Durante o período de
desunião, a falta de ortodoxia central permitiu que as Seis
Dinastias do Sul, a maior parte com capital em Nanjing, e os
Dezesseis Reinos do Norte se diferenciassem e inovassem. O budismo e
o daoísmo inspiravam artistas, filósofos e escritores. Muitas
histórias dinásticas referem-se às efêmeras pequenas dinastias
dessa era.
Os três séculos das
dinastias Sui-Tang (589-907) finalmente restabeleceram o ideal chinês
de unidade desenvolvido sob os Han. O Norte da China fora devastado
pelas invasões nômades, enquanto o Sul do país ao longo do Yangzi
tinha prosperado de forma relativamente pacífica. Os sessenta
milhões de pessoas estimados sob a dinastia Han no ano 2 d.C.
(principalmente no Norte da China) tinham sido reduzidos em números,
mas a migração de famílias Han para o Sul começara a mudar o
centro da gravidade da China. Na época moderna, o Sul da China
abrigaria dois terços da população chinesa. Porém, do século VI
ao X a grande massa popular da China ainda habitava a planície do
Norte, facilmente unificada, onde foi constatada uma grande
quantidade de prefeituras, cada uma com cem mil moradias (digamos,
quinhentas mil pessoas). Conforme assinalado por Mark Elvin (Bluden e
Elvin, 1983), ao Império Romano “faltou uma região dominante e
consolidada que se comparasse”. A centralidade do Norte da China e
a enorme população eram um fator de união. Quem quer que a
controlasse poderia facilmente subjugar as demais áreas, incluindo o
Sul da China.
Os fundadores das
dinastias Sul e Tang tinham se casado com famílias de tribos nômades
achinesadas. Agora eram as famílias aristocráticas do Noroeste da
China, localizando-se especialmente na atual província de Shanxi e
na região da antiga capital que ia do vale Wei, passando pelo lado
sul do rio Amarelo, até a planície do Norte da China. Assim como os
Zhous e os Qin, essa área ao noroeste obtinha sua força militar dos
povos nômades. Dos pastores das pradarias, os chineses compravam
cavalos para batalhas de cavalarias, calças para montar com as
pernas separadas, selas e, depois, estribos, além de arreios e, por
fim, a coleira, que seria cópia do Ocidente. As relações desses
clãs com a Ásia Central no comércio e na dilomacia eram próximas
e influentes muito antes da reunificação Sui-Tang dentro da China.
O fundador dos Sui
permanecia a uma família Yang parcialmente nômade com a residência
a meio caminho entre as duas antigas capitais dos Zhou e dosHan,
Chang'an e Luoyang. O fundador da dinastia Tang era, da mesma forma,
um descendente de uma família Li de origens militares turcas e
status aristocrático. Esses aristocratas militares tinham se casado
tanto com os chineses como com familiares um do outro, formando um
grande grupo homogêneo de hindus à altura das empreitadas
dispendiosas de conquistas e administração. Os reis nômades do
Norte da China adotaram de forma tão zelosa maneiras chinesas,
incluindo idioma, vestimentas e métodos de governo, que seus estados
híbridos pareciam ser, nos registros históricos, propriamente
chineses.
O último dos
Dezesseis Reinos já haviam unificado o Norte da China quando o
fundador dos Sui Tomou o poder em 581. Elaborou rapidamente um novo
código judicial com quinhentos artigos, impôs a ordem do governo
local e deu continuidade a diversas instituições iniciadas por
reinos anteriores. Entre estas estava o sistema de “Campo
igualitário” que deveria, a cada ano, reservar vários acres de
terra cultivável a cada homem adulto. Ele também continuou com o
sistema de responsabilidade coletiva por grupos de residências, as
milícias com administração territorial e as colônias agrícolas
militares na fronteira. A burocracia unificada resultou no
recebimento de impostos; silos de ajuste de preços compravam grãos
nos tempos de fatura e os vendiam barato em tempos de carestia. Nesse
ínterim, os monastérios budistas tornavam-se grandes latifundiários
de influência crescente. A devotada patronagem do imperador criou
(nas palavras de Arthur Wright) um “budismo imperial”.
A conquista do Sul
pelos Sui ao longo do Yangzi não foi muito destrutiva, e o segundo
imperador, Sui Yangdi, conseguiu mobilizar os recursos do império
para grandes projetos. Um foi a ampliação do Grande Canal desde o
norte de Hangzhou, e então até o noroeste na região Luoyang. Em
609, ele foi estendido em direção ao nordeste, para a região de
Tiajin e Beijing, Utilizando os riachos e lagos locais, o transporte
de balsa podia levar mantimentos e mercadorias do baixo Yangzi até o
Norte da China para fortalecer a fronteira norte, além de alimentar
a área da capital. Foram construídos grandes silos (cada um podia
armazenar 33 milhões de alqueires).
Essa desordenada
explosão de energia sob um imperador com visões de grandeza já
inspirou comparações entre os reinos de vida efêmera de Sui Yngdi
e Qin Shihuang, dois que excederam. A tentativa de conquista da
Coreia por Yangdi esgotou seus recursos, e essa derrota contribuiu
para desanimar a rebelião e ocasionar sua perda do mandato.
Os fundadores da
dinastia Tang foram mais prudentes. Herdaram as conquistas dos Sui,
incluindo a enorme capital de oito por nove quilômetros. Chang'an, e
a capital secundária, Luoyang. Enquanto os departamentos
administrativos da dinastia Han tinham coordenado os assuntos
palacianos e dinásticos familiares lado a lado com os assuntos de
interesse geral da nação, os Sui e os Tang estabeleceram seis
ministérios – administração pessoal, fazenda, ritos, exércitos,
justiça e obras públicas – que formariam as principais divisões
do governo chinês até 1900. Outros órgãos incluíam a censura,
que analisava relatórios sobre a conduta oficial e até mesmo a
imperial, e uma versão primitiva do sistema de exames oficiais.
No governo do segundo
imperador, os exércitos Tang espelharam-se pelo exterior em todas as
direções, derrotando os coreanos, expandindo-se ao sul pelo norte
do Vietnã e, principalmente, forçando seu domínio na Ásia Central
até que houvesse prefeituras chinesas funcionando a oeste dos
Pamirs. Essa expansão dos Tang pelas cidades comerciais dos Oásis
da Rota da Seda abriu caminho para um maior contato com a Ásia
Ocidental. A capital dos Tang em Chang'an tornou-se uma grande
metrópole internacional, um marco do mundo eurasiano. Entre 600 e
900, nenhuma capital ocidental ganhava dela em tamanho e esplendor.
A destreza militar dos
Tang equiparava-se às conquistas nas belas-artes e na literatura. A
poesia Tang tornou-se modelo para períodos posteriores o vigor
criativo dos Tang permitiu-lhes ser uma sociedade mais aberta,
aceitando estrangeiros do Japão, Coreia e Vietnã em sua vida
urbana, bem como da Pérsia e da Ásia Ocidental. O budismo tinha
acrescentado uma outra dimensão à herança Tang dos Han. Os estados
mais recentes que emergiram na Ásia Central baseavam suas
instituições nos Tang.
Fonte: China – Uma
Nova História, páginas 85, 86 e 87.
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