Os gregos, que
inventaram a democracia, também desenvolveram mecanismos para
protegê-la dos tiranos e demagogos. Por prevenção aos primeiros,
instituíram o “ostracismo”.
Todo ano, a Assembleia
– Ecclesia – se reunia e recebia a tarefa de elaborar uma lista
com os nomes daqueles que poderiam vir a ameaçar a democracia com a
sombra da tirania. Passados dois meses cada cidadão apresentava sua
lista e quem recebesse mais de 6 mil votos – gravados numa ostra –
era afastado da pólis por dez longos anos.
Contra os demagogos,
os atenienses foram outra vez engenhosos. Calejados contra decisões
desastrosas, arrancadas da Ecclesia na base da eloquência e das
promessas que muitas vezes violavam as leis em nome do poder soberano
do ovo, decidiram que eram responsáveis pelas decisões não só os
demagogos, mas igualmente aqueles que os seguiam através dos votos,
que passaram a ser colhidos de casa em casa.
Com essas
providências, imaginaram os atenienses, a democracia passaria a ser
o regime da “moderação”.
Passados tantos
séculos, a cidadania brasileira como de resto de todo o mundo, sai
às ruas, debate nas “Ecclesias” e nos Legislativos, nos cafés e
nos bares, nos encontros de amigos e em reuniões de família, quais
os instrumentos para recuperar o sentido original e singelo da
política, que é associar as pessoas em torno de ações que
melhores a vida nas comunidades. E nesse diálogo que se faz
“juntos”, fazer da verdade e da responsabilidade pelos atos dos
políticos as referências para o juízo coletivo.
Tomemos a realidade
dos estados e municípios brasileiros. Diante da histórica
centralização dos recursos no poder central, do aprofundamento dos
problemas e desafios no campo e na cidade – especialmente em
segurança, saúde e educação – , muitos candidatos continuam
prometendo o que não poderão entregar quando governantes. Entre
estes, alguns premidos pelas pressões que exigem o cumprimento das
promessas, levam à falência as contas públicas e transferem a seus
sucessores a responsabilidade pelos seus atos. Vejam como os
atenienses eram sábios.
No caso do RS, o
governador José Ivo Sartori fez uma opção clara, na campanha e no
governo, pela moderação, traçando uma fronteira clara entre a sua
responsabilidade como governante e a irresponsabilidade dos
demagogos. Na situação em que as contas públicas do Estado se
encontram tem, de fato, duas opções de curto prazo: ou busca o
aplauso prometendo o que não pode entregar ou diz a verdade e toma
as medidas amargas que podem, no médio e longo prazo, recolocar o RS
no caminho do desenvolvimento sustentável.
Na primeira opção,
os atenienses reservariam o ostracismo. Na segunda, o Panteão.
Vice-prefeito de Porto
Alegre
Fonte: Correio do Povo,
página 2 de 6 de junho de 2015.
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