segunda-feira, 15 de junho de 2015

Futuro do Planeta: Ações individuais que fazem a diferença

Os recursos ambientais estão chegando ao limite. Entre os problemas mais graves estão a poluição e o desperdício da água. Os efeitos são sentidos em alguns estados. O caso mais emblemático foi o de São Paulo, que enfrenta crise no abastecimento. Porém, o Rio Grande do Sul já passou por problemas parecidos no Vale do Sinos e na Campanha. No Dia do Meio Ambiente, especialistas debatem soluções, e elas não dependem só do poder público. Se cada um fizer a sua parte, é possível minimizar os danos.
É necessária a colaboração para diminuir os prejuízos causados pelos resíduos, que se acumulam em aterros, rios, arroios e ruas das grandes cidades. Cada habitante no Brasil produz, em média, mais de 1kg de lixo por dia. Do total recolhido, 58% vão para aterros sanitários e só 13% são reciclados.
Em Gravataí, a Escola Estadual de Ensino Médio Padre Nunes está desenvolvendo um projeto piloto que pode ser desenvolvido com baixo custo e por qualquer pessoa, ou pequena empresa. Para economizar e reaproveitar água, gerar energia limpa e utilizar o que seria jogado fora, professores e estudantes incorporaram à rotina práticas sustentáveis. A educadora ambiental do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IMA) da PUCRS, Letícia Paranhos, explica que a ideia é adaptar as soluções à realidade da comunidade, de maneira fácil e criativa.
O programa surgiu em 2011 com o apoio do IMA e do Comitê de Gestão Ambiental da PUCRS. Na escola em Gravataí, os alunos ajudaram a construir uma cisterna para armazenar 25 mil litros de água da chuva e utilizar na limpeza e para regar as plantas. Hortas ecológicas foram feitas no colégio, assim como utilização de lixo e placas de energia solar, produzidas com caixas de leite e garrafas PET. A estudante Luana Claudino, 15 anos, participa das atividades. “A gente aprende e pode fazer o mesmo em casa.”

Ecologia aliada à produção

Entre as empresas com práticas sustentáveis e ações para contribuir com a preservação do meio ambiente, está a Celulose Riograndense. A nova planta em Guaíba foi projetada com o objetivo de equilibrar a produção com os cuidados com a natureza.
“Uma companhia como a nossa tem que pensar sempre nas práticas sustentáveis de maneira globalizada. Hoje colocamos celulose no mundo, e o mercado consumidor procura cada vez mais produtos a partir desse aspecto”, declara o diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes.
Conforme ele, as práticas mundiais de referência no setor foram usadas na empresa. “Temos o melhor em sistema de tratamento de emissões de gases, líquidos e resíduos sólidos”, exemplifica. Do lixo produzido, 99,7% são reciclados.
“Há uma estação de tratamento a cerca de 10 quilômetros da empresa. Os materiais passam a ter uma utilidade e um valor. Geram-se empregos, ao mesmo tempo em que se acomoda a questão ambiental”, explica.
A Celulose Riograndense passou a fazer carbonato de cálcio ao deixar de emitir monóxido de carbono, que contribuiria para efeito estufa. Já do ponto de vista florestal, são preservados quase 150 mil hectares no Estado. “É a empresa privada que tem mais área de preservação do Rio Grande do Sul. Essas áreas estão em torno de nascentes e em várias partes”, ressalta Lídio Nunes.
Em 2010, foi instituída a Reserva Particular do Patrimônio Natural Barba Negra. A Celulose tem compromisso de gerir a área de 2,4 mil hectares de mata nativa dentro de sua propriedade, em Barra do Ribeiro. “Associado a isso, temos programas de educação e para retirar materiais dos rios. Fazemos ainda recuperação de áras de preservação”, complementa.
É possível compatibilizar o econômico, o social e o ambiental de forma conjunta. “Temos que achar os pontos de equilíbrio”, observa Lídio Nunes.


Futuros administradores com visão ampla

Estudos nas linhas de sustentabilidade e de educação vêm deslocando o foco econômico do ramo da Administração de Empresas. As pesquisas estão mostrando uma visão mais ampla das organizações em relação ao meio ambiente, segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa de Sustentabilidade e Inovação da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande Sul (Ufrgs), Luis Felipe Nascimento.
Uma das questões avaliadas é a formação dos professores dessa área, como uma forma de multiplicar a visão de gestão sustentável em organizações. “A Administração é o curso com maior número de alunos, e esse é um tema pouco explorado. São esses estudantes que farão a gestão das empresas e dos órgãos públicos.” Para ele, os alunos que tiverem informações sobre sustentabilidade em sala de aula poderão reproduzir as práticas futuramente em suas profissões, dentro de empresas, por exemplo.
O professor acredita que os ensinamentos podem contribuir com a criação de empresas mais conectadas com as demandas ambientais. “Não precisa criar uma empresa só pensando em vender. A sustentabilidade é um conceito de equilíbrio econômico, social e ambiental”, diz. As práticas sempre compensam, e isso não ocorre necessariamente a longo prazo. É possível obter retorno em pouco tempo.
“Na parte de produção, por exemplo, custa barato”, afirma Nascimento. As empresas que produzem menos lixo estão aproveitando mais a matéria-prima e isso é o sinônimo de eficiência e redução dos custos. “A motivação para as práticas é muitas vezes econômica, não ambiental.”
O professor salienta que existe preconceito com relação à sustentabilidade. “São poucas as organizações pró-ativas que fazem além do que a legislação estabelece”, afirma, relacionando isso com a ideia errada de que trabalhar poluindo menos e gerando menos resíduos custa caro. A maior motivação para as empresas mudarem é a exigência do mercado. Por isso, é importante que consumidores priorizem a compra de produtos fabricados com economia de recursos naturais.


Fonte: Correio do Povo, páginas 11 e 12 de 5 de junho de 2015.

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