Os recursos ambientais
estão chegando ao limite. Entre os problemas mais graves estão a
poluição e o desperdício da água. Os efeitos são sentidos em
alguns estados. O caso mais emblemático foi o de São Paulo, que
enfrenta crise no abastecimento. Porém, o Rio Grande do Sul já
passou por problemas parecidos no Vale do Sinos e na Campanha. No Dia
do Meio Ambiente, especialistas debatem soluções, e elas não
dependem só do poder público. Se cada um fizer a sua parte, é
possível minimizar os danos.
É necessária a
colaboração para diminuir os prejuízos causados pelos resíduos,
que se acumulam em aterros, rios, arroios e ruas das grandes cidades.
Cada habitante no Brasil produz, em média, mais de 1kg de lixo por
dia. Do total recolhido, 58% vão para aterros sanitários e só 13%
são reciclados.
Em Gravataí, a Escola
Estadual de Ensino Médio Padre Nunes está desenvolvendo um projeto
piloto que pode ser desenvolvido com baixo custo e por qualquer
pessoa, ou pequena empresa. Para economizar e reaproveitar água,
gerar energia limpa e utilizar o que seria jogado fora, professores e
estudantes incorporaram à rotina práticas sustentáveis. A
educadora ambiental do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais (IMA) da PUCRS, Letícia Paranhos, explica que a ideia é
adaptar as soluções à realidade da comunidade, de maneira fácil e
criativa.
O programa surgiu em
2011 com o apoio do IMA e do Comitê de Gestão Ambiental da PUCRS.
Na escola em Gravataí, os alunos ajudaram a construir uma cisterna
para armazenar 25 mil litros de água da chuva e utilizar na limpeza
e para regar as plantas. Hortas ecológicas foram feitas no colégio,
assim como utilização de lixo e placas de energia solar, produzidas
com caixas de leite e garrafas PET. A estudante Luana Claudino, 15
anos, participa das atividades. “A gente aprende e pode fazer o
mesmo em casa.”
Ecologia aliada à
produção
Entre as empresas com
práticas sustentáveis e ações para contribuir com a preservação
do meio ambiente, está a Celulose Riograndense. A nova planta em
Guaíba foi projetada com o objetivo de equilibrar a produção com
os cuidados com a natureza.
“Uma companhia como
a nossa tem que pensar sempre nas práticas sustentáveis de maneira
globalizada. Hoje colocamos celulose no mundo, e o mercado consumidor
procura cada vez mais produtos a partir desse aspecto”, declara o
diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes.
Conforme ele, as
práticas mundiais de referência no setor foram usadas na empresa.
“Temos o melhor em sistema de tratamento de emissões de gases,
líquidos e resíduos sólidos”, exemplifica. Do lixo produzido,
99,7% são reciclados.
“Há uma estação
de tratamento a cerca de 10 quilômetros da empresa. Os materiais
passam a ter uma utilidade e um valor. Geram-se empregos, ao mesmo
tempo em que se acomoda a questão ambiental”, explica.
A Celulose
Riograndense passou a fazer carbonato de cálcio ao deixar de emitir
monóxido de carbono, que contribuiria para efeito estufa. Já do
ponto de vista florestal, são preservados quase 150 mil hectares no
Estado. “É a empresa privada que tem mais área de preservação
do Rio Grande do Sul. Essas áreas estão em torno de nascentes e em
várias partes”, ressalta Lídio Nunes.
Em 2010, foi
instituída a Reserva Particular do Patrimônio Natural Barba Negra.
A Celulose tem compromisso de gerir a área de 2,4 mil hectares de
mata nativa dentro de sua propriedade, em Barra do Ribeiro.
“Associado a isso, temos programas de educação e para retirar
materiais dos rios. Fazemos ainda recuperação de áras de
preservação”, complementa.
É possível
compatibilizar o econômico, o social e o ambiental de forma
conjunta. “Temos que achar os pontos de equilíbrio”, observa
Lídio Nunes.
Futuros
administradores com visão ampla
Estudos nas linhas de
sustentabilidade e de educação vêm deslocando o foco econômico do
ramo da Administração de Empresas. As pesquisas estão mostrando
uma visão mais ampla das organizações em relação ao meio
ambiente, segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa de
Sustentabilidade e Inovação da Escola de Administração da
Universidade Federal do Rio Grande Sul (Ufrgs), Luis Felipe
Nascimento.
Uma das questões
avaliadas é a formação dos professores dessa área, como uma forma
de multiplicar a visão de gestão sustentável em organizações. “A
Administração é o curso com maior número de alunos, e esse é um
tema pouco explorado. São esses estudantes que farão a gestão das
empresas e dos órgãos públicos.” Para ele, os alunos que tiverem
informações sobre sustentabilidade em sala de aula poderão
reproduzir as práticas futuramente em suas profissões, dentro de
empresas, por exemplo.
O professor acredita
que os ensinamentos podem contribuir com a criação de empresas mais
conectadas com as demandas ambientais. “Não precisa criar uma
empresa só pensando em vender. A sustentabilidade é um conceito de
equilíbrio econômico, social e ambiental”, diz. As práticas
sempre compensam, e isso não ocorre necessariamente a longo prazo. É
possível obter retorno em pouco tempo.
“Na parte de
produção, por exemplo, custa barato”, afirma Nascimento. As
empresas que produzem menos lixo estão aproveitando mais a
matéria-prima e isso é o sinônimo de eficiência e redução dos
custos. “A motivação para as práticas é muitas vezes econômica,
não ambiental.”
O professor salienta
que existe preconceito com relação à sustentabilidade. “São
poucas as organizações pró-ativas que fazem além do que a
legislação estabelece”, afirma, relacionando isso com a ideia
errada de que trabalhar poluindo menos e gerando menos resíduos
custa caro. A maior motivação para as empresas mudarem é a
exigência do mercado. Por isso, é importante que consumidores
priorizem a compra de produtos fabricados com economia de recursos
naturais.
Fonte: Correio do Povo,
páginas 11 e 12 de 5 de junho de 2015.
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