quinta-feira, 18 de junho de 2015

AS COLUNAS DE CEDRO

Aileda de Mattos Oliveira (03/6/2015)
A sabedoria foi uma dádiva recebida por Salomão, nascido no seio da natureza rude de Israel. Saber divino, acrescido da percepção dos benefícios e das asperezas do ambiente onde vivia, tudo, naquela esfera cultural, iria servir de simbolismo exemplar na sua vida de justo juiz de difíceis causas. A ética estava ali, na natureza, bastava querer vê-la.
Século XXI. Arrogantes juristas, olhos fixos nas vantagens financeiras, autojulgam-se sapientes na jurisprudência e encobrem a iniquidade com as pomposas capas que lhes caem dos ombros, compondo-lhes a pose. Condescendentes com o erro, são julgados pela voz do povo como defensores de interesses poderosos.
Salomão edificou palácios e neles levantou colunas de cedro. A Sala do Trono e a Sala do Julgamento eram forradas da mesma madeira até o teto, onde vigas também de cedro sustentavam-se sobre as colunas. Por que tal preferência, se o ouro reluz e enriquece o ambiente?
Simples. O cedro é o símbolo da incorruptibilidade, e o juiz não pode ser justo, se proferir o seu julgamento com meias verdades para usufruir de totais vantagens. O cedro lembrava a todos, juiz e julgados, que ali se praticava a justiça sem mancha, sem brecha, sem duvidosa interpretação.
Século XXI. O palácio do Supremo Tribunal Federal não tem colunas de cedro, nem vigas nem forro com tão poderosa madeira.
A tecnologia avançada dos botões e do deslizar acelerado dos dedos nos smartfones não pode aceitar a convivência da primária natureza. Em compensação, as interpretações cínicas invalidam prisões, põem em dúvida julgamentos de juiz honesto, mastigam-se as palavras das leis, libertam-se prisioneiros, tudo em nome da ‘velha amizade’.
As colunas de cedro do palácio de Salomão, simbolicamente lembravam a ereta e incorruptível conduta do juiz, afim de que o julgamento se fizesse justo dentro da justeza das leis.
A durabilidade do cedro ao não se deixar corromper nem com a chuva nem com o sol, destaca a rápida corrupção do homem ao simples ‘molhar’ de sua mão.
(Dr.ª em Língua Portuguesa. Vice-Presidente da Academia Brasileira de Defesa)

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