segunda-feira, 15 de junho de 2015

Governo, demagogos e ostracismo, por Sebastião Melo

Os gregos, que inventaram a democracia, também desenvolveram mecanismos para protegê-la dos tiranos e demagogos. Por prevenção aos primeiros, instituíram o “ostracismo”.
Todo ano, a Assembleia – Ecclesia – se reunia e recebia a tarefa de elaborar uma lista com os nomes daqueles que poderiam vir a ameaçar a democracia com a sombra da tirania. Passados dois meses cada cidadão apresentava sua lista e quem recebesse mais de 6 mil votos – gravados numa ostra – era afastado da pólis por dez longos anos.
Contra os demagogos, os atenienses foram outra vez engenhosos. Calejados contra decisões desastrosas, arrancadas da Ecclesia na base da eloquência e das promessas que muitas vezes violavam as leis em nome do poder soberano do ovo, decidiram que eram responsáveis pelas decisões não só os demagogos, mas igualmente aqueles que os seguiam através dos votos, que passaram a ser colhidos de casa em casa.
Com essas providências, imaginaram os atenienses, a democracia passaria a ser o regime da “moderação”.
Passados tantos séculos, a cidadania brasileira como de resto de todo o mundo, sai às ruas, debate nas “Ecclesias” e nos Legislativos, nos cafés e nos bares, nos encontros de amigos e em reuniões de família, quais os instrumentos para recuperar o sentido original e singelo da política, que é associar as pessoas em torno de ações que melhores a vida nas comunidades. E nesse diálogo que se faz “juntos”, fazer da verdade e da responsabilidade pelos atos dos políticos as referências para o juízo coletivo.
Tomemos a realidade dos estados e municípios brasileiros. Diante da histórica centralização dos recursos no poder central, do aprofundamento dos problemas e desafios no campo e na cidade – especialmente em segurança, saúde e educação – , muitos candidatos continuam prometendo o que não poderão entregar quando governantes. Entre estes, alguns premidos pelas pressões que exigem o cumprimento das promessas, levam à falência as contas públicas e transferem a seus sucessores a responsabilidade pelos seus atos. Vejam como os atenienses eram sábios.
No caso do RS, o governador José Ivo Sartori fez uma opção clara, na campanha e no governo, pela moderação, traçando uma fronteira clara entre a sua responsabilidade como governante e a irresponsabilidade dos demagogos. Na situação em que as contas públicas do Estado se encontram tem, de fato, duas opções de curto prazo: ou busca o aplauso prometendo o que não pode entregar ou diz a verdade e toma as medidas amargas que podem, no médio e longo prazo, recolocar o RS no caminho do desenvolvimento sustentável.
Na primeira opção, os atenienses reservariam o ostracismo. Na segunda, o Panteão.

Vice-prefeito de Porto Alegre


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 6 de junho de 2015.

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