Complexo começou a se desenvolver em 2004 e teve ápice em 2013, quando havia 25 mil pessoas empregadas
ANGÉLICA SILVEIRA
asilveira@correiodopovo.com.br
Autoridades, população e lideranças se mobilizam para que o Polo Naval, que levou desenvolvimento a Rio Grande nos últimos anos, não gere mais desemprego e acabe. O temor vem em função da indefinição entre a Petrobras e a QGI quanto à construção das plataformas P-75 e P-77. A expectativa era que as obras tivessem se iniciado em outubro, mas devido a mudanças no projeto, que fizeram com que a QGI solicitasse aditivo de 8% no contrato de 1,6 bilhão de dólares, isso não ocorreu. QGI e Petrobras seguem negociando um acordo.
O prefeito Alexandre Lindenmeyer destaca que mais de 50% da extração de petróleo no país é feita em plataformas construídas no município. “A cidade tem boa logística, equipamentos de última geração e há perspectiva de longevidade da indústria naval em Rio Grande.” Ele afirma que as duas plataformas, licitadas e não iniciadas, geram cenário com inadimplência. “Fui a Brasília, participei de audiência pública. Quando o representante da Petrobras não confirmou as plataformas ao falar da importância da indústria naval, passamos a nos mobilizar com reuniões representantes de sindicatos, entidades, centro de indústrias, Furg, direção do arranjo produtivo e Câmara de Vereadores para que principalmente os trabalhadores não fossem atingidos”, destacou, lembrando que além dos empregos gerados, o Polo também se reflete em outros setores econômicos da cidade.
Entre os trabalhadores que podem ser afetados está o caldeiro montador Sandro Ramos Barros, de 38 anos. Ele saiu de Guaíba com a família em 2007 para trabalhar no Polo. “A cidade é boa, uma das melhores opções no Rio Grande do Sul para se viver. Se eu for para um lugar maior meu salário será mais baixo.” Pelo medo do desemprego, a esposa e as duas filhas voltaram para Guaíba. “Estavam todos muito bem adaptados, mas hoje eu trabalho, não se sabe o que pode ocorrer amanhã.”
O atual presidente da Câmara do Comércio da cidade. Torquato Ribeiro Fontes Neto, acredita que a situação é difícil, mas não impossível. “O clima é de insegurança, pela morosidade na negociação, mas positivo. Estamos pelo Polo Naval, insistindo com os envolvidos. Temos mão de obra formada na cidade, mas com a indefinição o município fica órfão.” O ex-presidente da Câmara do Comércio do Rio Grande e empresário Renan Guterres Lopes acredita que as investigações de desvios de dinheiro na Petrobras dificultaram para as empresas a busca de liberação de verbas e captação de investidores no mercado naval, o que refletiu na redução do número de empregos, que hoje está em 7,5 mil.
Conforme o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte, bento Gonçalves, a entidade entregou em fevereiro dossiê sobre o Polo Naval para a presidente Dilma Rousseff, para o ministro Miguel Rossetto, representantes da Petrobras e da bancada gaúcha na Câmara e Assembleia. “A empregabilidade é questão do governo, mas achamos por bem entrar nesta batalha, até pela grande mudança de vida do trabalhador em função de uma promessa que teríamos 30 anos de obras.”
Produção
O Polo Naval de Rio Grande começou a se desenvolver entre 2004 e 2005 e teve ápice em 2013 quando estavam sendo construídos sete cascos pela Ecovix, três navios sonda, e a Quip, atual QGI, estava fazendo três plataformas, a P-55, P-58 e P-63, que foram entregues no fim deste ano. Na época, na cidade havia 25 mil pessoas empregadas no Polo. Dois cascos da Ecovix foram entregues. Desde o início do Polo Naval, o índice de desenvolvimento humano da cidade duplicou duas vezes e meia chegando a 0,74.
Setor impulsionou investimentos
O Polo Naval vem contribuindo para o desenvolvimento da região de Rio Grande. A Fundação Universidade do Rio Grande (Furg) realizou estudo em que prevê, que, graças ao setor, o município deve dobrar sua população em 20 anos. Também foi previsto que o Produto Interno Bruto poderá tornar-se o segundo maior Estado. Foram realizados grandes investimentos em hotéis, alojamentos, empresas de transporte, restaurantes, táxis, chegando até mesmo a faltar imóveis para morar em Rio Grande, mesmo com o surgimento de novos hotéis e pousadas. Algumas famílias alugavam residências para trabalhadores.
Como o Polo Naval, Rio Grande recebeu seu primeiro shopping center e o segundo está para ser entregue ainda em 2015, foi duplicada a BR 392 entre Rio Grande e Pelotas e está em obra a duplicação da BR 116 entre Pelotas e Porto Alegre. Negociações envolvendo imóveis foram valorizados em função do Polo. “A minha empresa de transportes também escreveu. Antes tínhamos nove ônibus, agora são 90, mas com a indefinição estamos usando somente 30% da frota, assim como os hotéis e pousadas, que estão com 30% de sua ocupação”, lamenta o empresário Renan Lopes, que presta serviços da Ecovix transportando trabalhadores de Pelotas e dentro de Rio Grande.
Fonte: Correio do Povo, página 9 de 21 de junho de 2015.
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