sábado, 6 de junho de 2015

Breno e Pasqualini, por Christopher Goulart

Há alguns dias, procurando obras do doutrinador mais autorizado do trabalhismo brasileiro, sr. Alberto Pasqualini, ocorreu um fato inusitado, o qual gostaria de compartilhar com os leitores do Correio do Povo. Procurando nas livrarias - sebos do centro de Porto Alegre – , solicitei uma obra de Pasqualini. A resposta, num primeiro momento foi negativa e, quando já estava saindo, fui avisado que sim, havia uma única obra na livraria, encontrada no fundo do depósito do estabelecimento.
O vendedor estão trouxe-me o Clássico “Bases e Sugestões para uma Política Social”. No mesmo instante percebi que o livro era um exemplar bastante antigo. Páginas amareladas pelo tempo, porém, muito bem conservado. Feito o negócio, ao chegar em casa, naturalmente dediquei detalhadamente maior atenção ao livro, fonte obrigatória de leitura do trabalhismo, ontem, hoje e sempre. Qual foi a minha surpresa quando percebi que nele tinha uma dedicatória. Lá estava escrito: “ao caro amigo Breno, com o meu afetuoso abraço”. Data de 16/10/1948. E o mais incrível: a assinatura é do próprio Alberto Pasqualini, e “Breno”, ao que tudo indica, é o sr. Breno Caldas, jornalista que dirigiu por 49 anos o Correio do Povo.
Impossível não ser tomado por um sentimento de privilégio, considerando principalmente minha ligação direta com a história do trabalhismo. Pasqualini, um pensador muito além do seu tempo, por isso recomendado sempre, escreveu artigos de altíssimo nível durante muitos anos nas páginas do CP, de Breno Caldas, do Rio Grande do Sul. Razão pela qual ter a honra de narrar agora este encontro de tempos de histórias e de gerações aumenta minha noção de compromisso, sempre de acordo com a minha capacidade.
São acontecimentos como este que reforçam minha convicção que vem do positivismo de Alberto Comte, que ensina que “os vivos são sempre cada vez mais, necessariamente, governado pelos mortos”. Nunca acreditei em meras “coincidências”. Acredito sim em sinais, pois não é compreensível viver uma vida, imaginando não existir nada além do simples ato de vivermos sem nenhuma razão especial no mundo. Firmar referências de valores nos legados de nossos ancestrais, cientes de que a experiência pretérita fundamentada a caminhada que segue para frente.
Concluo prestando minhas homenagens a Breno Caldas e Alberto Pasqualini, com um trecho do pensamento de Pasqualini no discurso de sua campanha ao governo gaúcho em 1954: “A história dos povos se escreve com a biografia e às vezes com sangue dos seus grandes homens, daqueles que conduzem os acontecimentos, daqueles que contribuem com o seu pensamento e ação, para aperfeiçoar as instituições humanas, para aliviar os sofrimentos e as aflições do povo, para quebrar-lhes os grilhões da servidão social e econômica”. Obrigado Breno Caldas, obrigado Alberto Pasqualini.


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 2 de junho de 2015.

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