domingo, 7 de junho de 2015

O General Jacobino

Napoleão Bonaparte, poucos sabem, quando jovem oficial, esteve bem próximo dos jacobinos, em razão do que chegou a ficar preso por algumas semanas quando Robespierre foi deposto e executado em 1794. Graças às instâncias de Augustin Robespierre, o irmão do tirano, Napoleão Bonaparte tornou-se general aos 24 anos de idade – um general jacobino.

Fu vera gloria? Ai posteri l'ardua sentenza.”
(Foi verdadeira sua glória? Aos pósteros caberá a sentença)

Manzoni – Ode a Napoleão


Testemunhando uma humilhação

No verão de 1972, o jovem Napoleão Bonaparte, então um desconhecido tenente, um corso que vivia e se educara na França, caminhava com um amigo pelas ruas de Paris convulsionada quando resolveu acompanhar a multidão que se dirigia ao Palácio das Tulherias. A grande edificação era a morada de Luís XVI desde que ele fora removido de Versalhes três anos antes. Napoleão se indignou com que viu. Observou de longe o rei ser conduzido a força até a sacada do palácio e obrigado a vestir o barrete frigio, o gorro vermelho da revolução. Lá de cima, constrangido, ainda teve que abanar para a massa que exultava. Para Napoleão, tudo aquilo poderia ter sido evitado se o rei, como o mínimo de coragem, houvesse determinado a que disparassem uma precisa canhonada sobre aquela gente. Desprezou Luís XVI por sua hesitação e pusilanimidade frente “à hedionda populaça”. Ele, por sua vez, nunca esquecendo aquele 20 de junho de 1792, saberia dispor das baterias para fazer carreira. Jamais se deixaria aviltar frente às multidões, vindas elas em trajos civis ou em uniforme.

Leitor Voraz

Desde que se inscrevera em 1779, ainda um garoto, na Escola Militar de Brienne, na Champanha, e depois para a de Paris, onde foi aluno do matemático Monge e de Dagelet, que incendiou sua imaginação com seu relato de viagens feitas pelo mundo, aquele pequeno corso de comportamento recluso, revelara-se um leitor voraz. Em Brienne, para poder ler em paz nos recreios, chegou a construir no pátio da escola uma pequena cabana com folhagens para que não o atrapalhassem. Foi assim, em meio aos intensos exercícios de matemática, que deixou-se embriagar pela conquista da cidade santa pelos cruzados, narrada por Tasso no Jerusalém Libertada, experimentando então “as primeiras emoções da glória”, como assegurou ao conde de Las Cases, o seu memorialista (Memorial de Santa Helena). Nada escapava à sua curiosidade. Além da sua paixão pela história e pela geografia, devorou Voltaire, Rousseau, D'Alembert, Mably, o padre Raynal com a mesma tranquilidade que passou pelos clássicos antigos, particularmente pelas máximas de Plutarco e por Tito Lívio, e pelos grandes do teatro francês: Racine, Corneille e Molière.


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