá que os negros vieram para o Brasil como imigrantes forçados no holocausto de campos de concentração flutuantes que foram os navios negreiros que castro Alves cantou em réquiem para a literatura. O regime de escravidão durou 388 anos e custou o sequestro e o assassinato de aproximadamente 7 milhões de seres humanos africanos e outros tantos milhões de seus descontentes.
O RS tem no gaúcho o misto de imigrantes alemães, italianos, poloneses, açorianos, que aqui cruzaram de forma não recomendada com índios e negros escravos. Na recente Copa do Mundo descendentes dos primeiros nomeados torceram por suas origens, pois detentores do gen. Presentes parâmetros em que se percebem essas correntes migratórias que se evadem do continente africano são recusadas em alguns países. Em minha recente passagem pela condição de conselheiro estadual da Cultura, testemunhei e votei favoravelmente a projetos oriundos da cultura alemã, italiana, açoriana e polonesa, dentre outras. Razão pela qual aplaudo sem pestanejar o acolhimento aos imigrantes negros oriundos de quaisquer continentes. Ouçam-se especialmente haitianos e senegaleses. Por tudo abraço três vezes meus irmãos negros. Aos apressados de visão na altura da soleira da porta afirmo que não é atitude demagógica e paternalista o acolhimento. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade – artigo 5º da Constituição Federal Cidadã de 1988.
Altruísmo é a ação praticada em benefício do outro. Ponham a cabeça no travesseiro e pensem nos seus antepassados que vieram como imigrantes para nosso país. Olhem no espelho de sua alma e observem que lá dentro há sentimento que aspira desejar o bem a outrem. A devoção e bondade de seu coração o aproximam de Deus. Afeição. Ternura é virtude de fonte inesgotável, que ecoa o som do bandolim o “Hino ao Amor” junto ao Coral Divino.

Advogado e escritor



Fonte: Correio do Povo, página 2 de 10 de junho de 2015.

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