Mais ou menos ao tempo
em que Babeuf recém saíra dos cárceres dos jacobinos, onde
esperara uma condenação que não veio, o poeta Sylvain Maréchal,
um outro radical, talvez mais nivelador do que ele, escrevia em 1796
o seu candente Minisfeste des Égaux, o Manifesto dos Iguais,
no qual dizia, ao dirigir-se num belo tom oratório ao povo da
França, que a Revolução de
1789, era apenas um heraldo da verdadeira revolução que
iria brevemente ocorrer, “maior, bem mais solene, a que seria a
última delas todas”, a que traria a igualdade de fato para a
humanidade. Que o povo não desse atenção aos que diziam que a
igualdade era uma quimera, uma fantasia irrealizável, e que a única
possível era aquela alcançada perante a lei. Se o povo marchara
sobre o corpo do rei e dos padres, também o fará sobre o dos
tiranos recentes, os novos políticos hipócritas que assumiram o
lugar dos antigos. Cidadãos, exclamou ele, “não importa que todas
as artes pereçam se assim for necessário para que a verdadeira
igualdade se afirme entre nós”.
Uma lei agrária
permitirá a instauração da comunidade dos bens, pois a terra não
pertence a ninguém. Demandamos, desejamos, o usufruto em comum dos
frutos da terra: “os frutos pertencem a todos”. Não vamos mais
tolerar que a grande maioria dos homens labutem e suem ao serviço e
ao prazer de uma insignificante minoria. A posteridade não irá
acreditar nesse grande escândalo. Que desapareçam enfim “as
diferenças entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre
senhores e escravos, governantes e governados”. Se todos estão
satisfeitos em ter o Sol e o ar em comum, porque não aceitar a mesma
porção e a mesma qualidade de alimentos para todos? O caos até
então reinante na história da humanidade será sucedido pela ordem
que tomará o seu lugar de direito. Deixem os elementos da justiça e
da felicidade serem organizados em resposta à voz da igualdade. Era
esse o momento para fundar a República dos Iguais: o grande refúgio
aberto a todos os homens. O dia da restituição geral e chegou as
famílias sofreras sentarão por fim na mesa em comum que a Natureza
preparou para todos os seus filhos.
Frnaçois Noël
torna-se Graco
Como não podia deixar
de ser, os destinos de Babeuf e de Maréchal não demoraram a se
encontrar. Babeuf ao ser solto voltou-se imediatamente para o
jornalismo político, abraçando a causa da igualdade. Parece que só
então ele deu-se conta que a queda de Robespierre havia enfraquecido
a causa dos radicais. Não tardou em ser novamente preso, só que
dessa vez pelo Diretório (1795-1799). O regime que havia sucedido a
ditadura jacobina, acusou-o de tentar lançar o povo, com seus
artigos no jornal Le Tribun du Peuple, as autoridades
legítimas. Foi dessa vez, nessa segunda feita em que o encarceraram,
que ele resolveu adotar o nome do líder dos plebeus romanos à época
da República, denominando-se de “Graco” Babeuf. Na prisão,
encontrando-se com ex-jacobinos e outros radicais, gente que seguira
Marat, Hébert e Robespierre, tornou-se pela ideia de uma grande
conspiração para por abaixo o governo do Diretório e dar os
primeiros passos para a implementação da República dos Iguais. O
grupo, além de fundar a Sociedade do Panteão, já tinha um
manifesto e um propósito, faltava partir para a ação.
O Plano do Golpe
Em vista da apatia das
massas (exaustas pela tensão causada por sete anos de intensas lutas
políticas, por estrondosas polêmicas, por enfrentamentos com os
contrarrevolucionários, ela mobilização geral para deter a invasão
estrangeira da França, e pelas matanças do terror jacobino), os
revolucionários reunidos por Babeuf decidiram-se assumir o poder por
meio de um golpe. As massas só acompanhariam, assim esperavam,
depois do sucesso da tentativa deles de acabarem com o Diretório,
regime burguês por excelência. Dessa forma os babovistas terminaram
por elaborar uma técnica do golpe de Estado que irá influenciar. Os
movimentos revolucionários no século e meio seguinte. Novamente
libertado, Graco Babeuf tratou então de organizar uma pequena
comissão responsável pelos preparativos do putsh: o Diretório
Secreto da Segurança Pública, composto por sete membros (Babeuf,
Debon, Sylvain Maréchal, Félix le Peletier, Darthé e Filippo
Buonarroti).
O dia marcado para o
levante – o Dia “J” foi fixado para 8 de maio de 1796, quando
uma concentração programada por babovistas e jacobinos que estavam
na clandestinidade, junto com os comitês militares insurgentes,
mobilizaria uns 17 mil homens para tomar de assalto o Diretório,
restaurando a Constituição de 1793, considerada por Babeuf e os
seus próximos como a mais democrática de todas.
Fonte: História por
Voltaire Schilling
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