Ramallah – O primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, apresentou ontem a demissão do governo de união do presidente Mahmu Abbas, em razão da crescente fratura entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza e do desafio representado pelas discussões que o Hamas estaria mantendo secretamente com Israel. “Abbas ordenou que Hamallah forme um novo governo”, declarou um conselheiro político de Abbas.
A renúncia pode abrir um período de incertezas ainda maior – e a divisão, não apenas geográfica dos territórios palestinos, parece cada vez mais pronunciada. A demissão seria uma consequência das divisões dos movimentos palestinos, apesar da reconciliação proclamada em 2014, e da incapacidade do governo de união nacional, formado para exercer sua autoridade na Faixa de Gaza. Desde 2014, o movimento islamita Hamas não deu nenhum sinal verdadeiro de que cederia o poder que ele tomou à força na Faixa de Gaza após a quase guerra civil de 2007 com o Tatah, laico e moderado, de Abbas.
As perspectivas de criação de um Estado palestino parecem cada vez mais distantes. A reconciliação proclamada não se traduziu em ação. Ontem, o Hamas reiterou oficialmente a dissolução “unilateral” do governo por iniciativa do presidente Mahmud Abbas. Um dos líderes pediu que Abbas substitua o governo - deliberadamente composto por tecnocratas apoiados pelo Fatah e pelo Hamas – por um governo mais político, “com todos os movimentos nacionais e islâmicos para enfrentar a ocupação israelense”. Grande parte da comunidade internacional se recusa a negociar com o Hamas, considerado uma organização terrorista pelos EUA, pela União Europeia e por Israel.
De fato, a Autoridade Palestina, órgão provisório criado em 1994 para governar todos os territórios palestinos, teve que se contentar em continuar governando a Cisjordânia, fisicamente separada da Faixa de Gaza pelo território israelense. Após anos de rupturas, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), dominada pelo Fatah, selou sua reconciliação com o Hamas em 23 de abril de 2014. Contudo, durante a guerra de 2014 com Israel na Faixa de Gaza, as divergências entre a Autoridade Palestina e o Hamas voltaram a se manifestar. O ápice deste conflito aconteceu quando o Hamas, sem o conhecimento da autoridade Palestina, teria negociado com o inimigo israelense por uma trégua duradoura na Faixa de Gaza.
Fonte: Correio do Povo, página 11 de 18 de junho de 2015.
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