A
iniciativa de negar e/ou tutelar a autonomia do professor chegou ao
parlamento. É fruto de uma esquizofrênica ideia de que os
professores brasileiros mal-intencionados, doutrinadores e
manipuladores ideológicos. E que nas escolas do Brasil há uma
contaminação de uma única ideologia. Com isso, deve-se criar uma
lei que diga que a escola não se educa, apenas se repassa conteúdos
programáticos. Educar seria tarefa exclusiva da família.
Na
Câmara Federal, o PL 867/2015, apensado no PL 7.180/2014, já foi
encaminhado à Comissão de Educação. O objetivo é coibir a
prática da doutrinação política e ideológica em sala de aula,
colocando cartazes nas escolas que digam que o professor deve tratar
de forma igual as principais versões de questões políticas,
socioculturais e econômicas, bem como não poderá contrariar as
convicções morais da família do aluno. Esta iniciativa reabre
sobre a possibilidade de “neutralidade” da ação educativa
desprovida da concepção política. Retirar da educação esse
caráter é privá-la de sua essência. O que é a escola senão um
espaço essencialmente político com vista à escolarização da
população, capacitando-a a ler e escrever, produzir conhecimentos
sobre o seu tempo e espaço e estimular sua autonomia de pensamento?
Toda a escola tem um projeto político-pedagógico e os professores,
dentro desses marcos, devem ter a liberdade de cátedra.
A escola
deve ser o lugar de ensinar a pensar, de fomentar a curiosidade, o
espanto, de criar a alegria de pensar, como diria o pensador Rubem
Alves. Como numa escola israelita, os professores devem divulgar com
neutralidade política e ideológica a tese de negação do
Holocausto? Como será debatido o tema da pena de morte numa escola
católica?
Sabemos
que há muita falta de limites entre as crianças que chegam à
escola. Esta deve ser parceira da família para ajudar na educação.
A escola não transmite só conhecimento, mas também pe um ambiente
educativo. Portanto, iniciativas como estas, propagandas pela ONG
Escola Sem Partido, são atrasadas e descontextualizadas do Brasil
contemporâneo, onde a democracia, a liberdade e a cidadania, devem
ser os referenciais da sociedade.
Professor
de Filosofia e História e Diretor do Sinpro/RS
Fonte:
Correio do Povo, da edição de 16 de junho de 2015, página 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário