domingo, 28 de junho de 2015

Cultura do 'eu paguei', por Gabriel Bocorny Guidotti

Não é preciso ir muito longe para observar que as empresas investem milhões em suas redes de relacionamento. A preocupação com o que o cliente diz a respeito do tratamento recebido, do produto comprado, constitui elemento de constante análise, a fim de aprimorar procedimentos e favorecer um conceito positivo,. Entretanto, nem sempre é possível obter uma percepção favorável. E consumidores estão cada vez mais exigentes, afinal, eles “pagam”.
Em diversos locais, noto uma crescente onda de destrato dos clientes para com os vendedores. Tudo bem que às vezes o serviço é rum ao ponto de tirar as pessoas do sério. Mas nem sempre é ruim. Também há falta de paciência de quem compra. Não consigo compreender essa situação. O fato de pagar garante ao pagador o poder de impositivo de apontar dedos, gritar e se portar de forma ofensiva? Não, é claro que não.
Creio que as pessoas, estressadas com as imposições massivas de nosso mundo, buscam subterfúgios, para descontar suas mágoas. E aí reside uma injustiça muito grande, pois os vendedores são indivíduos como outro qualquer. Eles sentem, por sua personalidade e por seu emprego, pois os dirigentes das empresas, igualmente, são impacientes para reclamações. Destarte, por mais que haja esforço e compenetração, não é garantido que tudo saia conforme o planejado. É assim a vida de todas as instituições.
Todavia, algumas pessoas arrogantes exageram. Tencionam o ambiente, tornando-se o centro das atenções por meio de seus impropérios ofensivos. Criam tempestades em copo d'água em face de pequenas ocorrências. Tudo porque a situação enveredou para o caminho imprevisto. É tão difícil admitir erros dos outros e seguir em frente? Erros acontecem tempo inteiro! São típicos de quem é humano. É humano – e divino – também saber perdoar, administrar a situação.
Você “pagou” e não recebeu o produto? Entenda que há muitas variáveis. Procure saber mais sobre o problema antes de praguejar. A relação solicitada está demorando para chegar? Já viu a quantidade de clientes que dispunham a atenção dos garçons? Talvez a atendente esteja avoada em razão da mãe, que está no hospital. Menos arrogância, por favor. O fato de você pagar não lhe torna onipotente. Reclame com cortesia, pois essa cultura do “eu paguei” não contribui às relações sociais. O respeito, sim, faz a diferença.

Bacharel em Direito, estudante de Jornalismo


Fonte: Correio do Povo, da edição de 19 de junho de 2015, página 2.  

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